As igrejas, na maioria das
vezes, ensinam que seguir Jesus é ser assíduo nos cultos e não se misturar com
o mundo. E, como desdobramento desse ensinamento, defendem também a ideia de
que estar com Jesus é decorar versículos bíblicos e falar com Jesus por meio da
oração. Mas será que foi isso que Jesus ensinou?
Segundo os Evangelhos, Jesus
ensinou a seus discípulos e discípulas que segui-lo significa ser assíduo na
prática do amor (Jo 13,34-35) e misturar-se com o mundo como consciência
crítica e transformadora das estruturas sócio-políticas injustas (Mt, 5,13-16;
Jo 17,15). E, para escândalo do pessoal
apegado à letra e à oração, ensinou que estar com ele é estar com os que passam
fome e sede, com os migrantes e os nus, com os enfermos e os presos, lutando
para que tenham uma vida digna, pois o rosto das gentes sofridas é o rosto do
próprio Jesus de Nazaré (Mt 25,34-46).
Nos últimos dias, o
Carnaval, geralmente visto como festa do diabo, resgatou e apresentou, ao
Brasil e ao mundo, a verdadeira face de Jesus, claramente apresentada nos
Evangelhos e há muito tempo esquecida pelas igrejas: o Jesus cuja "boa
notícia" (evangelho) consiste em dizer que Deus está ao lado dos
sem-terra, dos índios, dos negros, das mulheres, dos LGBTIs, dos torturados e
dos moradores de rua – enfim, de todo o povo sofrido e marginalizado – e cujo
discipulado consiste num chamado a viver a fé como compromisso de sempre estar
ao lado dessas gentes por quem ele viveu, morreu e ressuscitou.
Para quem se acha
proprietário de Jesus, isso pode soar escandaloso. Mas é preciso dizer que o
Jesus dos Evangelhos não é patrimônio de nenhuma igreja ou grupo religioso. Ele
é, como cantou o samba-enredo da Mangueira, "Jesus da gente" que se encontra
"no amor que não encontra fronteira".
[1] Kinno Cerqueira é pastor batista, biblista e assessor do CEBI (Centro
de Estudos Bíblicos) na área de estudos bíblicos.
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