Marcelo Barros
Nestes dias, costumamos compartilhar entre nós os
melhores votos para este ano que vai começar. No entanto, não basta formular
desejos de feliz ano novo para que, magicamente, o tempo traga alegria e vida
mais feliz. De fato, como falar em paz e justiça, como tornar verdadeiros os
votos de feliz ano novo em um mundo no qual, apenas duas mil pessoas
superprivilegiadas possuem o mesmo que quatro bilhões e setecentos milhões de
seres humanos?
Pelos atuais
cálculos da FAO, organização da ONU contra a fome, a cada minuto, ao menos onze
pessoas no mundo podem morrer de fome. Mesmo nos Estados Unidos, em meio à ilha
de riqueza, prosperidade e ostentação, se calculam que, neste momento, 50
milhões de pessoas vivem em condições de grande pobreza. Ao mesmo tempo, o
mundo afunda em uma crise ambiental cada vez mais profunda e não parece
libertar-se agora da pandemia. Isso sem falar na tragédia das migrações.
Em meio a essa realidade, na última década, é
inexplicável que, em todos os continentes, os governos tenham duplicado suas
despesas militares. Para 2022, o orçamento a ser gasto com armamentos chega a
dois trilhões de dólares. As grandes potências projetam armas com raios
invisíveis que influenciam diretamente a mente das pessoas e constroem robôs
inteligentes, capazes de decidir o momento de atacar e têm autonomia para matar
seres humanos.
No Brasil, a imprensa noticia que um coletivo de
empresários continua apoiando o atual governo. A elite financeira colabora
ativamente para que o Brasil e o continente latino-americano se mantenham com
governos de extrema-direita que cultuam Hitler, Mussolini e ditaduras
militares. Ao mesmo tempo, em todas as Igrejas, crescem setores e movimentos
religiosos que cultuam Deus como se fosse símbolo do poder ditatorial e dos
privilégios de classe, raça e sexo.
De fato, há quem se pergunte se o Brasil tem saída e
se o mundo atual ainda tem salvação. Nossa esperança não vem de uma análise da
realidade, pois esta, para ser verdadeira, só pode ser muito pessimista. Nossa
esperança vem da nossa fé na vida, no ser humano e no Amor Divino que fecunda o
universo e está adormecido no coração das pessoas. Assim como a saúde da árvore
está principalmente nas raízes, as opções fundamentais da sociedade são
alicerçadas na cultura. O Capitalismo, antes de ser um sistema econômico no
qual tudo, até as pessoas têm preço, é uma cultura, um modo de olhar a vida. Se
trabalhamos para transformar essa cultura, podemos confiar na possibilidade de
transformar o mundo. No ano passado, em sua mensagem, o papa tinha proposto a
"cultura do cuidado para erradicar a
cultura da indiferença, do descarte e do conflito, que hoje muitas vezes parece
prevalecer". Neste ano, em sua mensagem para o dia 1º de janeiro, Dia
Mundial da Paz, o papa propõe: "Educação,
trabalho, diálogo entre as gerações: instrumentos para a construção de uma paz
duradoura".
Os movimentos populares sabem que essa transformação
provocada pela educação, pelo diálogo entre as gerações e pela valorização do
trabalho não ocorrerá de cima para baixo. Não será feito por programas
governamentais e sim a partir das bases da sociedade.
Nestes dias, o Cristianismo celebra a memória do
nascimento de Jesus. É um modo de proclamar que a salvação da humanidade vem
das periferias do mundo e da pequenez de um presépio. É preciso que cada
um/cada uma de nós redescubra no mais fundo do seu ser o presépio de palhas
que, mesmo pobre, acalenta o ser humano novo que nasce em nós e para um novo
mundo possível. Como dizia na Índia, o Mahatma Gandhi: Comece por você a mudança que deseja para o mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário