por Rejane Menezes
A perda de um ente querido é sempre muito dolorosa,
mesmo que seja depois de uma doença prolongada e sofrida. Entretanto, essa
perda dói ainda mais, quando ela acontece quase de repente, sem avisar e leva
para sempre a presença física de alguém que a vida ainda se mostrava longa e
promissora.
Têm pessoas que, ainda que nunca tenhamos encontrado
pessoalmente, ainda que elas sequer imaginem que existamos, quando se vão, é
como se fizessem parte de nossa família ou, pelo menos, do nosso ciclo de
amizade.
Assim foi com D. Maria Letícia Lula da Silva, uma
guerreira que lutou bravamente ao lado do homem que amava, incentivando-o a
sonhar e ajudando-o a realizar esses sonhos. Com toda certeza ela foi uma estrela
a brilhar na vida de Lula e, com ele, colheu dos céus das utopias, uma outra
estrela que cuidaram com carinho e fizeram brilhar e brilhar muito, iluminando
a noite das vidas de milhões de brasileiros.
Por isso, quando o Partidos dos Trabalhadores convidou
o grupo Fé e Política Dom Helder Camara para organizar uma homenagem a D. Marisa, não houve
dúvida: teria que ser um Ato Ecumênico, porque a palavra “ecumênico”, de origem
grega, significa casa, lugar onde se vive, lugar onde se desenvolve a vida
doméstica, na qual as pessoas têm o mínimo de bem-estar. No novo testamento,
ecumênico se refere a “mundo inteiro”, a “toda a terra” e ao mundo que está por
vir.
E, nada poderia ter sido mais ecumênico dos que os
sonhos que D. Marisa e Lula sonharam juntos e que conseguiram, ainda que não a
todos, realizar, quando, infelizmente apenas por algum tempo, alguns milhões de
brasileiros tiveram a oportunidade de experimentar viver esse mínimo de bem-estar que deveria
ser obrigatório e permanente. Mas não deu tempo de enraizar o sonho. Durou
pouco. Foi destruído. Mas, é por isso que a esperança está sempre teimando em
sobreviver, para que os sonhos, ainda que despedaçados, voltem a florescer.
E foi para celebrar os sonhos de D. Marisa e alimentar
a esperança de que, mesmo com a sua grande ausência, continuem a ser sonhados e
voltem a ser realizados que, em uma noite de lua cheia, iluminando um céu cheio
de estrelas, foi feita uma homenagem a D. Marisa Letícia Lula da Silva, através
de um Ato Ecumênico, presidido pelo monge beneditino Marcelo Barros e
concelebrado pelo Reverendo Daniel Barbosa, da Igreja Anglicana Ortodoxa do
Brasil.
Para ficar no altar, ao lado dos celebrantes, foram
convidados Bruno Ribeiro, presidente do PT estadual, a deputada Tereza Leitão,o
ex-prefeito do Recife João Paulo, Paulo
Mansam, do MST e Expedito Solaney, representando a CUT.
O Canto, que diga-se de passagem, foi muito bonito,
ficou por conta das vozes de Reginaldo Veloso e Heloísa. O acompanhamento teve
Ramos no violão e ainda Cristiano e Messias na percussão. Viola Enluarada abriu
o Ato Ecumênico, levando toda a igreja a cantar liberdade, liberdade.
INTRODUÇÃO AO ATO ECUMÊNICO
E, a realização desse Ato Ecumênico na Igreja das
Fronteiras não foi por acaso. Ao fazer a abertura do Ato, Luiz Carlos Siqueira
explicou porque a escolha das Fronteiras: ”Nela viveu Dom Helder, grande
místico e defensor dos Direitos Humanos, que não media esforços para acolher a
todos e a sonhar por uma cultura de Paz. Neste ambiente, o ecumenismo se fez
realidade na vida do Dom, que, com sua vida, nos impulsiona a sairmos do nosso
mundo e a irmos ao encontro do outro, para aprofundarmos o que temos em comum e
aprendermos com as diferenças”.
A Utopia, de Zé Vicente deu início ao Ato propriamente
dito e, logo após, Bruno Ribeiro, presidente do PT estadual, fez a acolhida, falando sobre o motivo que
reunia todos ali, a homenagem à D. Marisa, estando todos em comunhão com a
família de Lula e todos os companheiros do PT que não puderam comparecer.
O reverendo Daniel fez a oração inicial e conduziu o
canto ecumênico Jesus Pastor Amado.
ESCUTA DA PALAVRA
Em seguida teve início um momento tocante onde Sheila
Oliveira leu um belíssimo texto que escreveu em homenagem à D. Marisa, onde
disse que D. Marisa teve uma história de vida admirável e que será uma força
eterna para o guerreiro do povo brasileiro.
Depois da homenagem de Sheila foi a vez de Reginaldo
Veloso prestar sua homenagem, onde falou disse que desejava que “a tristeza de Dona
Marisa Letícia, que toda essa tristeza, possa despertar em nós uma grande,
profunda e duradoura indignação. E nos
inspire sonhos de um outro país, de uma outra economia, de uma outra política,
de uma outra religião, de uma outra Igreja, de uma outra Humanidade. E nos
comprometa, até o fundo da alma, como comprometeu Jesus de Nazaré”. Em seguida cantou o salmo 14: Não riam da esperança dos humildes –
Prece para dias de angústia e apreensão.
