Marcelo Barros
Nos países do
norte, o Halloween, dia das bruxas, está ligado ao costume de exorcizar os
espíritos e energias maléficas. Diferentemente, na cultura mexicana, a
celebração do dia dos mortos vem mais da tradição indígena e cristã de celebrar a nossa comunhão com os
antepassados. A sociedade capitalista incorporou o Halloween quase como
brincadeira de crianças e, através disso, manifesta sua simpatia por zumbis e
vampiros.
Nestes dias, o
povo da Bolívia teve uma eleição na qual exorcizou as bruxas do império
norte-americano e os vampiros da elite local. Há um ano, estes tinham dado um
golpe e tomado o poder. Durante este ano, cometeram muitos crimes e violências
contra o povo. Assim, mostraram tudo do que são capazes para garantir o seu
domínio e seus privilégios. Os povos indígenas e seus aliados não se
intimidaram e votaram pela democracia, pela liberdade e bem-viver para todos/as.
No mesmo
caminho está o povo da Venezuela que, daqui a um mês, no dia 06 de dezembro terá eleições para a Assembleia
Legislativa. Assim, segundo as Constituições do país, vai se renovar o
Parlamento. A guerra midiática do império e seus aliados tenta de todos os
modos criar obstáculos ao processo, mas o povo e o governo bolivariano
resistem.
No primeiro dia
de novembro, a Igreja Católica e algumas evangélicas celebram a festa da
comunhão de todos os santos e santas do céu e da terra. É o modo de dizer que, mais
do que qualquer vírus, a fé, o amor solidário e a esperança em um mundo novo
também se propagam por atração e provocam encantamento com o projeto divino no
mundo.
De acordo com o
ensinamento das Igrejas, todas as pessoas batizadas são santificadas pela graça
divina. O costume da Igreja Católica é proclamar como santos canonizados, homens
e mulheres que possam servir de exemplos de santidade para todos. Durante
séculos, os papas privilegiavam pessoas que cultivavam virtudes pessoais e
caminhos de perfeição interior.
Em dias tão
turbulentos como estes que vivemos, o papa Francisco tem chamado a atenção para
o exercício da santidade como testemunho e esforço de construirmos uma sociedade
mais justa e mais humana.
Em nossas
línguas, o termo santidade só se diferencia de sanidade por um t a mais. É
santo ou santa quem vive a sanidade de uma vida humanizada e trabalha por um
mundo mais humano e amoroso. Hoje, se vive esta vocação da santidade quando se
toma como projeto de vida que todos os homens e mulheres do mundo possam ter
uma vida de acordo com o propósito divino da paz, da justiça e da comunhão com
o universo.
O processo
social e político tem avanços e também obstáculos. Trata-se de um caminho com etapas.
Nele, há limitações e mesmo pode haver erros. Não podemos exigir perfeição de
projetos históricos e humanos. No entanto, como diz a Bíblia, há projetos que,
mesmo com limitações e defeitos, servem
à Vida e se ligam à fraternidade universal, como propõe o papa Francisco na
encíclica: Somos todos irmãos e irmãs.
Ao contrário, há outros que até podem parecer mais atrativos, mas, em seu bojo
mais profundo, provocam desamor, violência e morte. É preciso saber discernir e
não perder a noção de que a prioridade é a Vida e a Justiça eco-social.
Dom Oscar
Romero, arcebispo de San Salvador e proclamado santo pelo papa Francisco,
afirmava: é preciso restituir a dignidade da Política com P maiúsculo, aquela
que coloca como objetivo o bem comum.
Ao proclamar
bem-aventurados pobres, aflitos e pessoas com fome e sede de justiça, Jesus
revela a dimensão social e política da santidade.
No Brasil
atual, Deus nos confirma que são bem-aventuradas as pessoas que ousam assumir como
projeto de vida o sonho de um mundo novo possível. Certamente serão acusadas de
ser de esquerda e até comunistas. Jesus e os melhores profetas que tivemos
também foram incompreendidos. O importante é acolhermos como chamado divino a
proposta de ensaiar uma nova forma de organizar o mundo e a vida.
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