por Marcelo Barros
No centro restaurado do Rio de Janeiro, a maior
atração é o Museu do Amanhã. A construção lembra uma concha marítima a entrar
pelo mar, qual embarcação do futuro. Nela, os visitantes são acolhidos por um
imenso globo terrestre suspenso no ar. Ao girar, iluminado, ele mostra informações
sobre clima, ventos na superfície do planeta e outros dados. Embaixo, em uma
sala de projeção de teto arredondado, como primeira atração, abre-se o
"Portal do Cosmos". Na abóbada de 360 graus, projeta-se a explosão da
matéria que deu origem aos astros, o surgimento do nosso planeta, a formação da
vida e a evolução dos mamíferos, até o surgimento do ser humano e do pensamento. E o portal nos deixa com a
pergunta: Qual será nosso futuro? Os polos seguintes do museu falam do atual
estado da terra. Nas paredes interativas, são expostos dados sobre a destruição
das florestas, a poluição das águas, a contaminação do ar, o desaparecimento de
muitas espécies e a fragilidade imensa da comunidade que formamos com todos os
seres vivos. É o antropoceno, a atual
era geológica, na qual o ser humano interfere diretamente no equilíbrio
ecológico e ameaça o futuro da vida no planeta.
No Museu do Amanhã, tudo é didático e claro. Inclusive
ao apontar a responsabilidade do ser humano. No entanto, em momento algum, se faz
qualquer referência à sociedade organizada como partícipe dessa aventura. É
como se existissem apenas o indivíduo e o conjunto da humanidade. Não se mostra
a função dos Estados e dos organismos internacionais. Nenhuma alusão à ONU. O
museu revela dados da Tecnociência e deixa claro: o estilo de vida que a
sociedade dominante impõe à humanidade é o maior responsável pela destruição do
planeta.
A relação entre a realidade ambiental e a organização
social é mostrada em cenas de cidades grandes, da poluição causada pelas
indústrias e pelo transporte urbano. Só não se esclarece que o grande
responsável por isso tudo não é um ser humano abstrato e genérico. É um sistema
social e econômico. As grandes potências, controladas por poucas empresas
multinacionais, mantêm guerras, mais explosivas ou de baixa intensidade, para
vender armas e impor à humanidade o seu domínio.
O mundo jamais poderá alcançar o equilíbrio ecológico,
enquanto 1% da humanidade possuir uma riqueza equivalente aos 99% restantes dos
seres humanos.
Ao se colocar como meros gerentes das grandes
corporações econômicas, governantes e legisladores fazem com que a democracia e
direitos humanos se tornem dispensáveis. Nos anos 70, um ministro do governo
militar brasileiro, ainda hoje conselheiro de presidentes, afirmava: "Para a eficiência dessa Economia, a
Ética é relativa. Empresas e governos não são a CNBB".
A política do atual governo brasileiro é apenas o
começo. A humanidade já viu esse filme antes, em países como a Grécia e estados
do sudeste asiático. Ali também, bancos pagaram políticos. Com golpes, ou sem
necessidade deles, impuseram reformas econômicas. Destruíram direitos adquiridos
dos trabalhadores, mudaram regras da previdência social e agravaram a
desigualdade social. Essa realidade internacional só pode gerar uma
instabilidade social e política dominada pela fome e pela violência. Por todo o
mundo, se espalha uma onda de violência, que o papa Francisco chama de "terceira guerra mundial em
pedaços".
Diante de tudo isso, as comunidades indígenas,
afrodescendentes e movimentos sociais organizados se articulam para pensar o
futuro e propor uma nova forma de relação do ser humano com a terra e a
natureza. Na América Latina, as comunidades indígenas propõem o paradigma do
Bem-viver coletivo e pessoal como objetivo do Estado e como caminho da
sociedade. Nesta semana, especificamente no dia 05 de junho, a ONU celebra mais
uma vez o Dia internacional do Meio Ambiente. Quem está comprometido com
algum caminho espiritual e crê em Deus como fonte da vida deve unir o cuidado
do planeta com a Fé. Ao defender a vida e a dignidade humana, assim como a relação
de todos os seres vivos, testemunhamos a presença do Espírito Divino, como amor
que fecunda o universo.
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico é especializado em
Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das
comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É coordenador
latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro
Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.
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