Um dos momentos mais emocionantes do Ato foi quando,
por três vezes, Reginaldo falou: Marisa Vive! E todos respondiam: presente!
Finalizando o momento das homenagens através das
palavras, Marcelo Mário Melo citou frases de Lenin, Brrecht, David Capistrano,
Jesus Cristo e José Cândido: “sonho que não aprende a nadar, morre afogado”. Depois recitou um verso e o rapp “Novos
Pactos”, de sua autoria.
A música “Buscai primeiro o Reino de Deus aclamou o
Evangelho segundo João, 10, 1-10, que foi lido por Veridiana.
PONTE ENTRE A VIDA E O EVANGELHO
O monge Marcelo Barros fez um breve comentário sobre o
Evangelho, ressaltando que Jesus não prende as sua ovelhas. Ao contrário, ele
as solta para que saiam pelo mundo trabalhando na construção do Reino. Se é de
Jesus tem que ir para a vida, para a política, procurar construir a Justiça,
faça acontecer a promessa de Jesus: :”Eu vim para que todas tenham vida. E vida
em Abundância”. Porque ser cristão é fazer a diferença.
Outro momento de muita emoção: toda a igreja entoando
Caminhando e Cantando e Seguindo a Canção, um hino da época da ditadura, que
simbolizava a esperança do resgaste da democracia no Brasil.
O ex-prefeito João Paulo falou sobre a constante
renovação da vida. Falou que vai ser muito difícil o resgaste do que foi
construído no Brasil, mas que com fé, esperança e perseverança vamos reconstruir
esse mundo que sonhamos. Falou que nossa luta é imensa mas que temos o desafio
de continuar na luta, acreditando que podemos trazer um pouco do céu para a
terra.
ORAÇÃO DO PAI NOSSO
Pai nosso dos pobres marginalizados/ Pai nosso, dos
mártires, dos torturados... esse refrão iniciou o canto do Pai Nosso dos
Mártires, homenageando a todas as vítimas da violência, da opressão, da
intolerância, da tortura, de todas as maldades enfim, seguida da oração do Pai
Nosso ecumênico.
A ESPERANÇA QUE NOS MOVE
Vera Scheidegger, colocou uma pergunta para
todos: D. Marisa se foi e o que fazer de agora em diante? E prossegui: “Vemos, a todo hora, ameaças de
prisão para Lula, tentativas de destruir sua liderança e o carinho que o povo
tem por ele. Por isso, agora, a nossa responsabilidade é maior: precisamos
garantir todo o apoio que Lula precisa para continuar firme em sua luta por um
Brasil que seja verdadeiramente O PAÍS DE TODOS”.
E propôs o inicio de três campanhas, a partir daquela
data:
1 – Campanha em todo Brasil: Não há razão
política nem jurídica para prender Lula.
2 – Campanha internacional de proteção a
Lula – A ideia é inundar a sociedade com nossa proposta.
3 – Mobilização para criar um clima que
leve o povo a exigir uma nova constituinte livre, soberana e cidadã. O tempo é
hoje, o momento agora. Vamos ganhar as ruas, as mídias sociais e o coração
daqueles que ainda não descobriram que um mundo novo é possível.
E, ao final de sua fala, convidou a todos a
cantar mais uma música dos anos 70 que animava a esperança dos que lutavam por
um novo país: Pesadelo. “Quando um muro separa uma ponte une”.
ENCERRAMENTO
A deputada estadual e vice-presidente do PT,
Teresa Leitão, encerrou o evento contando uma breve história de D. Marisa.
Disse que D. Marisa continuará sendo em nossa memória a menina operária que se
fez mulher guerreira, a mãe educadora, a companheira valente e acolhedora, que
rompeu com todas as expectativas da elite brasileira, tornando-se primeira dama
da república.
A bênção final foi dada de uma maneira
diferente: cada um abraçava o outro e o abençoava. E, ouvindo Heloísa cantar
que “poesias, brindando essa manhã feliz, o mal cortado na raiz, do jeito que o
mestre sonhava” , encerrou-se o Ato Ecumênico em homenagem à D. Marisa. Emocionadas,
as pessoas cantavam “em cada palma de mão, cada palmo de chão, sementes de
felicidade, o fim dE toda opressão, o cantar emoção, raio a liberdade”. E foram
tantos cantar com emoção, e tantos abraços e tantas desejos bons, que a
esperança se sentiu renovada, se
fortaleceu para “esperançar” por “um áureo tempo de justiça” e, com certeza,
todos saíram de lá se comprometendo em, manter “a porta aberta ao irmão, de
qualquer cor de qualquer raça”, combatendo o bom combate pelo fim da
intolerância, da injustiça e da violência.
Vá em paz Dona Marisa. Aqui ficamos nós,
lutando ao lado de Lula, unindo nossas forças, com fé e alegria, sonhando com um novo Brasil, preparando um
novo Dia de Graça.
OBS: Os textos citados na matéria de Sheila Oliveira, Reginaldo Veloso, Marcelo Mário Melo e Teresa Leitão serão postados nesse blog.
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