Por Marcelo Barros
Ao
consagrar o 1º de outubro como “dia internacional das pessoas idosas”, a ONU
quis responder a dois desafios. O primeiro é o envelhecimento da população.
Atualmente, na maioria dos continentes, diminui a taxa de nascimentos. Ao mesmo
tempo, a medicina prolonga a média de vida das pessoas. A ONU considera alguém
idoso se a pessoa tiver mais de 65 anos ou, em países mais empobrecidos, ao menos
60. Segundo os organismos internacionais, até 2025, o Brasil será o sexto país
do mundo com o maior número de pessoas idosas. Cada vez é mais frequente
conhecermos homens e mulheres na faixa de cem anos. Não parece mais atual a
palavra do salmo que afirmava: “Setenta anos é a duração de nossas vidas.
Oitenta, se somos fortes” (Sl 90). Aí
se junta o segundo desafio: Ao contrário das culturas antigas que veneram os
idosos, a sociedade capitalista só valoriza quem está na idade de produzir e
comprar. Frequentemente, os mais velhos se sentem marginalizados e condenados a
se tornarem cada vez mais dependentes. Por isso, ao instituir o dia das pessoas
idosas, a ONU propõe como direito de todos os idosos, acesso aos cuidados de
saúde, possibilidades reais de integração social e direito às informações e à educação
permanente.
Todos
nós, mais velhos ou mais jovens, somos como cristais belos, mas frágeis. Um
pequeno descuido ou um passo em falso e tudo pode acabar. Não bastasse isso e,
como diz Zigmunt Bauman, a própria sociedade parece se liquidificar. As
relações sociais se tornam fluidas, laços familiares facilmente se desfazem e
a própria vida se revela precária.
Ninguém
gosta de envelhecer. Propagandas sobre a “melhor idade” só atingem quem não
sabe o que significa sentir, de repente, ou aos poucos, o corpo cada vez mais
frágil e enrugado. Ninguém gosta de ver suas forças físicas, a memória e a
agilidade mental diminuírem. Só mesmo uma profunda estabilidade interior pode
dar equilíbrio e garantir a paz.
Nas
culturas afrodescendentes e indígenas, as pessoas mais velhas são vistas como portadoras
da sabedoria do Espírito. De acordo com a Bíblia, a aliança de Deus com os
pequenos e marginalizados do mundo começou com Abraão. Com mais de 80 anos, ele
era patriarca de um clã de lavradores sem-terra. Escutou uma palavra divina
para sair de si mesmo, de sua cultura, do seu ambiente clânico e partir. Assim,
ele iniciou uma caminhada em busca de uma terra livre e de uma descendência
numerosa. Abraão era casado com Sara, mulher velha e estéril. Deus tornou a sua
velhice abençoada e seu casamento fecundo. Ao comentar esses textos antigos, o
apóstolo Paulo escreve que, assim como Deus fez nascer uma vida nova do corpo
já amortecido de Abraão, Ele ressuscita Jesus e dá a todos nós que cremos, uma
vida nova (Rm 4, 19- 22).
Conforme
o evangelho de Lucas, quando os pais levaram Jesus, recém-nascido para,
conforme a lei judaica, apresentá-lo no templo, ele foi acolhido por Simeão e
Ana, dois anciãos, profetas que souberam reconhecer quem era aquela criança.
Através daquele menino, eles anunciaram uma nova esperança de libertação para o
povo de Israel e para toda a humanidade (Cf. Lc 2, 25 ss). Também hoje, pelas
condições especiais de sua idade, as pessoas idosas são portadoras de um apelo
de mais humanidade para todos.
Marcelo Barros, monge beneditino e
teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro
Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de
movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT (Associação
Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no
Brasil e em outros países
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