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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

JESUS DA GENTE




por Kinno Cerqueira



As igrejas, na maioria das vezes, ensinam que seguir Jesus é ser assíduo nos cultos e não se misturar com o mundo. E, como desdobramento desse ensinamento, defendem também a ideia de que estar com Jesus é decorar versículos bíblicos e falar com Jesus por meio da oração. Mas será que foi isso que Jesus ensinou?

Segundo os Evangelhos, Jesus ensinou a seus discípulos e discípulas que segui-lo significa ser assíduo na prática do amor (Jo 13,34-35) e misturar-se com o mundo como consciência crítica e transformadora das estruturas sócio-políticas injustas (Mt, 5,13-16; Jo 17,15). E, para  escândalo do pessoal apegado à letra e à oração, ensinou que estar com ele é estar com os que passam fome e sede, com os migrantes e os nus, com os enfermos e os presos, lutando para que tenham uma vida digna, pois o rosto das gentes sofridas é o rosto do próprio Jesus de Nazaré (Mt 25,34-46).

Nos últimos dias, o Carnaval, geralmente visto como festa do diabo, resgatou e apresentou, ao Brasil e ao mundo, a verdadeira face de Jesus, claramente apresentada nos Evangelhos e há muito tempo esquecida pelas igrejas: o Jesus cuja "boa notícia" (evangelho) consiste em dizer que Deus está ao lado dos sem-terra, dos índios, dos negros, das mulheres, dos LGBTIs, dos torturados e dos moradores de rua – enfim, de todo o povo sofrido e marginalizado – e cujo discipulado consiste num chamado a viver a fé como compromisso de sempre estar ao lado dessas gentes por quem ele viveu, morreu e ressuscitou.

Para quem se acha proprietário de Jesus, isso pode soar escandaloso. Mas é preciso dizer que o Jesus dos Evangelhos não é patrimônio de nenhuma igreja ou grupo religioso. Ele é, como cantou o samba-enredo da Mangueira, "Jesus da gente" que se encontra "no amor que não encontra fronteira".

[1] Kinno Cerqueira é pastor batista, biblista e assessor do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) na área de estudos bíblicos.

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