por Juracy Andrade
Veio ao nosso
país para lançar um livro o cardeal Raymond Burke. Esse purpurado é um dos
principais críticos do papa Francisco. Sente saudade de uma Igreja imperial,
monárquica. “Um barco sem timoneiro” é como ele descreve a Igreja Romana no
atual papado. Quer que a liturgia da missa volte a ser em língua latina e
reprova o acolhimento de divorciados recasados e de gays. Enfim, um cardeal
rebelde e disposto a enfrentar as mudanças que o papa vem fazendo.
É estadunidense
e patrono da Ordem Soberana e Militar de Malta, um resquício das Cruzadas, e
formada hoje por leigos de famílias nobres dedicados a trabalhos humanitários.
O grão-mestre da ordem era Matthew Festing, que se envolveu em divergências com
Francisco, o qual lhe impôs a renúncia. O papa nomeou para a ordem um delegado
seu, o que poda os poderes do grão-mestre e do grão-chanceler da ordem e os do
seu patrono, que é o cardeal descontente Burke.
Há alguns dias,
os muros de alguns bairros próximos ao Vaticano amanheceram cobertos com
cartazes de críticas a Francisco e a seu desejo de renovação e volta da Igreja
a práticas evangélicas. “A missão dos cristãos na sociedade é dar sabor à vida
com a fé e o amor que Cristo nos deu e, ao mesmo tempo, afastar os germes que
contaminam de egoísmo, inveja e difamação” é uma frase do papa em mensagem
dominical aos fieis na Praça de São Pedro.
Burke foi
avisado pelo papa que será afastado do Tribunal da Assinatura Apostólica do
Vaticano, onde está desde 2008. Trata-se de um dos membros mais conservadores
do clero americano, que interpreta rigidamente a doutrina católica. No Sínodo
Extraordinário dos Bispos sobre a Família, o cardeal exerceu, com outros, um
bloqueio das minorias contra aberturas em relação a homossexuais e divorciados.
Burke estudou
teologia na Universidade Gregoriana de Roma, onde chegou ao doutorado em
direito canônico. É importante assinalar essa sua dedicação ao direito
canônico. Os juristas canônicos têm geralmente uma tendência de dar mais valor
ao direito que ao Evangelho. Tivemos, aqui na Arquidiocese de Olinda e Recife,
o arcebispo dom José Cardoso, que, antes de vir para cá substituir dom Helder,
dava aulas de direito canônico em Roma. A administração dele foi catastrófica
do ponto de vista evangélico. Desmontou todos aos avanços introduzidos após o
Concílio e chegou a excomungar uma garotinha estuprada pelo padrasto que fez
aborto.
Evangelho e
direito canônico não combinam mesmo.
O autor é
jornalista com formação em filosofia e teologia
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