por Juracy Andrade
Como o direito canônico obriga os bispos a se
aposentarem aos 75 anos, o papa Francisco, nestes últimos quatro anos, teve
oportunidade de fazer uma grande quantidade de novas nomeações episcopais. Como
ele evidentemente escolhe candidatos que compartilhem sua visão da Igreja, tipo
Dom Helder, Dom José Maria Pires, Dom Paulo Evaristo e alguns outros, não
estejam contaminados pelos descaminhos adotados por tantos papas-imperadores,
pode-se esperar que a Igreja Romana vá retomando os caminhos dos apóstolos,
descritos por exemplo no livro dos Atos
dos Apóstolos. Mesmo porque ele também tem nomeado cardeais mais cristãos
que os de antigamente. E são ainda os cardeais, e não representantes do
episcopado mundial e do povo de Deus, que fazem a eleição de um novo papa.
Acredito que ele ou algum sucessor seu tomará
a providência de acabar com essa excrescência imperial que é o Colégio Cardinalício,
inventado por papas-imperadores para garantir a constante eleição, não de
bispos de Roma, mas de senhores imperiais. Com o tempo, teremos uma Igreja
renovada e retemperada no Evangelho de Jesus Cristo, o que tornará mais fácil,
ou menos difícil, retomar o desejo de Cristo de que “todos sejam um” (oração
antes da paixão). Grandes passos já foram dados em relação aos luteranos.
Francisco ,inclusive, participou de comemoração do quinto centenário da
Reforma. E aos anglicanos. O papa também se encontrou com um dos patriarcas da
Igreja Ortodoxa, que há cerca de mil anos separou-se da Romana.
Sem dúvida muitos passos terão que ser dados
por todas as igrejas que ainda se conservam cristãs. E a Igreja Romana já não
proclama que são as outras confissões que têm de ceder às exigências de Roma.
Progressivamente, acredito, dogmas como o da infalibilidade papal terão de ser
revistos. Lembramos que foi um concílio de alguns bispos europeus (poucos), o
Vaticano I, reunido às pressas em meio a convulsões bélicas e estreitamente
pressionado pelo papa da época, que proclamou esse duvidoso dogma, logo
contestado por inúmeras igrejas e inclusive por católicos.
Evidentemente, Francisco não poderá consertar
sozinho e rapidamente tudo o que se fez de errado na Igreja de Cristo desde que
o papa e os bispos resolveram, com raras exceções, se tornarem nobres de um
Império Romano repaginado pelo imperador Constantino, que fez do cristianismo
uma religião oficial. Todos, papa, bispos, imperador, ignorando solenemente
palavras de Cristo como “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”
ou “O meu reino não é deste mundo”.
Como em muitos outros
casos, a Igreja passou a adotar costumes pagãos, além desse de religião
oficial. Por exemplo: construção de templos, o que era ignorado pelos cristãos
primitivos; um clero absolutamente segregado dos leigos; perseguição e morte
aos que o establishment eclesiástico considerava hereges; a incrível
instituição de uma Inquisição para condenar e queimar na fogueira do auto-de-fé
hereges e cismáticos. Vamos orar e torcer para que Francisco ainda consiga
avançar muito na retomada e renovação cristã. E que tenha sucessores que
prossigam com o trabalho dele, certamente inspirado por Deus.
Juracy Andrade é jornalista com formação em
filosofia e teologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário