Por Marcelo Barros
Em muitos
países, o 14 de fevereiro é um dia importante para as pessoas apaixonadas e
para os amigos. O motivo é que, nesse dia, no antigo calendário católico, se
fazia memória de São Valentim. Conforme a lenda, no século III, para que os
jovens pudessem permanecer disponíveis para ir à guerra, o imperador proibiu que,
por um tempo, a Igreja abençoasse casamentos. No entanto, o bispo Valentim os celebrava
escondidos. Um dia, isso foi descoberto. O bispo foi preso e condenado à morte.
Mesmo na prisão, continuou a abençoar o amor dos jovens. Por isso, em muitos
países, até hoje, o "Valentine days" é o dia dos namorados. Outra
lenda antiga fala de um cristão chamado Valentim que se entregou aos guardas do
imperador para ser preso e morto no lugar de um amigo, denunciado como cristão.
Baseado nisso, a ONU considera o 14 de fevereiro como "o dia da
amizade".
Hoje em
dia, todo mundo fala de amor. No entanto, em muitas canções, telenovelas e
filmes, se ressaltam mais impulsos egoístas de posse do outro do que uma
peregrinação de amor que conduz uma pessoa ao coração da outra. E quando,
nessas obras comerciais, o amor chega a ser mostrado, é de um modo idealizado,
irreal e longínquo de nós, pobres mortais, envolvidos em uma realidade de vida bem
mais complexa.
Nos anos
70, uma palavra de ordem da juventude dizia: "Faça o amor, não faça a
guerra". Em tempos de lutas sociais e políticas acirradas, a esquerda
privilegiava relações coletivas, lutas de classe e a solidariedade política na
luta pela justiça e libertação dos oprimidos. A dimensão subjetiva e as
relações afetivas de cada um eram mais valorizadas por grupos alienados ou
ligados ao sistema dominante. Só que para muitas pessoas, as questões afetivas
se tornavam o único eixo de vida que interessava. E até hoje, a televisão
continua oferecendo o amor romântico como pão e circo para as carências da
massa.
O desafio
atual das pessoas e grupos comprometidos com a vida é unir as pontas de uma
realidade que, embora complexa, é uma só. O presidente Hugo Chávez gostava de
repetir que, na luta política, tinha aprendido que as revoluções, se não
procedem do amor e não são permanentemente embebidas de amor, se tornam inúteis
e contraproducentes. Assim, nesses dias difíceis que atravessamos, em um Brasil
incendiado por ondas de violência e de ódio, qualquer brisa de amor refrigera e
toda forma de carinho vale a pena.
Não existem
muitos amores. O amor é um só, embora tome formas e expressões diferentes. O
amor de mãe, amor de irmãos, de namorados ou de amigos, têm todos o mesmo DNA.
Vêm todos da mesma fonte. Há uma inteligência amorosa, presente no universo e
atuante nas pessoas e em todo ser vivo. As religiões e tradições espirituais a chamam
de Deus. A tradição judaica ensina que ao criar o mundo, a luz divina se
espalhou como chamas de amor por todo o universo. Então, ao receberem essas
faíscas do Amor maior, fonte de todo amor, todos os seres vivos foram
divinizados. Entre eles, cada ser humano é chamado a cultivar e desenvolver em
si mesmo e nos outros essa chama para que ela não se apague. As relações
familiares, a participação comunitária e os relacionamentos de amizade e de
amor conjugal são instrumentos para a realização plena dessa vocação para o
amor.
O amor
conjugal tem uma dimensão mais exclusiva. O amor de amizade é aberto, mais
gratuito e incondicional. Por isso, místicos de diferentes religiões o
consideram o sinal por excelência do amor divino no mundo. Amar é nossa
vocação. Todos os seres humanos são chamados a viver esse caminho. Somos
felizes quando nos sentimos nele e por ele nos deixamos conduzir.
Todas as formas
de amor são assumidas pelo Espírito Divino que se manifesta em todo e qualquer amor
humano. No entanto, o Espírito de Amor nos chama a sermos cada vez capazes de
um amor gratuito e mais generoso. Trata-se de amar até quem não ama, de levar amor
onde não há amor, de modo incondicional e sem limites. Esse amor de doação
total pode conter em si a dimensão erótica. Pode também assumir a expressão de
uma amizade bela e madura. Mas é,
principalmente, amor de solidariedade e bem querer gratuito. No grego
bíblico, se chama agapé e está
contido na expressão "Deus é amor. Quem vive o amor permanece em Deus e
Deus está nessa pessoa" (1Jo 4, 16).
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