Por Reginaldo Veloso *
Embora seu nome fale de
alegria, ela morreu triste...
Aliás, desde o tempo de
Jesus, e talvez bem antes, que “alegria de pobre dura pouco”.
Ela, ultimamente, não
passava necessidade, mas sua raiz, seu estigma, era a pobreza. Um pecado que a
elite econômica, empedernidamente preconceituosa e excludente, que há 517 anos
domina este país, não poderia jamais perdoar.
E ela pode ter morrido de
uma tristeza mortal. E deve haver alguém com culpa, não “no cartório”, talvez, nem “na justiça”, porque justiça nesse país é
artigo de luxo: compra quem pode. Da água que se bebe ao nome de Jesus, tudo,
nesse país, regido pela economia de mercado, tudo, repito, é artigo de compra e
venda.
Aliás, aquilo que alguém
cantou, há 37 anos atrás, numa canção de protesto contra a expulsão de um
presbítero comprometido com a sorte dos camponeses pobres de Ribeirão, ainda é
possível ser cantado, com extrema atualidade: ONZE JUÍZES, UM TRIBUNAL, ONZE O
SUPREMO COITO VENAL, ONZE A VERGONHA NACIONAL, PISAM O DIREITO, CELEBRAM O MAL.
Papa Francisco diria que,
aqui, quem governa é o dinheiro. E essa é a melhor explicação para a corrupção
endêmica e cultural dos que detêm o poder econômico e o poder político, em
todos os níveis, como, por outro lado, é a justificativa dos “desvios de
conduta” dos traficantes, dos milicianos e dos assaltantes nossos de cada dia.
E o povo, quando não adere também a essa idolatria, é a mortadela desse
sanduíche.
Que a tristeza de Dona
Marisa Letícia, que toda essa tristeza, possa despertar em nós uma grande,
profunda e duradoura indignação. E nos
inspire sonhos de um outro país, de uma outra economia, de uma outra política,
de uma outra religião, de uma outra Igreja, de uma outra Humanidade. E nos
comprometa, até o fundo da alma, como comprometeu Jesus de Nazaré.
Por sinal, passado o
Carnaval, começa a Quaresma, um tempo de graça e salvação, um tempo de caminhar
para a Páscoa. Deixemos Deus passar no Egito de nossas vidas e, na força do
Espírito, nos coloquemos a caminho para a Terra Prometida, onde mana o leite da
justiça e o mel da paz!
Enquanto isso, clamemos aos
céus:
Salmo 14: Não riam da esperança dos humildes!
(Versão e melodia de R.
Veloso/2010)
Prece para dias de angústia e apreensão, para ser
cantada com a melodia do Salmo 9, CD “Aleluia, porque hoje é Páscoa”, Paulinas,
faixa 2.
1. O insensato fala pra si mesmo
Que Deus nunca existiu e nem
existe;
Corruptos, fazem só o que não
presta, ó meu Deus,
Já não existe um só que o bem
pratique!
De lá dos céus, o Eterno
Amor espia
Pra ver se entre os filhos
de Adão
Existe alguém que tenha são
juízo, ó meu Deus,
Alguém que busque a Deus de
coração...
amor, escuta o clamor!
ó Deus-Amor, o clamor!
podem rir da esperança dos humildes,
mas seu refúgio és, amor!
2. Pois todos eles juntos se perderam,
No meio deles, é só corrupção,
Não há ninguém que faça o que
presta, ó meu Deus,
Não há, de fato, não há mesmo
não!
Será que não percebem os
malvados
O tempo e o tanto que a meu
povo exploram,
Pois eles não invocam o
Eterno Amor, meu Deus,
E feito pão meu povo eles
devoram!
3. Um dia, vão tremer apavorados,
Pois Deus está com aquele que
é justo!
Vão rir da esperança dos
humildes, ó meu Deus,
Mas tu, Eterno Amor, és seu
refúgio!
Que venha, venha logo lá de
cima,
Do Céu venha pro povo a
salvação!
No dia em que o Amor os
oprimidos, ó meu Deus.
Trouxer de volta pra
libertação!
Que grande alegria, grande
festa,
O povo libertado exultará,
E glória se dará ao Pai e ao
Filho, ó meu Deus,
E a força do Divino brilhará!
* Texto lido no Ato
Ecumênico em homenagem à Dona Marisa Letícia, em 13 de fevereiro de 2017, na
Igreja das Fronteiras, promovido pelo Partido dos Trabalhadores e organizado
pelo Grupo Fé e Política Dom Helder Camara.
Reginaldo Veloso, presbítero leigo das CEBs
Assistente adjunto do MTC-NE 2
Assessor pedagógico do MAC e do PROAC
Da Equipe do Setor de Música Litúrgica da CNBB
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