por Marcelo Barros
No Brasil, o presidente e os que o apoiam afirmam que a pandemia não é grave porque só mata velhinhos. Apesar disso, infelizmente, entre as 135 mil vítimas dos vírus do descuido e do desamor, há enorme proporção de jovens e de pessoas abaixo de 60 anos. A política do governo em relação a índios, negros e populações de periferias lembra a eugenia praticada pelos nazistas na Alemanha da década de 1940.
No entanto, a população brasileira continua a envelhecer.
Por isso, é importante recordar que, nesta quinta-feira, 1º de outubro, a ONU
celebra o Dia internacional das pessoas idosas. O objetivo é ajudar os mais
velhos/as a se integrarem na sociedade e garantir que a sociedade possa
assegurar os direitos das pessoas com idade igual ou superior a 60 anos.
No Brasil, desde 2003, a lei nº 10.741, chamada o Estatuto do Idoso, dispõe os direitos
assegurados às pessoas da chamada terceira idade. Nesse mesmo ano, a CNBB
começou a Pastoral das Pessoas Idosas, com o objetivo de assegurar a dignidade
e a valorização das pessoas idosas no seu ambiente social.
Apesar do envelhecimento da população, a sociedade é pensada
para a juventude. Como, em geral, os mais velhos não produzem, perdem sua
importância social. Parece que só a juventude importa. Envelhecer se torna mais
doloroso e difícil.
No Brasil, se calculam em mais de 25 milhões de pessoas que
passam dos 65 anos. Isso exige aumento de assistência, médicos especializados,
mas supõe principalmente uma sociedade menos desigual e mais humanizada. Em muitas cidades, existem associações da
terceira idade que promovem encontros, lazer, danças e passeios. As
universidades mantêm programas de extensão universitária e atividades como
cursos de computação, ginástica, natação, música, dança e outras artes.
Essas organizações propõem às pessoas idosas e a toda a
sociedade que as coisas possam ser realizadas com calma no lugar da agitação.
Sugerem a disponibilidade no lugar do estresse. Valorizam mais a qualidade e
não só a quantidade. Trata-se, finalmente, de viver a graça do dia de hoje mais
do que o afã da permanente projeção para o amanhã.
Para todo ser humano, em qualquer cultura que seja, envelhecer
é sempre um processo difícil e exigente. Não é fácil manter o espírito jovial
quando se vê o corpo decair progressivamente. No entanto, podemos fazer
escolhas que nos permitam envelhecer de forma mais humanizada.
Até hoje, ninguém sabe exatamente a causa biológica do
envelhecimento. Por isso, não se pode, até agora, deter ou evitar esse
fenômeno. Clineu de Melo, médico especialista em Geriatria da USP, afirmou: “O envelhecimento é a perda gradativa das
reservas que todos os organismos têm para usar em momentos de estresse”[1].
Todos os organismos foram pensados pela natureza para
nascer, viver, reproduzir-se e depois morrer. Assim, durante milênios, a média
da vida humana era de 30 anos. Cientistas descobriram que, a partir dos 30
anos, entramos em uma etapa da vida para a qual a seleção natural não nos
preparou. Leonard Stayflick, professor na Universidade de Califórnia, afirma: “A velhice é um produto da civilização. Só
ocorre propriamente nos seres humanos, nos animais domésticos e nos mantidos em
zoológicos e em laboratórios”.
Comumente ligamos o envelhecimento à idade. De fato, há uma
relação, mas não é direta e linear. Há pessoas de 90 anos que parecem ter 70 e
há pessoas de 60 com jeito de 90. Não se pode generalizar, mas uma pesquisa
mostra que a longevidade humana é maior em comunidades nas quais não existe
aposentadoria. É mais frequente encontrar pessoas de mais de cem anos nos
mosteiros budistas, em conventos cristãos, em comunidades afrodescendentes e indígenas do que em sociedades nas quais as
pessoas mais velhas são postas em asilos, esperando a morte.
O processo do envelhecimento depende da saúde, do clima e
mesmo da raça a qual pertencemos. No entanto, o temperamento e o estilo de vida
da pessoa em questão também influi muito. Do mesmo modo, também a espiritualidade,
como energia do espírito em ação na pessoa, pode ser elemento fundamental de
vitalidade.
A primeira coisa que as tradições espirituais propõem é
manter sempre no coração e no concreto do dia a dia um projeto de vida e a
disposição de fazer tudo em função disso, na relação com o mundo e com a
comunidade a qual pertencemos.
Em meio a um momento de forte perseguição política e de
marginalização na sua própria Igreja, Dom Helder Camara escrevia um livro de
meditações com o título: Mil razões para
viver.
Conforme a escritura, toda história do povo bíblico começou
pelo chamado de Deus a Abraão, velho e casado com uma mulher estéril. Mesmo
quando nos sentimos frágeis e como que incapazes de mudar a sociedade, Deus
torna a nossa esterilidade fecunda e, então, um novo mundo é possível.
Aos 76 anos suas palavras me renovam.
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