Fabio Potiguar dos Santos
Eu vou fazer uma canção
pra ela. Uma canção singela, brasileira. Para lançar depois do carnaval. Eu vou
fazer um iê iê iê romântico. Um anticomputador sentimental. Eu vou fazer uma
canção de amor. Para gravar num disco
voador. Eu vou fazer uma canção de amor. Para gravar num disco voador. Uma
canção dizendo tudo a ela. Que ainda estou sozinho, apaixonado. Para lançar no
espaço sideral
Caetano Veloso canta na sua
música “Não Identificado”, gravado por ele em 1969 e um ano antes, por nada
mais nada menos pelo corpo e voz de Gal Costa, que ele, o filho de Dona Canô, ia gravar um disco não numa gravadora e tão
pouco lançar na rádio ou na televisão. Esse cara é genial! Conectado lá e, que
o diga, logado mais ainda agora no seu último álbum. Tá ligado? Penso e sinto o
mesmo. É preciso inventar e se reinventar o tempo todo, principalmente desde de
agosto de 2016 pra cá. Precisamos mais do que a lua se reinventar nova,
crescente, gibosa, cheia, minguante. Teimosamente se inventar cotidianamente
com o sol. Esta canção se tornou para
mim como um hino de ano novo.
Mais do que nunca, com o
avanço das iníquas ondas do nazifascismo cheias de ódio é
preciso inventividade intelectual e afetiva proposta por esta canção. Igualmente,
com o aumento da pobreza e o desequilíbrio ecológico pautados por uma agenda
econômica ultra neoliberal, é necessária muita criatividade cheia de
amorosidade, sabedoria e força para o enfrentamento das injustiças ecosociais
que a humanidade clama e a terra geme. Ao mesmo tempo, com o adoençamento
físico, psíquico e espiritual que nos entristece e nos angustia, que nos
deprime e causa ansiedades e outras dores, a gente tem que ter mesmo esse engenho
de gravar um disco voador e lançá-lo no espaço sideral com uma canção de amor,
brasileira.
Cantar de Caetano a Dalva
de Oliveira que naquela “Marcha de quarta-feira de Cinzas” não via mais ninguém
a sorrir, a se abraçar, a se beijar, a cantar e a dançar cantigas de amor, mas,
nos juntamos agora eu e você, leitora e leitora amiga/a a essa Diva, e cheia de
esperança entoava fortemente que, no entanto, é preciso cantar “Mais que nunca
é preciso cantar. É preciso cantar. E alegrar a cidade. A tristeza que a gente
tem. Qualquer dia vai se acaba. Todos vão sorrir. Voltou a esperança. É o povo
que dança. Contente da vida feliz a cantar”. Das folhas cibernéticas deste
artigo ainda que o ódio, mesmo que as agressões e mesmo assim com tantos
opressores e oprimidos no país e no mundo, nós, sem alienação, “enquanto houver
espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não, eu canto”, Belchior, pois a
gente via sorrir de novo. “Vê, como é
bonita a vida. Vê, há esperança ainda. Vê, as nuvens vão passando. Vê, um novo
céu se abrindo. Vê, o sol iluminando. Por onde nós vamos indo”. Que tal a gente
escutá-las em uma dessas plataformas digitais?
2022. Vamos gravar num
disco voador, muita criatividade. 2022. Vamos lançar músicas no espaço sideral,
bastante inventividade. 2022. Vamos cantar
uma canção de amor copiosas engenhosidades. Canta, Santo Amaro! Melhor, canta,
Natal! Canta, Recife! Canta, Brasil e mundo inteiro porque “a verdade e o amor
se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão” como na canção tão antiga e tão
nova do Salmo 85. A frase de começo desta
canção de amor será a mesma do início do livro bíblico dos Cânticos dos Cânticos,
do Amado cantando para Amada, “beija-me com os beijos de tua boca”. Quando a
gente estiver cantando e dançando em ciranda
e coco, frevo e maracatu, samba e
bossa, baião e xaxado, funk e rap, reggae e brega, clássica e pop, forró e rock
roll e toda diversidade musical, me lembrarei dos salmistas bailando com
címbalos sonoros o Salmo 25 “Quando o Senhor reconduziu nossos cativos,
parecíamos sonhar; encheu-se de sorriso nossa boca, nossos lábios, de canções”.
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