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domingo, 8 de novembro de 2020

PAULO FREIRE E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

 



Prof. Martinho Condini

Paulo Freire pode ser considerado um dos principais precursores no realinhamento do tradicional catolicismo brasileiro e latino americano - influenciado pelo audacioso arcebispo de Olinda e Recife Dom Helder Camara - contribuiu de maneira propositiva na estruturação e consolidação da Teologia da Libertação.

            Neste sentido testifico que a Práxis Freireana Libertadora, isto é, a construção de sua teoria de uma educação libertadora aliada a sua prática pedagógica fora de incontestável relevância para o desenvolvimento da Teologia da Libertação.

Freire assimilou toda a atmosfera ideológica do início dos anos 60.  Sua prática e seu pensamento situam-se numa perspectiva dialética onde se estabelece a dinâmica da reflexão e ação, realizando a tecitura de sua trama pedagógica. Sua relação com a igreja, mas principalmente com a Teologia da Libertação se aprofunda quando intensifica seus diálogos com Dom Helder Camara. Nesse sentido ele percebe o quanto estava comprometido com a causa dos oprimidos e esfarrapados da sociedade, como ele mesmo dizia, e quanto próximo estava da Teologia da Libertação.


Em se tratando de Práxis Freireana Libertadora e a Teologia da Libertação podemos dizer que por intermédio do pensamento filosófico, teoria educacional libertadora e prática pedagógica demonstrada em suas duas primeiras obras, Educação como Prática da Liberdade (1967) e Pedagogia do Oprimido (1968) Paulo Freire colaborou de maneira incisiva na construção dos pilares da Teologia da Libertação. Os conceitos e reflexões tratados por Paulo Freire nessas duas obras possibilitam o entrelaçamento entre a Práxis Freireana Libertadora e a Teologia da Libertação.

Os conceitos fundantes da Práxis Freireana: conscientização e libertação, serviram de esteio na construção dos princípios e práticas da Teologia da Libertação.

Para Freire a conscientização, é uma atitude humana que ultrapassa a esfera da realidade, pois, para se chegar a uma visão da realidade, o homem deve assumir uma posição de constante busca pela transformação.          

O pensamento de Freire é influenciado por um Cristianismo alicerçado na liberdade-libertação.  Para os teólogos da libertação a Práxis Freireana Libertadora foi referência e não consequência da Teologia da Libertação.

         Para José Comblin, um dos teólogos da libertação,  e que mais se aprofundou sobre o tema da liberdade,  dizia que para  Freire a liberdade não se alcançava satisfazendo os desejos imediatos e alienantes, mas no encontro com outras pessoas, no serviço da vida do próximo e da libertação.

         O teólogo, Frei Carlos Josaphat, que acompanhou Freire no Brasil e no exílio na Europa, considera-o um filósofo da libertação e que seu espírito profético concebeu um modelo unicamente filosófico e libertador.

Os teólogos em geral para fazerem os trabalhos acadêmicos tiveram que viver com os pobres e aprender com eles a sua sabedoria, ajudaram o povo a ganhar, nas palavras de Freire, consciência do seu poder e a possibilidade de promoverem a transformação como sujeitos da sua própria história.

         A Práxis Freireana, foi concebida a partir da libertação e conscientização, elementos importantes também a Teologia da Libertação, porque ambas tiveram em sua centralidade a luta contra as injustiças sociais.

 Freire e os religiosos e teólogos da libertação tiveram um constante compromisso com uma práxis social, onde o foco principal era libertar os seres humanos da sua condição de oprimidos e excluídos da sociedade, a fim de possibilitar a eles saírem da condição de ser menos para a condição de ser mais, como diria Freire. O oprimido, o excluído, o pobre passaram a ser olhados, respeitados e valorizados, tornaram-se a centralidade desse processo libertador.

         A Práxis Freireana Libertadora e a Teologia da Libertação caminharam lado a lado e trabalharam em um só rumo, em um só movimento, em um único panorama: o da realidade.          Ambas se fizeram trilhar pelos caminhos tortuosos das relações de exploração de milhares de brasileiros e latino americanos ao longo da história moderna desses povos.

         A Teologia da Libertação foi a interlocutora dessa Práxis Freireana Libertadora, utilizando-se de uma prática religiosa popular, abraçou a causa do pobre e alicerçou a construção de uma igreja denominada ‘Igreja do Pobres’.

         Na interface da Práxis Freireana Libertadora e a Teologia da Libertação encontramos os elementos que possibilitaram uma prática humanista revolucionária, e que em nenhum momento usou da violência, mas da cultura e da sensibilidade das camadas sociais nelas envolvidas.

         A Práxis Freireana Libertadora e a Teologia da Libertação foram ao mesmo tempo, profana e religiosa, real e utópica, violenta e pacífica, ambas com a mesma perseverança e obstinação, para possibilitar e garantir aos humanos desprotegidos e desfavorecidos da Latina América, do Brasil ou qualquer outra parte do mundo, ser reconhecidos e respeitados dignamente como seres humanos na melhor concepção da palavra.

 

O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com

 

 

 

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