Marcelo Barros
Neste próximo domingo, a ONU
comemora o seu aniversário. Recorda o 24 de outubro de 1945, quando foi
proclamada a Carta das Nações Unidas. Agora, 76 anos depois, a ONU continua
necessária para regular as relações entre os Estados. No entanto, cada vez
mais, é urgente que a ONU represente toda a humanidade e não apenas os
governos. A paz, a justiça entre os
povos e o cuidado que a humanidade deve ter com a Terra são questões por demais
importantes para serem deixadas apenas aos cuidados de técnicos e governantes.
Um princípio jurídico dos tempos antigos afirmava: "Aquilo que diz respeito a todos deve ser tratado e decidido por
todos".
Nas últimas décadas, a
humanidade caminhou nessa direção. Em junho de 1992, enquanto a ONU reunia os
chefes de Estado na Rio 92, movimentos e organizações se encontravam no Aterro
do Flamengo na "Cúpula dos Povos". A partir do levante dos índios do
Sul do México (1994), os zapatistas organizaram em Chiapas três "Encontros
da humanidade pela Vida e contra o neoliberalismo". Em 2001 começou o
processo dos fóruns sociais mundiais. Depois de mais de vinte anos, esse
processo continua vivo, embora também exija constante renovação e adaptação às
novas realidades do mundo.
O protagonismo dos povos
originários e a redescoberta da riqueza de suas culturas nos revelam que o Bem
Viver, ideal comum a muitos povos indígenas, pode ser paradigma de civilização e
relações de paz e justiça eco-social para toda a humanidade.
Nesse contexto, o papa
Francisco pode declarar quantas vezes quiser que esse sistema mata. No dia 04
de outubro, festa de São Francisco de Assis, se reuniram no Vaticano 40 líderes
de diferentes religiões do mundo e emitiram um Apelo à ONU em defesa da Terra e
para deter as mudanças climáticas. Essa Declaração é importante porque
compromete as mais diversas tradições religiosas no cuidado com a mãe Terra. Entretanto,
todos sabem que se não se mudar o sistema econômico que domina o mundo, dentro de algumas décadas,
não haverá salvação para a vida no planeta Terra. É urgente que os governos não
se comportem como meros gerentes das empresas multinacionais.
Neste mês de outubro e em
novembro, a ONU fará duas conferências mundiais, uma sobre Biodiversidade e
outra sobre Mudanças Climáticas. Nestes dois encontros de cúpula, os
governantes e seus representantes poderão aprovar algumas medidas de proteção
ecológica, desde que essas não toquem nos interesses e lucros da elite
financeira internacional. É fundamental que os nossos governantes não se
comportem mais como meros gerentes das empresas multinacionais. É preciso que a
ONU retome a sua função e possa ter mais força. Para isso não pode permitir que
as organizações que dirigem os destinos da humanidade continuem sendo o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. A maior parte da humanidade
concorda com o papa Francisco quando este declara: Este sistema mata!
A sociedade civil
internacional se mobiliza em campanhas e lutas em defesa da Água como bem comum
da humanidade e direito universal de todos os seres vivos. Organizam-se fóruns
e coletivos como a Ágora dos Habitantes da Terra e a Conferência Internacional
dos Povos para que se desmonte o aparato armamentista que ameaça a Vida no
planeta.
É urgente que as Igrejas
cristãs e as religiões compreendam que essa luta pacífica da humanidade pela
Paz e pela justiça eco-social corresponde ao que, no evangelho, Jesus propõe
como "vida em plenitude", ou vida de qualidade (Cf. Jo 10, 10).
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