Prof. Martinho Condini
No século XVIII um sacerdote católico francês, Jean Meslier
(1664-1729) escreveu em seu testamento - que só foi descoberto após a sua morte
- um tratado filosófico promovendo o ateísmo e um testamento onde ele
denunciava a “falsidade e vaidade de todas as divindades e todas as religiões
do mundo. Em seu livro “Extrait des sentiments” publicado pela primeira vez em
1762, ele escreveu a celebre frase “o homem só será livre quando o último rei
for enforcado nas tripas do último padre”.
Na História brasileira desde a catástrofe chegada dos
portugueses por aqui, no último ano de século XV até os nossos dias, podemos
contar nos dedos às pessoas que merecem o nosso respeito e admiração. Seres humanos
que de verdade influenciaram de maneira positiva na nossa história e que nos
dão orgulho da nossa brasilidade.
Estamos quase no final do primeiro quarto do século XXI, enfrentando
uma das maiores crises no âmbito político, econômico, social, educacional e
espiritual. Além de uma pandemia que já matou mais de 150 mil pessoas em solo
brasileiro.
E o que vimos até agora foram lideranças políticas cretinas
utilizando-se de um problema de saúde pública sem precedentes na nossa história
como instrumento de campanhas políticas ou com posturas esdrúxulas para não
perder prestígio com seu eleitorado ou o seu gado.
Às vezes me parece que uma parcela da sociedade brasileira
perdeu a sua dignidade, seu discernimento sobre a realidade, muitas vezes em função
das necessidades que o capitalismo neoliberal os impõe ou talvez pela influência
da enxurrada de asneiras que essas pessoas lêem nas redes sociais, e o pior,
acreditam nas informações. Por isso talvez, se sujeitam ao comando de falsas lideranças
insensatas, sem conteúdos e atitudes.
No processo eleitoral brasileiro deste ano estamos ouvindo falas
iguais as de mais de trinta anos atrás,
seja ela de direita ou de esquerda. Acrescentadas pelas novas formas de
comunicação das redes sociais, que se aproveita muito pouco. E num país que não
se tem o hábito da leitura, alguns preferem ler o whatssap ao invés de um livro
ou uma boa matéria jornalística.
O
Estado continua exercendo o mesmo papel de sempre, legitimar os interesses da
classe dominante.
Não nos esqueçamos
que a nossa elite não tem bandeira ideológica, tem sim, gana pela grana e o
poder, por isso, está sempre atrelada a qualquer governo que vença uma eleição,
para que ela possa perpetuar no comando do Estado.
A classe política, a classe empresarial e o Estado
brasileiro estão firmes em sua missão e papéis de paladinos dos interesses dos
detentores dos meios de produção.
Por tudo isso me lembrei do sacerdote Meslie. Será que não é
chegada a hora de refletirmos sobre as palavras e propostas do sacerdote
anarquista, como ficou conhecido?
Não podemos mais suportar o joguete de partidecos políticos
(direita reacionária, esquerda inconseqüente e centrão corrupto), religiões
caça níqueis defensoras da teologia da prosperidade, judiciário de porta de
cadeia, lideranças políticas nauseabundas e líderes religiosos inescrupulosos.
Tudo isso sobre a lona de uma democracia
servil e legitimadora da tirania do
Estado e seus penduricalhos.
Quando o sacerdote Meslie, menciona o rei e o padre no
século XVIII, ele se utiliza dessas duas figuras que representavam na época o
poder, o autoritarismo, a força, a punição, a corrupção, o controle ideológico
e religioso, a mentira, ou seja, a total ausência de liberdade.
Hoje, supostamente temos a “liberdade” para escolhermos por
quem seremos controlados: pelo Estado, pela Religião, pelo Capitalismo, pelo
Socialismo, pela Escola, pelas Redes Sociais ou pelas Democracias Integristas.
Infelizmente o
espírito libertário e a utopia, engrenagens para a transformação social estão se esvaecendo e sendo engolidos por uma neo
modernidade liberal travestida onde predomina o individualismo, o retrocesso, a
meritocracia e o reacionarismo.
O Prof. Martinho Condini é
historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador
da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus
Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança', 'Helder Camara,
um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação Libertadora:
Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da Liberdade:
Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro
'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato profcondini@gmail.com
Fico pensando que ainda combatemos inimigos imaginários como Dom Quixote e os verdadeiros se escondem nas névoas da religião .Por isto precisamos urgentemente entender onde estão e quem são os inimigos para localizá-los ,combatê-los e vencê-los.
ResponderExcluirSempre atual e lúcido professor! Parabéns!
ResponderExcluirO texto reflete o pessimismo que sentimos diante de nosso quadro político!
ResponderExcluir