FREI ALOÍSIO FRAGOSO
(12/03/2021)
O assunto juventude voltou a ser destaque
com a má notícia de que a nova variante do coronavírus já não faz distinção de
faixa etária, e isso agrava a crise de leitos, uma vez que os jovens, sendo
mais resistentes ao vírus, ocuparão por mais tempo as UTIs.
À parte isso, a pergunta feita acima é
redundante. Não dá para imaginar um só momento da História em que ela não se
faça ouvir em muitas vozes e muitos lugares: onde estão os jovens? Por trás
dela se esconde a idéia de que a juventude é o termômetro da sociedade. Quando
os jovens estão fervendo, a sociedade está quente. Quando eles esquentam, a
sociedade está morna. Quando eles esfriam, a sociedade congela.
Daí a curiosidade de indagar: a que nível
de temperatura estamos nesta situação crítica que hoje atravessamos?
Antes de ter início a pandemia, ao
participar dos movimentos de rua, em defesa da democracia e dos direitos
humanos, eu me surpreendia, não poucas vezes, com o grande número de jovens ali
presentes. Contudo, esta visibilidade diluída na multidão, não caracteriza a
juventude. Onde os jovens estiverem, se não forem os protagonistas, ou não
assumirem uma tarefa em que possam exercer o seu protagonismo, eles perdem
identidade, não provam a que vieram.
É interessante observar um detalhe nos
quatro Evangelhos. Raríssimas vezes os seus autores registram a faixa etária
dos personagens. Quando isso acontece, a referência é a figura de um jovem.
Deu-se o caso de um deles que se aproximou de Jesus cheio de vibrações:
"Mestre, eu te seguirei, onde quer que fores!" Jesus não deixou por
menos: "As raposas têm suas covas, os pássaros os seus ninhos, mas eu não
tenho sequer onde repousar a cabeça" Mt. 8,20. É como se dissesse: se você
procura alguma vantagem pessoal, passe adiante; só tenho a oferecer minha
Palavra. Seguir-me é confiar e lançar-se!
Com isso Jesus sugere que é justamente
desse tipo de gente que Ele estava precisando: aventureiros, não presos às
tradições, apreciadores de propostas ousadas. Este cenário se reproduz em todas
as épocas. Há sempre um jovem, em alguma encruzilhada do mundo, buscando a
chance de realizar um sonho, uma utopia, uma aventura, uma loucura. E é a
partir desta matéria prima que a História tem produzido heróis e heroínas,
revolucionários, santos e santas. S. Francisco tinha 24 anos quando abriu o
Evangelho, leu um texto e disse "é isso que eu procuro, é isso que eu
quero, é isso que farei de todo coração". Algum tempo depois, ele
acrescentará "O Senhor me chamou pra ser um novo louco no mundo".
Se
eu falasse neste momento para uma plateia constituída só de jovens , a minha
primeira pergunta seria esta: o que é feito de seus sonhos? Seu sonho é você e
sua possibilidade. Por isso ele é maior do que você. E mais bonito. É ele que o
torna uma pessoa apaixonada. Sem paixão um jovem torna-se irreconhecível. Uma
caricatura. A paixão é que o leva a sentir, pensar, decidir e entregar-se por
inteiro. Já o sonho constitui um desejo sem medida, sem peso, sem preço e sem
limite. Um sentimento que ultrapassa a fronteira da normalidade e se aproxima
da loucura. Por isso os grandes santos e revolucionários sempre foram chamados de loucos pelos seus
contemporâneos.
Os poderes ditatoriais, em todos os
tempos, tentam arrebanhar os jovens para seu serviço. Em nosso país atualmente,
isso não acontece por incompetência dos comandantes. Mas Hitler o conseguiu
porque seus assessores eram gênios da maldade. Outros são gênios da
mediocridade.
Talvez algum jovem me diria: "a
realidade é insuportável, ela não abre nenhuma brecha para entrarmos com nossos
sonhos". Talvez um adulto acrescentaria: "o modelo social dominante,
comandado pelo Mercado e a Sociedade de Consumo tem os jovens como seus
melhores clientes e é perito em seduzi-los. Não lhes rouba os sonhos, mas
muda-os de sonhos idealistas para sonhos consumistas. Poucos escapam."
Como convencer um jovem de que ele é maior
do que a realidade porque possui a consciência dela e o poder de transformá-la?
Chegamos a um impasse, e não podemos
concluir, neste ponto, este pretensioso diálogo. Enquanto esperamos o próximo
capítulo, meditemos sobre estas palavras do jovem Jesus de Nazaré: "Eu vim
ao mundo trazer fogo e o que quero é que este fogo acenda" Lc.12,49.
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