Por Marcelo Barros
Nesta
terça-feira, 15 de setembro, em Nova York, se abrirá mais uma assembleia geral
das Nações Unidas. Desde a última assembleia que reuniu representantes dos 193
países-membros, o mundo sofreu uma mudança inesperada. Em menos de um ano,
ninguém imaginava que um organismo minúsculo, invisível a olho nu, incapaz de
viver por si mesmo, pudesse provocar um transtorno tão grande em todos os
continentes. É claro que isso aconteceu não apenas pela capacidade mortífera do
vírus e sim pelo despreparo da sociedade em relação a este tipo de situação.
A elite
dominante do mundo e seus representantes nos diversos governos continuam a
promover uma forma de organizar o mundo baseada no individualismo e na
competição. Nenhuma religião ou ensinamento social conseguiu transmitir à
humanidade valores profundos de solidariedade e comunhão. De repente, o
coronavírus veio revelar que tudo está interligado. Querendo ou não, todos
estamos no mesmo planeta. Se um é contaminado, todos correm riscos. Ou cuidamos
uns dos outros, ou morremos todos/todas.
Esta 75ª assembleia
geral da ONU terá como tema principal a reorganização da vida no mundo depois
da pandemia. A articulação internacional de cidadãos e cidadãs de vários países
e continentes escreve a Antonio Guterrez, Secretário Geral da ONU e à
assembleia das Nações Unidas pedindo que declarem todas as vacinas contra vírus
como bens comuns da humanidade.
Há cinco anos, nesta
mesma época, o papa Francisco visitou a ONU e falou à assembleia geral. Naquela ocasião, o papa assinou o documento no
qual a ONU se comprometia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
para os quinze anos até 2030. Agora, nesta realidade de um mundo em crise, o
papa enviará uma videomensagem à assembleia da ONU. O papa proporá ao mundo
caminhos de saída para a crise social e sanitária provocada pela pandemia,
assim como a crise da economia mundial e a crise ecológica que ameaça o
planeta. O Vaticano já aceitou publicar o eixo central da palavra do papa:
"De uma crise se sai ou melhor ou
pior. Depende de nós. Não podemos, na ordem mundial e local, repetir os mesmos
modelos socioeconômicos de um ano atrás, nem ajustá-los ou envernizá-los um
pouco. Isso seria pior."
Já no dia 20 de
dezembro, no Palácio Apostólico do Vaticano, o papa e o secretário-geral das
Nações Unidas gravaram juntos um vídeo no qual pediam o fim da corrida
armamentista e do rearmamento nuclear. Nesta sua mensagem, agora, o papa
certamente retomará esta proposta. Somente em armamentos, em 2019, os governos
do mundo gastaram mais de 1,9 trilhão de dólares. Conforme o relatório anual do
Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri) divulgado na
segunda-feira 27 de abril deste ano, é o valor mais alto de gastos com armas
desde 1988. De acordo com os cálculos da OXFAM, um quinto deste dinheiro gasto
com armas resolveria o problema da fome do mundo. Esse é o escândalo que os
governos não querem abordar. O papa apontará esta ferida. Insistirá no
cancelamento drástico e total da dívida externa dos países periféricos. Tal
decisão não representa apenas um ato de bondade ou esmola dos países credores
já que, em geral, os juros da dívida já representam um peso imenso. Na
realidade, os países que devem já pagaram mais do que o triplo daquilo que
receberam como empréstimo. Portanto, o cancelamento da dívida é uma questão de
justiça. É preciso um novo começo para a sociedade internacional. Isso só
poderá ocorrer a partir de uma nova concepção de justiça social e de paz.
Nestes dias, o
organismo do Vaticano encarregado da relação com outras religiões e a comissão
encarregada do mesmo assunto no Conselho Mundial de Igrejas em Genebra
publicaram juntos um documento sobre a necessária e urgente colaboração das
religiões para formarem uma cultura de solidariedade no mundo. Juntas, as
diversas correntes espirituais poderão testemunhar a vocação de todo ser humano
para a comunhão do bem viver.
MARCELO
BARROS é monge beneditino e escritor. Tem 57 livros publicados. O mais recente
é Teologias da Libertação para os nossos dias (Vozes). Email:
contato@marcelobarros.com
Postado por Blog O Porta Voz às 18:38
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