Por Marcelo
Barros
No dia 7 de setembro, quando o Brasil comemora o
aniversário da proclamação da sua independência, as organizações e movimentos
populares se juntam para promover o Grito
do/as Excluídos/as. Criado por iniciativa da
Igreja Católica, o Grito é um
contraponto ao ufanismo da parada militar e civil do Dia da Pátria e já está em
sua 23ª edição. Com criatividade, bom humor e senso crítico, ele vem mostrar a
realidade brasileira vista pelo avesso – a realidade da população mais pobre,
cada vez mais marginalizada excluída dos
privilégios que a elite desfruta.
O
Brasil continua sendo, no mundo, um dos países campeões de desigualdade social.
Atualmente, o governo e
o Congresso brasileiro mexem impunemente na Constituição do país e retiram
direitos assegurados dos índios, trabalhadores e aposentados. Tomam várias
medidas que isolam o Brasil da comunidade das nações latino-americanas e
entregam o petróleo e as riquezas do país às empresas multinacionais.
Recentemente, o presidente da República comprou publicamente os congressistas
para que esses fechassem os olhos às denúncias de crime e desvio de conduta
ética do chefe do governo.
Mesmo se as pesquisas revelam que o presidente detém
uma taxa de aceitação mínima por parte da população, não se veem grandes
manifestações. Na internet, grupos espiritualistas afirmam: "Pare de
reclamar. Valorize o que há de positivo e seja agradecido com o pouco". Essa
mensagem não está de acordo com as antigas e mais profundas tradições
espirituais. Na Bíblia, os profetas protestaram contra as injustiças e Jesus
foi morto por ter denunciado as opressões do poder político e também do
religioso. Em seu tempo, o profeta Isaías gritava: "Ai das pessoas que chamam
o mal de bem e consideram o bem como mal" (Is 5, 20). Eticamente, não se pode aceitar o sofrimento
de qualquer ser humano (e também dos outros seres vivos). É especialmente
terrível o sofrimento causado pelas escolhas políticas que fazem os ditos
representantes do povo. Cada vez mais, as políticas dependem da economia.
Absolutizam o mercado e o lucro. Nos últimos tempos, os responsáveis por essas
políticas perderam a vergonha. Tranquilamente provocam situações que criam refugiados,
órfãos e uma multidão de excluídos. Apregoam como inevitável uma política
sacrificial, que para garantir os privilégios de uma pequena elite condenam à
morte milhões de pessoas. Zingmunt Bauman, pensador polonês, amigo do papa
Francisco, afirmava que, assim como a segurança de um viaduto depende da
solidez da viga mais frágil que o sustenta, também a saúde de uma sociedade
depende de como está sua parte mais frágil, ou seja, a parcela mais empobrecida
da população. A intuição dos movimentos sociais é que essa população tem de se
organizar e lutar por seus direitos. Em todo o Brasil, as pessoas já falam nas
eleições presidenciais e do Congresso que devem ocorrer no próximo ano.
Recentemente, Frei Betto escreveu em um de seus artigos: "É um
erro jogar nas eleições todas as fichas da nossa esperança em um Brasil melhor.
O mais importante é investir no empoderamento popular. Reforçar os movimentos
sociais e sindicais, intensificar o trabalho de formação política e consciência
crítica, dilatar os espaços de pressão, reivindicação e mobilização. Só conseguiremos
mudanças significativas se vierem de baixo para cima".
É responsabilidade de toda pessoa comprometida com a
paz e a justiça, apoiar e participar dessas manifestações de cidadania. Nesse
07 de setembro, o 23º Grito dos/as Excluídos/as tem como tema “Vida em primeiro
lugar!” e como lema “Por direitos e
democracia, a luta é todo dia”. Assumir, hoje, esse caminho de Jesus
significa participar das lutas pacíficas e das manifestações dos movimentos
sociais, organizados por um mundo mais justo e mais irmão.
Marcelo Barros,
monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor
nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de
base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT
(Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros
publicados no Brasil e em outros países
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