Por Juracy Andrade
No domingo 26 de
fevereiro, quando o Brasil começava a mergulhar no Carnaval, o papa Francisco visitou
uma igreja de confissão anglicana de Roma, a All Saints. Pela primeira vez
desde o século 16, quando a Igreja da Inglaterra, uma das mais antigas da
história cristã, foi desligada de Roma pelo rei Henrique 8º. Desculpem mas, já
que falei em Carnaval, peço licença para acrescentar uma observação sobre o
Galo da Madrugada, aquele do gostoso “Ei pessoal, ei moçada” (acréscimo ao que
postei no meu blogdenegoveio blogspot.com.br). Outra coisa que prejudica o Galo
e lhe fomenta o complexo de grandeza é o abraço que o globalizou. Do jeito que
globalizou o Drama da Paixão de Fazenda Nova, a Rede Globo anexou o Galo.
Geralmente bem
próxima da Igreja Católica Romana, na liturgia e na teologia, a Igreja
Anglicana, também conhecida como Episcopal fora da Inglaterra, tem sua máxima
figura religiosa no arcebispo de Cantuária (Canterbury) e também uma chefia
cerimonial do soberano inglês, além de Sínodos que zelam por suas convicções
teológicas.
Houve no século
19, um religioso anglicano que, após muito estudo e oração, aderiu à Igreja
Romana. Foi John Henry Newman, mais tarde nomeado cardeal pelo papa Leão 13.
Foi discutido, na época, se ele deveria receber uma nova ordenação, pois alguns
teólogos acreditavam que teria havido uma ruptura nas ordenações e consagrações
da Igreja Anglicana, que teria quebrado os laços com a tradição apostólica que
vem desde os apóstolos de Jesus Cristo. No entanto, essa questão foi resolvida
com o reconhecimento dos laços anglicanos com a tradição apostólica.
A ida de
Francisco à igreja anglicana de All Saints, em Roma, é mais um sinal de que as
duas confissões cristãs estão interessadas naquela unidade que Jesus Cristo
tanto desejou e pela qual orou fervorosamente no Jardim das Oliveiras, nos
momentos que precederam sua paixão e morte. Francisco pretende visitar o
conflituoso Sudão do Sul em companhia de bispos anglicanos, mais um passo de
ambas as confissões na direção do “que todos sejam um só” desejado por Cristo.
A chegada da
Igreja Anglicana ao Brasil ocorreu com a aproximação entre as cortes de
Portugal e Inglaterra e o incremento dos negócios ingleses em nosso país, após
a assim dita “abertura dos portos”. O primeiro templo anglicano construído em
nosso país (e na América do Sul) foi no Rio de Janeiro. Depois foram
implantadas capelas em São Paulo, Santos, Belém e Recife. Aqui no Recife, o
anglicanismo se desenvolveu muito pela presença de súditos britânicos em
empresas como a Great Western, a Pernambuco Tramways e outras. Na 2ª Guerra
Mundial, muitos filhos de ingleses aqui residentes foram lutar contra os
nazistas. Os nomes daqueles que morreram na luta estão gravados na igreja anglicana
do Espinheiro. E tem também, na Boa Vista, uma Rua do Padre Inglês.
Que sejamos um
só, como queria e quer Cristo.
O autor é
jornalista com formação em filosofia e teologia
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