Por Marcelo
Barros
Os tempos
são maus. Cada dia, as desigualdades sociais se agravam e a riqueza se
concentra nas mãos de menos gente. Em Brasília, para agradar aos empresários do
agronegócio, o Ministério do Trabalho abre as portas para legitimar o trabalho
escravo. Em São Paulo, o gerente municipal declara que pobre não tem
"hábito alimentar" e apresenta comida com prazo de validade esgotado para
servir na merenda escolar e como alimento para pobres de rua. Manifestação na
Paulista pede a volta dos militares. E Bolsonaro declara que o seu modelo de
líder é o presidente Trump.
O pior é
que não somente vivemos tempos de opressão, mas também de estupidez. Em vários
países, presidentes se destacam, não por sua inteligência, ou capacidade de
governar e sim por sua insensatez. E as pessoas vivem como se a intolerância e
o ódio fossem o normal. Nos Estados Unidos, a cada ano, morrem mais de 11 mil
pessoas, vítimas de armas de fogo. Em todos os estados do país, há mais pontos
de venda de armas do que lanchonetes. Com essa cultura, se compreende que, nos últimos
dois meses, em todo o país, tenham surgido mais de nove mil focos de racismo
declarado. Esses grupos retomam práticas da Klus-klus-Kam. Reúnem-se para atacar,
ferir e, quando possível, matar índios, negros e migrantes... Embora de modo
discreto, contam com a aprovação e apoio do seu líder maior. Esse, deixa claro
que considera a ONU uma idiotice. Prega que o cuidado ecológico é uma fantasia
para crianças e o diálogo com outros povos uma perda de tempo. Recentemente, o
presidente Trump deu um passo além. Ele e o presidente da Coreia do Norte
trocaram ameaças e prometeram simplesmente detonar uma guerra nuclear. Talvez,
a insensatez maior seja a das pessoas que não levaram isso a sério. Eduardo
Hoornaert, mestre e historiador, lembra que, durante os anos 30, na Alemanha,
Adolf Hittler proclamava ao mundo que iria conquistar o mundo e limpar a
humanidade das etnias inferiores que não tivessem a pureza da raça ariana. Os
líderes da Europa achavam que se tratava apenas de incontinência verbal do
ditador alemão. Até que, em 1939, ele invadiu a Polônia. Aí já era tarde para
detê-lo. Atualmente, há mais de 38 bombas nucleares armazenadas em algum lugar
dos Estados Unidos, da França, da Inglaterra, Alemanha, Japão e Índia. Agora, a
Coréia do Norte também pode jogar sobre o mundo o seu artefato nuclear de
última geração. Qualquer uma dessas bombas é dez mil vezes mais potente do que
as que, em 1945, destruíram Hiroshima e Nagazaki, produzindo mortes e doenças
por décadas e décadas.
Há mais de
50 anos que a ONU tenta levar as nações a firmarem pactos de não proliferação
de armas nucleares. Agora, o fundamentalismo de governos como o do Irã, o
expansionismo de Putim na Rússia e principalmente a loucura insensível de
Donald Trump e de King-Jong-Un podem conduzir o mundo a um ponto sem volta. Em
meio a grupos da sociedade civil, nasce um movimento para levar o presidente
dos Estados Unidos e o líder da Coréia do Norte a um tribunal internacional.
Ambos podem e devem ser acusados de crime contra a humanidade.
Nos anos
recentes, nos Estados Unidos, várias pessoas têm sido presas e condenadas pela
lei de segurança nacional simplesmente por terem feito alguma piada na qual
fingiam praticar terrorismo. Era brincadeira, mas o assunto é considerado sério
demais para permitir humorismo. Como a sociedade internacional pode aceitar que
dois governantes que se destacam pela mediocridade intelectual e falta de
sensibilidade com seus semelhantes possam proclamar ameaças tão graves para a
sobrevivência da humanidade e de toda a vida no planeta?
Nessa
semana, de 10 a 11 decidiu promover no Vaticano dois dias de reflexão sobre
“Perspectivas para um mundo livre das armas nucleares e para um desarmamento
integral”. Para esse encontro, o papa
convidou 11 vencedores do prêmio Nobel da Paz, a cúpula da ONU, da OTAM e
embaixadores de vários países. Ali se encontrarão representantes da sociedade
civil e ministros de várias religiões que concordam: armamentos e guerras nunca
são soluções justas para o caminho da humanidade.
Todas as
tradições espirituais nos convidam a apostarmos que a paz é sempre possível.
Crer em Deus é aderir ao seu projeto de paz. Quando a Bíblia diz que Deus
transformará as armas de guerra em arados e instrumentos de cultivo, subtende
que ele fará isso através de nós. Somos nós que temos de ser as pessoas
abençoadas (bem-aventuradas) que, nos comportamos como filhos e filhas de Deus,
porque construímos a paz.
Marcelo Barros,
monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor
nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de
base e de movimentos populares. É coordenador latino-americano da ASETT
(Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros
publicados no Brasil e em outros países
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