Prof. Martinho Condini
Os clássicos
do marxismo, em sua práxis política, trataram do Estado como uma realidade mais
complexa do que a definição da teoria marxista do Estado.
No marxismo o aparelho repressivo de Estado compreende
o governo, a administração, o exército, a polícia, os tribunais, as prisões, a
educação, etc. Eles são repressivos porque através da violência (física ou não,
como a violência administrativa), exercem o suposto papel de guardiãs da sociedade.
Para Gramsci o
Estado não se resumia ao aparelho repressivo,
mas que este é composto de aparelhos
ideológicos representados por instituições inseridas na sociedade civil.
Quando falamos
dos aparelhos ideológicos de Estado estamos
nos referindo: a família, a escola, a religião, a justiça, ao sistema político,
aos sindicatos, a cultura (letras, belas artes, esportes, cinema, teatro, etc.),
a imprensa, o rádio, a televisão, as redes sociais e a relação capital-trabalho
tão perverso no capitalismo selvagem e neoliberal que aflige as sociedades.
Apesar das
diferenças existentes entre o aparelho repressivo
do Estado e os aparelhos ideológicos
do Estado, ambos caminham juntos em perfeita harmonia em prol dos
interesses daqueles que estão no comando do Estado e a serviço dos grupos que eles
representam, ou seja, a classe dominante.
Estes aparelhos ideológicos funcionam por meio
da ideologia das classes dominantes que detêm o poder e o controle do Estado e,
conseqüentemente, dispõe do aparelho repressivo de Estado a seu favor.
Mesmo diante
desta hegemonia e controle das classes dominantes, os aparelhos ideológicos de
Estado são também espaços e lugares de luta de classes, pois neles as classes
exploradas podem resistir e encontrar formas de resistência, como por exemplo, a escola. Quero ressaltar o quanto é
importante o papel da professora e do professor nesse engajamento e resistência.
A escola é também um espaço de luta, não nos esqueçamos que educar para a liberdade é um ato político. E
isso se dá através do diálogo e da conscientização, e não por meio do controle e da dogmatização realizada pelo aparelhamento do Estado.
Muitas vezes a
escola funciona como aparelho ideológico de Estado com muita eficiência, pois
tem nele uma matéria prima de rica potencialidade a ser moldada. Às crianças e
os jovens são inseridos os valores sociais, morais, filosóficos e éticos que
interessa ao Estado burguês e não valores universais. E temos que considerar
que a presença dessas crianças e jovens na escola é obrigatória por anos, o que
facilita a sua doutrinação.
Por isso, é fundamental
que professoras e professoras dentro do espaço escolar suspeitem do trabalho que
o Estado os obriga a fazer. Por isso,
não devem se deixar levar pelo tão natural e o raso discurso da importância da
escola a qualquer preço. De qual escola? De qual Educação? Bancária ou
Libertadora? Se for aquela escola quase
inútil que tem como principal objetivo atingir os índices dos sistemas
avaliativos governamentais para que o Estado receba verbas do Banco Mundial,
essa? Interessa a quem?
Mas há uma
parcela de professoras e professores se desinteressam em fazer esses
questionamentos ao Estado que lhe paga o salário e lhe garante o sustento da
família. Mas é importante não esquecermos
que escola
não é fábrica e crianças e jovens vão para a escola para aprender e ensinar, construir conhecimento
com o outro e se espantar com as surpresas e os desafios. E que professoras
e professores não são meros papagaios de pirata repetidores das ideias e
práticas determinadas pelos lacaios que comandam o Estado burguês.
Por outro lado, o alento é que há muitas professoras e professores engajados na resistência e na luta, que diuturnamente no chão da sala de aula, com muito trabalho enfrentam com garra e galhardia essa nobre tarefa da ensinagem e da aprendizagem que liberta.
E a qualquer vacilo do Estado em
mostrar suas garras, lutam pela dignidade e liberdade de seus alunos e alunas.
E cada uma dessas professoras e professores, como se fossem beija flores, fazem
os seus trabalhos no chão da sala de aula, formando cidadãs e cidadãos
conscientes de seu papel na sociedade e sabedores da sua condição de sujeitos
da história, capazes de transformar a sua história e da sociedade que fazem
parte.
O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com
Belo e oportuno texto!
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