Prof. Martinho Condini
Paulo
Freire pode ser considerado um dos principais precursores no realinhamento do
tradicional catolicismo brasileiro e latino americano - influenciado pelo
audacioso arcebispo de Olinda e Recife Dom Helder Camara - contribuiu de
maneira propositiva na estruturação e consolidação da Teologia da Libertação.
Neste sentido testifico que a Práxis
Freireana Libertadora, isto é, a construção de sua teoria de uma educação
libertadora aliada a sua prática pedagógica fora de incontestável relevância
para o desenvolvimento da Teologia da Libertação.
Freire
assimilou toda a atmosfera ideológica do início dos anos 60. Sua prática e seu pensamento situam-se numa
perspectiva dialética onde se estabelece a dinâmica da reflexão e ação,
realizando a tecitura de sua trama pedagógica. Sua relação com a igreja, mas
principalmente com a Teologia da Libertação se aprofunda quando intensifica seus
diálogos com Dom Helder Camara. Nesse sentido ele percebe o quanto estava
comprometido com a causa dos oprimidos e esfarrapados da sociedade, como ele
mesmo dizia, e quanto próximo estava da Teologia da Libertação.
Em se
tratando de Práxis Freireana Libertadora e a Teologia da Libertação podemos
dizer que por intermédio do pensamento filosófico, teoria educacional
libertadora e prática pedagógica demonstrada em suas duas primeiras obras, Educação
como Prática da Liberdade (1967) e Pedagogia do Oprimido (1968) Paulo Freire
colaborou de maneira incisiva na construção dos pilares da Teologia da
Libertação. Os conceitos e reflexões tratados por Paulo Freire nessas duas
obras possibilitam o entrelaçamento entre a Práxis Freireana Libertadora e a Teologia
da Libertação.
Os
conceitos fundantes da Práxis Freireana: conscientização e libertação, serviram
de esteio na construção dos princípios e práticas da Teologia da Libertação.
Para
Freire a conscientização, é uma atitude humana que ultrapassa a esfera da
realidade, pois, para se chegar a uma visão da realidade, o homem deve assumir
uma posição de constante busca pela transformação.
O
pensamento de Freire é influenciado por um Cristianismo alicerçado na
liberdade-libertação. Para os teólogos
da libertação a Práxis Freireana Libertadora foi referência e não consequência
da Teologia da Libertação.
Para José Comblin, um dos teólogos da
libertação, e que mais se aprofundou
sobre o tema da liberdade, dizia que
para Freire a liberdade não se alcançava
satisfazendo os desejos imediatos e alienantes, mas no encontro com outras
pessoas, no serviço da vida do próximo e da libertação.
O teólogo, Frei Carlos Josaphat, que
acompanhou Freire no Brasil e no exílio na Europa, considera-o um filósofo da
libertação e que seu espírito profético concebeu um modelo unicamente
filosófico e libertador.
Os
teólogos em geral para fazerem os trabalhos acadêmicos tiveram que viver com os
pobres e aprender com eles a sua sabedoria, ajudaram o povo a ganhar, nas
palavras de Freire, consciência do seu poder e a possibilidade de promoverem a
transformação como sujeitos da sua própria história.
A Práxis Freireana, foi concebida a
partir da libertação e conscientização, elementos importantes também a Teologia
da Libertação, porque ambas tiveram em sua centralidade a luta contra as
injustiças sociais.
Freire e os religiosos e teólogos da
libertação tiveram um constante compromisso com uma práxis social, onde o foco
principal era libertar os seres humanos da sua condição de oprimidos e
excluídos da sociedade, a fim de possibilitar a eles saírem da condição de ser
menos para a condição de ser mais, como diria Freire. O oprimido, o excluído, o
pobre passaram a ser olhados, respeitados e valorizados, tornaram-se a
centralidade desse processo libertador.
A Práxis Freireana Libertadora e a
Teologia da Libertação caminharam lado a lado e trabalharam em um só rumo, em
um só movimento, em um único panorama: o da realidade. Ambas se fizeram trilhar pelos caminhos tortuosos das
relações de exploração de milhares de brasileiros e latino americanos ao longo
da história moderna desses povos.
A Teologia da Libertação foi a
interlocutora dessa Práxis Freireana Libertadora, utilizando-se de uma prática
religiosa popular, abraçou a causa do pobre e alicerçou a construção de uma
igreja denominada ‘Igreja do Pobres’.
Na
interface da Práxis Freireana Libertadora e a Teologia da Libertação
encontramos os elementos que possibilitaram uma prática humanista
revolucionária, e que em nenhum momento usou da violência, mas da cultura e da
sensibilidade das camadas sociais nelas envolvidas.
A Práxis Freireana Libertadora e a
Teologia da Libertação foram ao mesmo tempo, profana e religiosa, real e
utópica, violenta e pacífica, ambas com a mesma perseverança e obstinação, para
possibilitar e garantir aos humanos desprotegidos e desfavorecidos da Latina
América, do Brasil ou qualquer outra parte do mundo, ser reconhecidos e
respeitados dignamente como seres humanos na melhor concepção da palavra.
O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre
em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom
Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom
Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara, um nordestino cidadão do
mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo
Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo
Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo
de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com
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