Por Frei Betto
São
José merece duas festas no ano litúrgico: 19 ou 20 de março, dependendo do
lugar, e 1º de maio, celebração de São José Operário. Pouco se sabe do homem
que criou Jesus. Evangelhos e textos apócrifos registram que ele exercia a
profissão de operário da construção civil, era viúvo e pai de vários filhos
antes de se unir a Maria.
No português, seu ofício foi resumido para carpinteiro. Ora, José não
trabalhava apenas com madeira. Também com cantaria, pedras. Sabia construir uma
casa feita dos dois materiais.
Há indícios de que José trabalhou em Séforis, antiga capital da Galileia,
distante a apenas 7km de Nazaré, onde morava. Talvez tenha também participado
da edificação da nova capital, Tiberíades, às margens do lago de Genesaré. Foi
construída por ordem do governador Herodes Antipas, o mesmo que degolou João
Batista e a quem Jesus qualificou de “raposa” (Lucas 13, 32). Recebeu o
nome de Tiberíades em homenagem ao imperador Tibério César, sob cujo reinado
Jesus nasceu, viveu e morreu executado na cruz.
Detalhe curioso é que os evangelhos registram o périplo de Jesus e seus
discípulos por cidades e povoados às margens do lago também conhecido como Mar
da Galileia, e nenhuma vez se noticia que ele teria entrado em Tiberíades. No
entanto, esteve várias vezes em cidades muito próximas, como Cafarnaum e
Magdala. Supõe-se que rejeitava a cidade por ter, quando jovem, ajudado seu pai
nas edificações suntuosas da nova capital.
De José, sabemos que namorou Maria, que apareceu grávida quando ainda não se
haviam casados. E agora, José? Foi sofrido para ele suportar tamanha surpresa.
Poderia tê-la denunciado por adultério. Se o fizesse, Maria não teria como se
defender. Tal direito era negado às mulheres, e ela poderia receber sentença de
morte por apedrejamento, como a adúltera cuja vida Jesus salvou no momento
extremo (João 8, 1-11).
Por amor a Maria, José preferiu abandoná-la. Porém, Deus o fez entender, na fé,
que a gravidez era obra do Espírito Santo.
Deus entrou na história humana pela porta dos fundos. Escolheu uma simples
camponesa e um operário como sua família. Habitavam uma aldeia tão
insignificante, Nazaré, que jamais é citada no Antigo Testamento. Não abrigava
mais de 400 habitantes.
José descendia “da casa de Davi” (Lucas 1, 27), ou seja, tinha família em
Belém. Segundo os relatos evangélicos, um recenseamento o fez subir de Nazaré a
Belém para ali se inscrever. Seus familiares o rejeitaram. Como aceitá-lo, se
não estava casado conforme as leis judaicas e se fazia acompanhar por uma jovem
grávida?
Na iminência do parto, o casal buscou abrigo ao ocupar uma propriedade rural.
Tomou uma choça como casa e um cocho como berço, cercado de animais e estrume.
Deus se insere na história humana pela via dos oprimidos. Não conhecemos a
reação do dono da propriedade, se fez vista grossa ou se deixou de enxotar o
casal ao constatar que a moça tinha o ventre muito dilatado.
Ali nasceu Jesus, como hoje nascem crianças em acampamentos de sem-terra,
campos de refugiados, abrigos de moradores de rua, prisões e localidades
bombardeadas pela guerra.
O rei Herodes, que governava a Palestina, conhecia a profecia de Isaías de que
o Messias, esperado pelos judeus, haveria de nascer em Belém. E chegou-lhe aos
ouvidos que isso acabara de ocorrer. Tratou de enviar uma tropa a Belém e,
segundo o evangelista Mateus, todos os bebês da cidade de Davi foram passados
ao fio da espada. Contudo, José e Maria já haviam partido com o menino para o
exílio no Egito, de onde retornaram após a morte de Herodes.
Sem exageros, a Jesus, Deus feito homem no qual nós cristãos cremos e
procuramos seguir, se aplicam atributos que envergonham abastados e
presunçosos: filho de uma suposta adúltera; de um casal de trabalhadores
manuais; de vítimas da tirania; de excluídos do núcleo familiar; de refugiados
e exilados.
Alguma dúvida de que Deus, como enfatiza o papa Francisco, fez opção pelos
condenados da Terra?
Frei Betto é escritor,
autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.
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Maria Helena Guimarães
Pereira
MHP Agente Literária -
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