A comunidade sonhada por Jesus é, antes de tudo, uma
comunidade pastora. O verbo “pastorear” (na língua grega, poimaino) significa “proteger, orientar e cuidar”. Estes verbos
compõem uma parte fundamental da semântica vocacional da comunidade de Jesus:
que seus membros exerçam a proteção, a orientação e o cuidado mutuamente.
As chagas sociais do Brasil são constantemente recobertas
por mentiras. As verdadeiras causas das desigualdades são escondidas por meio
da disseminação de fake news (mentiras). Aponta-se a preguiça como explicação
para a pobreza e o esforço próprio como causa da riqueza. Com isso, esconde-se
que a pobreza é filha da injustiça perpetrada pelos que perseguem as riquezas a
qualquer custo. Uma comunidade pastora deverá buscar proteger-se das mentiras
mediante um compromisso radical com a busca da verdade.
Uma comunidade pastora haverá de formar rodas de diálogo.
Uma escuta atenta é o ponto de partida para compreender a realidade
socioeconômica do Brasil e para formular orientações pastorais que ajudem a
comunidade a viver sua fé em Jesus como compromisso com a transformação
concreta da sociedade, pois uma espiritualidade sem engajamento social não
passa de alienação religiosa.
No Brasil, cresce o ódio, a intolerância, o preconceito e a
ganância. Disso resulta uma sociedade cujo rosto carrega as marcas da
desesperança e cujo corpo sangra sem parar. São milhares de milhares que, sem
possibilidade de sonhar e sem forças para lutar, rederam-se perante os constantes
convites do submundo das drogas, do crime, do tráfico de crianças e
adolescentes. A comunidade de Jesus, por ser essencialmente pastora, terá que
traduzir sua fé justamente no cuidado para com estas pessoas, as quais Jesus
chamou de “minhas pequeninas irmãs” (Mt 25,40).
[1] Kinno Cerqueira é pastor batista, biblista e assessor do CEBI (Centro
de Estudos Bíblicos) na área de estudos bíblicos.
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