Por Marcelo
Barros
Nesta 4ª feira, a Igreja Católica no Brasil
lança a Campanha da Fraternidade 2020, com o tema Fraternidade e Vida: dom e
compromisso. Ela se dirige a todas as pessoas de boa vontade e que se colocam a
favor da paz e da fraternidade humana.
Em um Brasil cada
vez mais marcado pela divisão e pela intolerância, a Igreja Católica, no
Brasil, liga a celebração pascal à solidariedade fraterna. Há mais de 50 anos,
sempre na 4ª feira de cinzas, se abre a Campanha da Fraternidade. Neste ano, a
Campanha da Fraternidade não insiste em um problema social determinado. Não se
centra em um determinado desafio social, como tem ocorrido em outros anos.
Desta vez, o tema é assunto central da fé e da convivência social: Fraternidade e Vida: dom e compromisso. A
irmandade que Jesus veio criar em nós e entre nós é para defender a vida como
dom divino e compromisso de amor e solidariedade em relação a todos os irmãos e
irmãs. O evangelho e a Campanha da Fraternidade 2020 nos chama a aprofundarmos
o significado mais profundo da vida e a encontrarmos caminhos para que a vida
seja valorizada e defendida. O lema desta
CF 2020 é a palavra de Jesus sobre o samaritano: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33- 34).
Precisamos
ligar a fé em Deus e a espiritualidade à urgência do cuidado social com as
pessoas marginalizadas. Cada dia mais, cresce em nossas cidades a população de
rua. Milhares de pessoas jogadas nas calçadas e embaixo de viadutos como se
fossem lixos. Uma multidão de pessoas que vivem como se fossem descartáveis. O
papa Francisco tem chamado atenção para isso. Ele denuncia o que tem chamado de
“globalização da indiferença”. Para
superar essa situação, temos de fazer o que Jesus diz ao professor da Bíblia.
Depois que lhe conta a história do samaritano que cuidou do homem ferido à
margem da estrada, Jesus disse: Vai e faze o mesmo.
Essa é a
proposta da Campanha da Fraternidade deste ano:
1- o
olhar sobre a realidade do mundo e especialmente do Brasil.
2 - o discernir
o que Deus nos diz sobre isso que vemos e finalmente
3 - o que Ele
nos pede como resposta ao desafio apresentado.
O Texto-base da
CF 2020, em sua primeira parte, mostra que a realidade atual é consequência de
um modo de olhar que descuida da vida das pessoas e da natureza. O texto-base
lembra a precarização da saúde e da educação no Brasil. Todos sabemos que o
fator que gera tantas injustiças é o aumento descomunal da desigualdade social.
Além da
violência que assola as relações humanas, diariamente, nas periferias das
cidades, mesmo do interior, somos confrontados com o assassinato brutal de jovens, em sua imensa
maioria pobres e negros. Chegam a ser 63 assassinatos de jovens por dia. Um a
cada 23 minutos. Um verdadeiro genocídio.
Além disso, a
ONU e os organismos internacionais têm denunciado que, no Brasil, os povos
indígenas nunca tiveram a sua sobrevivência tão ameaçada quanto agora. E essa
mesma ameaça pesa sobre a natureza e os bens da terra.
Na segunda
parte, a partir da revelação bíblica, o texto-base aprofunda uma palavra de fé
que nos ajuda a unir a espiritualidade pascal à urgência de transformar essa
realidade. O apelo é que todas as comunidades e organismos de Igrejas possam
ser escolas de solidariedade entre seus membros, com as pessoas mais carentes e
em comunhão com a natureza.
Em sua terceira
parte, o texto-base propõe iniciativas comunitárias para gerar experiências de
solidariedade e inclusão. Tomando como exemplo a irmã Dulce, hoje chamada pela
Igreja de Santa Dulce dos Pobres, a Campanha da Fraternidade nos confirma: só
somos verdadeiramente humanos/as quando somos pessoas de solidariedade e
compaixão.
MARCELO
BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 57 livros publicados. O mais recente
é Teologias da Libertação para os nossos dias (Vozes). Email:
contato@marcelobarros.com
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