FREI ALOÍSIO FRAGOSO
(08/10/2021)
Em nossa Reflexão anterior apreciamos uma
parábola narrada por Jesus, em resposta a um doutor da lei que se aproximou e
perguntou-lhe "qual o maior mandamento da Lei?" Na verdade, o doutor da lei não buscava
resposta para algo que ele já conhecia sobejamente; sua intenção era outra, era
discutir religião em público, o que, naquela época, era motivo de vanglória e
prestígio.
Jesus então conta-lhes uma parábola
baseada em fatos reais, e todos os presentes se sentem flagrados. Os
personagens da narrativa acham-se ali, no meio deles: era um sacerdote, um
levita e um samaritano. O primeiro, figura conceituada, ungido como
representante do povo junto a Javé. O
segundo, servidor do templo, ministro do culto. Por fim, quem era o terceiro? Um intruso, execrável, alvo de ódio e
desprezo, por conta de uma longa história de rivalidades entre a Judéia e a
Samaria.
Para a maioria das pessoas ali
presentes era um insulto a escolha do samaritano como o personagem
bom e solidário, o único a
socorrer o pobre homem caído à beira do caminho. Jesus derruba uma muralha de
ódios e preconceitos, que boicotava o mandamento do amor.
A simbologia contida na parábola
permite-nos dar-lhe outras configurações. Podemos imaginar Jesus dirigindo-se a
nós, moradores de Recife. "Um certo cidadão caminhava pela Av. Agamenon
Magalhães quando foi assaltado por marginais que o expoliaram e o jogaram
sangrando à margem do asfalto. Aconteceu passar por ali um frade franciscano,
dirigindo seu pálio cinza claro, viu aquele homem, compadeceu-se, mas, neste
momento, o semáforo acendeu a luz verde e ele seguiu adiante, não podia
atrapalhar o trânsito. Logo a seguir passou um pastor protestante, viu-o
também, teve compaixão, mas, consultando o relógio, calculou que não daria para
chegar em tempo ao culto, onde era seu dever pregar a Palavra de Deus. Foi
adiante. Casualmente passou pelo mesmo caminho um morador da favela do Coque.
Avistou o companheiro ferido, teve pena, colocou-o dentro da sua carroça de
juntar papelão e conduziu-o ao Hospital da Restauração ali próximo. E permaneceu
ao seu lado todo tempo, até ver tomadas as
providências indispensáveis.
Como não imaginar a
raiva surda das elites sociais preconceituosas
e de algumas "respeitáveis" denominações religiosas, ouvindo a
homilia de um "comunista" disfarçado de Jesus!
Podemos altear mais o nosso vôo
imaginário: Jesus discursa perante os representantes dos povos, reunidos na
Assembléia Geral da ONU, em Nova Iorque. "Um certo país extremamente pobre
do continente africano estava prestes a perder metade da sua população,
contaminada pelo coronavirus. Logo o governo dos Estados Unidos prometeu uma
ajuda humanitária, precisando antes resolver uns entraves burocráticos e
políticos. Não tardou e o governo russo fez a mesma promessa, a ser cumprida
logo após ficarem claras as intenções
dos norte-americanos. Porém, no dia seguinte ao grito do S.O.S. aterrissou no
aeroporto da capital do país extremamente pobre um avião, trazendo a bordo uma
centena de médicos cubanos. Estes apressaram-se em ocupar os hospitais improvisados
do país, cuidando dos infectados. E aí permanecem até hoje.
De repente muitos se deram conta de que a
parábola do Bom Samaritano começava a converter-se em fatos reais. Notícias que
a grande mídia sonega, mas são divulgadas nas redes sociais, confirmam: o
Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) doou mais de 5 mil toneladas
de alimento e um milhão de marmitas no combate à pandemia da fome no Brasil,
durante a tragédia da covid19. Além disso, por meio do trabalho de base das
campanhas e brigadas solidárias nas
periferias urbanas e rurais contra o avanço da covid e da fome, foram formados
mais de 2.000 Agentes Populares de Saúde, que distribuiram 30.000 máscaras de
proteção para a população mais vulnerável ..." E mais e mais.
Diz o Evangelho que, ao final da sua
narrativa, Jesus perguntou ao doutor da lei: "qual destes agiu como o
próximo do homem caído à beira do caminho? - !!! - Pois bem, vá e faça a mesma
coisa" Cfr.Lc. 10,25ss
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