Marcelo Barros
As megaeleições
que mobilizaram a Venezuela no domingo 21 de novembro foram demonstração de uma
democracia popular que funciona, mesmo no meio da guerra implacável que o governo
dos Estados Unidos e seus aliados movem contra esse país. O resultado dessas eleições
comprova que, apesar de todos os problemas que enfrenta, o povo da Venezuela
acredita no processo do Bolivarianismo e aprova o governo que o leva adiante. Apesar
da guerra econômica que impede o governo venezuelano de receber os pagamentos
até do petróleo que vende fora do país e mesmo em meio ao bloqueio econômico
que não deixa entrar no país nem as matérias primas para medicamentos
indispensáveis à vida, a Venezuela resiste. Apesar de todas a guerra de
informações falsas, a Venezuela realizou sua 29ª eleição geral desde 1998,
quando o presidente Chávez concorreu às eleições e venceu pela primeira vez. Desta
vez, o povo venezuelano elegeu governadores, prefeitos e câmaras legislativas
estaduais e municipais.
Mais uma vez, a
imprensa internacional fez tudo para desmoralizar o processo eleitoral. A União
Europeia mandou mais de cem observadores internacionais. Dos Estados Unidos,
veio uma delegação de técnicos comprometidos com a direita internacional. Além
disso, 110 ONGs se fizeram presentes como observadoras. Nas mais diferentes
regiões do país, durante todo o dia da eleição, podiam entrar em todos os
locais de votação. Participaram do processo de contagem dos votos com direito
de intervenção, se percebessem alguma irregularidade. Não puderam fazer nenhuma
denúncia contra a lisura do pleito. Não apontaram nenhuma falha.
Se as agências
internacionais de notícias pudessem evocar quaisquer irregularidades, esses
escândalos estariam nas primeiras páginas de todos os jornais. Como nada
puderam descobrir de errado, os jornais fazem de conta que não aconteceu nada. Não
aceitam reconhecer que o governo bolivariano e o processo político iniciado sob
a liderança do presidente Hugo Chávez e continuado hoje sob a condução de
Nicolas Maduro conquistou a vitória elegendo 20 dos 23 governadores eleitos.
Também ganhou 205 prefeituras das 335 que entraram na disputa e na maioria dos
estados e municípios fez bom número de legisladores. Houve problemas no estado
de Barinas e ali haverá novas eleições marcadas para o domingo 09 de janeiro.
Para nós,
latino-americanos, por vários motivos, a vitória do processo bolivariano nas
eleições da Venezuela é boa notícia. Primeiramente porque se o país fosse
realmente o horror que a grande imprensa brasileira apresenta, dificilmente
seria possível uma vitória tão expressiva. Em segundo lugar, porque, se depois
de tantos anos de guerra e bloqueio que os Estados Unidos fazem ao país, o povo
venezuelano opta pelo atual governo, confirma o fato de que, o império tem
muita força e poder, mas não consegue comprar a dignidade de um povo. Mesmo se
suas armas são mortais e cruéis, não podem assassinar o sonho da liberdade e da
justiça eco-social, tão bem concretizadas na Constituição da República
Bolivariana da Venezuela. Finalmente, podemos sim nos alegrar porque se a
Venezuela consegue dizer Não ao império e permanecer fiel à sua vocação, toda a
América Latina e Caribe podem manter a esperança de sua integração comunitária
e sua libertação de todos os imperialismos.
O excelente
resultado dessas eleições é um modo dos irmãos e irmãs venezuelanos celebrarem neste
próximo 17 de dezembro o 191º aniversário da morte de Simon Bolívar, o
libertador que no começo do século XIX já nos propunha a descolonização, hoje
expressa no “pensamento decolonial”. Ao consagrar a sua vida e a conquistar a
libertação de seis países do continente, Bolívar cumpriu o juramento feito em
Roma, aos 22 anos. Ele jurava que não descansaria até ver a América Latina
libertada do império espanhol. Ele que nasceu de uma das famílias mais ricas da
Venezuela, se despojou de toda a riqueza e se consagrou à libertação dos povos.
Morreu pobre e fragilizado, aos 47 anos, no dia 17 de dezembro de 1830,
deixando-nos como herança o sonho da integração continental e do pleno
reconhecimento da dignidade humana e da libertação de todos os povos.
Muito obrigado
ao governo e ao povo da Venezuela por reacender em nós este projeto de vida e
fraternidade social.
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 57
livros dos quais o mais recente é "Teologias da Libertação para os nossos
dias", Ed. Vozes, 2019. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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