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quinta-feira, 22 de junho de 2017

FESTA DE SÃO JOÃO

por Frei Betto



      João, santo cuja festa se celebra no próximo sábado, era primo de Jesus, filho de Zacarias, sacerdote do Templo de Jerusalém, e de Isabel, prima de Maria. Por ter nascido seis meses depois de seu primo Jesus, João tem a sua festa natalícia a 24 de junho.

      As duas festas decorrem das festividades pagãs, apropriadas pela Igreja, dos solstícios de verão e inverno no hemisfério norte. Solstício vem do latim sol + sistere, “que não se mexe”. É quando o sol, medida a sua latitude a partir da linha do equador, se encontra em sua maior declinação em relação à Terra. Então, neste dia, no hemisfério norte o dia é o mais longo do ano e, a noite, a mais curta. No hemisfério sul ocorre o contrário.

      Os solstícios variam conforme o ano. Mas quase sempre entre os dias 20 e 25 de junho e de dezembro. Por isso, os dias 21 de junho e 21 de dezembro marcam mudanças de estações. No hemisfério sul, do outono para o inverno, em junho; e da primavera para o verão, em dezembro.

      Há indícios de que João, decidido a não seguir a carreira sacerdotal do pai no Templo de Jerusalém, preferiu unir-se aos monges essênios de Qumran, junto ao Mar Morto. Talvez por discordar do elitismo espiritual dos essênios, que se consideravam os prediletos de Deus, João trocou a vida monástica pela pregação ambulante às margens do rio Jordão. Ali formou a sua própria comunidade, selada pelo batismo cuja espiritualidade se centrava na prática da justiça. Daí passou a ser conhecido como João Batista (aquele que batiza). Jesus aderiu à comunidade de seu primo e foi por ele batizado nas águas do Jordão. 

      João denunciou a vida corrupta e devassa do governador da Galileia, Herodes Antipas, que se juntara à mulher de seu irmão, Felipe. Preso, foi degolado a pedido de Salomé, enteada do governador, orientada pelo ódio vingativo de sua mãe, Herodíades. Em plena festa palaciana, a cabeça de João foi exibida em uma bandeja.

      A atuação de Jesus só teve início após o martírio de João. É como se o primo firmasse posição para demonstrar a Herodes Antipas, a quem chamava de “raposa”, que a luta continua... Seus primeiros discípulos, André e Simão, o cananeu, vieram do grupo de João.

      Da comunidade dos doze apóstolos, o mais jovem também se chamava João, autor do quarto evangelho. Ele abre o seu relato em homenagem ao xará, a quem chama de “enviado de Deus para ser testemunha da luz.”

      A festa de São João é marcada, no hemisfério sul, pela fogueira e os fogos de artifício, que simbolizam a “luz do mundo”, e o fato de a luz (Jesus) vencer as trevas (da noite mais longa do ano).

      Desde o século XVIII, a festa é comemorada no Brasil com adereços que os portugueses trouxeram da Ásia, especialmente da China, como balões, bandeirinhas e fogos de artifício.

 Neste ano, todos nós, devotos de São João, devemos pedir muita luz para o Brasil, onde felizmente muitas cabeças vêm sendo degoladas pela corrupção e pelos desmandos administrativos, enquanto outras mantêm indisfarçável cumplicidade com os responsáveis pelo nosso desgoverno.

Frei Betto é escritor, autor de “Parábolas de Jesus – ética e valores universais” (Vozes), entre outros livros.  
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