Marcelo Barros
Conforme
proposta do papa Francisco, neste próximo domingo, 15 de novembro, a Igreja
Católica celebrará o 4º Dia Mundial do Pobre. Para este ano, o papa propõe como
tema: «Estende a tua mão ao pobre». É uma palavra tirada de um dos últimos
livros do primeiro testamento. O Eclesiástico foi escrito em grego e por isso
nem consta na versão das Bíblias usadas por algumas Igrejas evangélicas. Hoje,
este conselho do livro sagrado (Sir 7, 32) nos orienta a como agir
de modo que possamos superar as barreiras da indiferença social e construir uma
sociedade fundamentada na irmandade de todos e todas. Como, neste momento, os
movimentos sociais têm repetido: “ninguém largue a mão de ninguém”.
Neste tempo de
pandemia, um dos cuidados necessários é evitar os contatos pessoais,
principalmente com as mãos. A imunização manda lavar constantemente as mãos e
sempre que seja necessário, com álcool. No entanto, a proposta do papa
Francisco ao retomar este preceito do livro da Sabedoria é mais do que toque
corporal. Pede que nos coloquemos firmemente do lado dos pobres na hora de
votar no próximo domingo para representantes do poder municipal e no modo de
enfrentar este difícil tempo em que vivemos.
Ao propor este
domingo como Dia Mundial dos Pobres, o papa chamou a atenção para que não seja
um dia de estudo sobre a pobreza, nem apenas a denúncia de que, no mundo atual,
as desigualdades sociais aumentam e a vida dos pobres se torna a cada dia mais
precária. Ele nos pede que seja um dia de humanização do nosso convívio. Seja
um dia de maior comunhão com as pessoas mais pobres que passam ou vivem ao
nosso redor.
Nestes três
anos anteriores, ele mesmo tem dado o exemplo e todos os anos tem feito um
almoço e encontrado formas de conviver e se colocar ao lado de pessoas que
muitas vezes na sociedade são invisíveis.
Além disso, o
papa tem procurado sempre dialogar com os movimentos sociais que organizam os
pobres na sua caminhada de libertação. Mesmo nestes tempos de isolamento
forçado, provocado pela pandemia, o papa nos dá o exemplo. No sábado, 24 de
outubro, através do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, reuniu
no Vaticano representantes de movimentos sociais de todo o mundo.
Esta iniciativa
do papa de encontrar com representantes
dos movimentos sociais começou em 2014 no Vaticano. Houve um segundo encontro
dos movimentos sociais com o papa na Bolívia em 2015 e depois novamente no
Vaticano em 2016. Desta vez, o encontro se realizou através de videoconferência.
Estiveram presentes cerca de 150 representantes de movimentos sociais que
responderam neste encontro à carta que o papa lhes dirigiu por ocasião da
Páscoa. Ali estava a Via Campesina que
reúne mais de cem milhões de lavradores no mundo. A Slum Dwellers da Índia representava os pobres
da cidade. As comunidades afro indígenas da Bolívia, os movimentos de meninos
de rua da Guatemala, o Movimento Africano de Crianças e de jovens que trabalham
na Costa do Marfim, as Brigadas de Paz do México e várias outras estavam
presentes.
Os três
objetivos do encontro foram:
1º - aprofundar
a reflexão sobre os chamados três T: terra, teto e trabalho, direitos sagrados
sobre os quais o papa e os movimentos sociais têm insistido.
2º - partilhar
as reflexões sobre a última encíclica do papa “Somos todos irmãos e irmãs”.
3º - discutir as
perspectivas e as propostas do que se está chamando a “Economia de Francisco e
Clara”, tema do encontro que, ainda neste mês, mesmo que seja virtualmente, o
papa terá virtualmente com economistas jovens do mundo inteiro.
Desde o seu
primeiro encontro com os movimentos sociais, o papa tem deixado claro que ele
convoca estes encontros não para que os participantes ouçam o que o papa tem a
lhes dizer e sim para que o papa os escute e eles saibam que o papa está do
lado deles na luta profética por um mundo novo possível. Esta é a interpelação
que a proposta do Dia Mundial dos Pobres nos traz: colocar-nos junto deles na
caminhada da Vida. Como sempre nos ensinou a teologia da libertação: junto com
os pobres, contra a pobreza injusta.
Como escreve o
papa Francisco, na mensagem que mandou para nós a respeito da celebração deste
dia: “O
objetivo de cada ação nossa só pode ser o amor. Este é o objetivo para onde
caminhamos, e nada deve nos distrair dele. Este amor é partilha, dedicação e
serviço, mas começa pela descoberta de que primeiramente fomos nós amados e
despertados para o amor. Esta finalidade aparece no momento em que a criança se
cruza com o sorriso da mãe, sentindo-se amada pelo próprio fato de existir. De
igual modo um sorriso que partilhamos com o pobre é fonte de amor e permite
viver na alegria. Possa então a mão estendida enriquecer-se sempre com o
sorriso de quem não faz pesar a sua presença nem a ajuda que presta, mas
alegra-se apenas em viver o estilo dos discípulos de Cristo”.
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 57 livros dos quais o mais recente é "Teologias da Libertação para os nossos dias", Ed. Vozes, 2019. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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