Por Marcelo
Barros
Os
calendários avisam que nessa semana, iniciamos uma nova estação do ano. No
hemisfério sul em que vivemos, deve começar a primavera. A única coisa não
garantida é que a natureza agredida se lembre disso e tenha força para se
renovar. Em Macapá, cidade por onde passa a linha do Equador, justamente, na
quinta-feira, 21, ocorre o Fórum Social Amazônico, pela defesa da Amazônia. A
grande imprensa pode afirmar o que quiser a favor do agronegócio, das empresas
mineradoras e do interesse do capital. No entanto, todas as pessoas de boa
vontade sabem que, se tudo continuar assim, até o próximo ano, o atual governo
e a maioria do Congresso não deixarão no Brasil pedra sobre pedra.
Apesar
de que, no Brasil, só o sudeste e o sul têm as estações bem definidas, setembro
traz para todas as regiões bons sinais de mudança. No litoral do Nordeste,
começa a temporada de praia. No Centro-oeste, voltam as chuvas e a umidade do
ar. São sinais de renovação da natureza.
Desde tempos muito antigos, a humanidade vê a primavera como bênção e
sinal do amor divino que fecunda o universo e o renova permanentemente. Em
muitas culturas antigas, a primavera é também vista como apelo para que entremos
no movimento da natureza através de uma profunda renovação de nossas vidas.
Nesses dias, as comunidades judaicas celebram o Hosh Hashanah, a festa do Ano
Novo que agradece a Deus que recria de novo o mundo e renova sua aliança com
todas as criaturas. Em algumas casas de Candomblé Ketu, nessa semana se faz a
festa das Águas de Oxalá, que ocorre na madrugada e traz o mesmo simbolismo de
renovação.
Em
1962, quando preparava o Concílio Vaticano II que reuniria em Roma todos os
bispos católicos do mundo, o papa João XXIII pediu a Deus que esse concílio
significasse para a Igreja uma nova primavera. De fato, Deus o atendeu, ao
menos em parte. É que nem Deus consegue vencer a barreira levantada pelos
eclesiásticos acomodados e pelos funcionários da religião temerosos de perder
seus privilégios. Agora, mais de 50 anos depois, o papa Francisco propõe que a
Igreja Católica se renove no cuidado com a natureza e no serviço solidário a
toda humanidade, especialmente aos mais pobres, vítimas da cruel desigualdade
social. Se as Igrejas locais compreendessem essa proposta e os grupos
católicos, congregações e dioceses aceitassem essa proposta, teríamos uma nova
primavera eclesial. Por enquanto, já será uma ação primaveril antecipar a
natureza e começar o trabalho de primavera em nosso modo pessoal de ser e de
viver. Como escreveu o apóstolo Paulo: “O ser humano renovado vive cada dia e
sempre um trabalho de renovação permanente à imagem daquele que o criou” (Cl 3,
10). É Deus que suscita no mundo uma terra renovada e promete: “Eu faço novas
todas as coisas” (Ap 21, 5).
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo católico
é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos
Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares. É
coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do
Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países
Nenhum comentário:
Postar um comentário