Prof. Martinho Condini
Em meados da primeira
década do século XX, fomos surpreendidos com o escândalo do mensalão onde vários partidos políticos estiveram
envolvidos, mas o que mais chamou a atenção da imprensa e da sociedade civil foi
o Partido dos Trabalhadores. Isso
porque a imagem de seus parlamentares em sua grande maioria, por décadas foi
sempre de uma trajetória ilibada.
Após o escândalo do mensalão, petistas raízes, abandonaram
o Partido e foram alçar vôos em outros ou criar novos.
Essa postura me incomoda
muito, mas é claro que todos nós somos livres para fazermos nossas escolhas,
mas tem algumas coisas que você se afina de tal maneira que a sua relação com ela
se torna algo muito intenso, por exemplo: um time de futebol ou um partido
político, que ultrapassa o gostar. A não ser que por de traz da paixão e da
afinidade ideológica há outros interesses. Essa paixão ou afinidade ideológica
que faz com que as pessoas permaneçam ao lado do seu clube ou do partido
político de sua preferência e identidade.
Imagina se torcedores de
um time de futebol o abandonasse porque ele perdeu um título, ou foi rebaixado
ou ficasse décadas sem ganhar um título? Ou até abandoná-lo porque ele nunca
ganhou um título em toda a sua história. Isso só demonstra que esses torcedores
não são torcedores de verdade, porque se o fossem ficaria ao lado do clube
ajudando-o de alguma maneira a sair do atoleiro em que se encontra.
A mesma coisa em relação
ao partido político, a cada denúncia que um partido político recebe, ainda nas
investigações, alguns de seus membros o abandonam com a justificativa de que
ele não tem a pecha desses que estão sendo acusados. E pelo fato de serem honestos e éticos, ,
saem do partido que não só ajudaram a construir, mas tem com ele uma enorme
identidade ideológica. Ou pelo menos
parecia que havia.
São nessas atitudes de
abandono do partido político que eu quero chegar.
Fico muito ressabiado com
essas atitudes num partido como o Partido dos Trabalhadores (em outros partidos
para mim, esse abandono é natural), pela sua história, que foi marcada pelas
lutas, resistências, utopias e esperanças, além das realizações ao chegar ao
poder.
De repente na primeira
invertida de grandes proporções, os mais
honestos, dão linha (como se diz
na gíria dos que empinam Pipa, Papagaio, Maranhão, etc.), vão embora para muito
longe.
Como eu já disse lá no
início, todos nós temos a liberdade de escolha, mas essas atitudes são para mim
no mínimo estranhas e que demonstram uma fragilidade daqueles que o abandonam.
E sempre ficará aquela desconfiança, o que
é isso companheiro? Será que posso contar com você?
Acredito que esses que
tomaram outros rumos, se realmente reconheciam no Partido dos Trabalhadores um
instrumento de luta e transformação, deveriam ter permanecido e contribuir com
suas ideias e opiniões e mostrar que a entidade partidária é mais importante
que os seus mandatos, não ao contrário.
Enfim, o arcebispo
emérito de Olinda e Recife, Dom Helder Camara1 dizia: “quem ama de
verdade, reconhece os erros da pessoa ou instituição amada, e continua amá-la”.
* O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com
Gratidão pelo texto, mestre! Paz e bem!
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