Por Leonardo Boff
Dona Marisa Letícia, esposa do
ex-presidente Lula, morreu num contexto politico conturbado. Nas palavras do
próprio Lula, “ela morreu triste” e também traumatizada.
Diz-se que todas as instituições
funcionam. Mas não se qualifica o seu funcionamento. Funcionam mal. Em outras
palavras não funcionam. Se tomamos como referência a mais alta corte da nação,
o STF ai fica claro que as instituições estão corrompidas, incluindo a PF e o
MP. Especialmente o STF é atravessado por interesses politicos e um dos seus ministros,
de forma escancarada, rompe diretamente a ética de todo magistrado, falando
criticando, atacando fora dos autos e tomando claramente posição por um
partido; nada acontece, no nosso vale tudo jurídico, quando deveria sentir o
rigor da lei e sofrer um impeachment. Esta situação é um sinal inequívoco que
estamos numa derrocada política, ética e institucional. O Brasil vai de mal a
pior pois todos os dias os itens sociais e politicos se deterioram. E havia
senadores e deputados de poucas luzes que propalavam que com a derrubada do PT
o Brasil entraria uma nova primavera de progresso.
O que nos parece mais grave é o fato
de que se instaurou um real estado de sítio judicial. A
operação Lava-Jato mostrou juizes justiceiros que usam o direito como instrumento
de perseguição, no caso do PT e diretamente do ex-presidente Lula. A Polícia
Federal, bem no estilo da SS nazista, entrou casa adentro da família Lula,
revistaram cada canto, reviraram o colção, remexeram a penteadeira de Dona
Marisa, revolveram a geladeira, carregaram o que puderam e levaram sob vara,
pois é esta a expressão correta, quer dizer, coercitivamente o ex-presidente
Lula para interrogatório numa delegacia do aeroporto.
Tal ato de violência física e
simbólica traumatizou a ex-primeira dama. Maior foi o trauma quando foi
indiciada como criminosa na operação Lava Jato junto com o marido. Isso a
encheu de medo e alterou todo seu estado de saúde.
Como se não bastassem aquilo que
escreveu corajosamente jornalista Hidegard Angel em seu blog na internet “os
oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de deboches, ofensas de todo jeito,
ridicularia, referências mordazes, críticas cruéis, calúnias até. E sem o
conforto das contrapartidas”. E faço minhas as palavra de Hildegard Angel, pois
representam o que posso testemunhar em mais de 30 anos de amizade entranhável
com Dona Marisa e Lula: “Foi companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo
todo. Foi amável e cordial com todos que dela se aproximaram. Não há um único
relato de episódio de arrogância ou desfeita feita por ela a alguém, como
primeira-dama do país. A dona de casa que cuida do jardim, planta horta,
sepreocupa com a dieta do maridão e protege a família formou com Lula, um
verdadeiro casal”.
Criticam-na porque como primeira dama
não assumiu funções públicas. Mas poucos sabem que foi ela que restitituíu a
forma original do palácio do Planalto, resgatando os móveis e tapetes que
haviam sido doados a ministros e a outross departamentos. Ela possuía elevado
sentido estético. Foi fundamental na reforma da Catedral que acompanhou passo a
passo.
Finalmente, foi ela que introduziu no
Torto as festas da cultura popular, a celebração de seus santos de devopção que
são da maioria do povo brasileiro, Santo Antônio e São João. Lá organizou o
carnaval bem no estilo do povo, com as bandeirinhas, a procissão e o pau de
sebo. Escândalo da burguesia descolada de nossas raízes e envergonhada de
nossas tradições.
Ela sofreu um AVC que foi fatal.
Visitei-a na UTI, falei-lhe ao ouvido (dizem que mesmo em coma o ouvido ainda
funciona) palavras de confiança e de entrega ao Deus Pai e Mãe que ela
acreditava com fé profunda. Deus a estava esperando para que caisse em seu seio
materno e paterno para ser feliz eternamente. Abracei o ex-presidente que não
escondia as lágriamas. Quando se constatou a morte celebral, o coração ainda
pulsava. Ele disse uma palavra verdadeira:”O coração dela pulsa porque o nosso
amor vai para além da morte.”
Ao lado de tanta dor se constataram
na internet palavras de ódio e de maledicência. Felizes porque morria e merecia
morrer daquele jeito. Aí me dei conta de que não temos apenas pedófilos mas
também necrófilos, aqueles que amam e celebram a morte dos outros.
Pertinente é a frase atribuída ao Papa Francisco:”Quando você comemora a
morte de alguém, o primeiro que morreu foi você mesmo”.
Diante da morte, o momento derradeiro
para cada ser humano, pois vai encontrar-se com Suprema Realidade que é Deus,
devemos nos calar reverentes. Ou proferimos palavras de conforto e de
solidariedade ou emudecemos respeitosamente. Comopodemos ser cruéis e sem
piedade diante da morte dolorosa de uma pessoa conhecida como extremamente
bondosa, arraigada aos mais pobres, lutadora dos direitos dos trabalhadores e
das mulheres e com grande amor ao Brasil? Ao ódio ela respondeu doando
generosamente os próprios órgãos para que outros pudessem viver.
Lamentavelmente, o golpe perpetrado
contra o povo, impôs uma radical agenda que segundo o joranalista Elio
Gaspari”é uma grande máscara, atrás da qual se escondem os velhos e bons
oligarcas”(O Globo 5/02/17 p.8). Esses odeiam os pobres como odeiam o PT e Lula
e odiaram Dona Marisa Letícia.
Mas a verdade e justiça possuem uma
força intrínseca. Elas arrancarão as mascaras dos pérfidos. A luz brilhará.
Enquanto isso contemplaremos uma estrela no céu da política brasileira: Dona
Marisa Letíca Lula da Silva.
Leonardo Boff é amigo da família Lula
da Silva e articulista do JB on line.
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