Kinno Cerqueira [1]
Um dos principais
sustentáculos do atual cristianismo brasileiro é a imagem mental de um Deus
todo-poderoso assentado sobre um trono de glória, majestade e poder. A consequência
homilética dessa imagem é a prevalência de sermões/homilias em cujo centro está
a censura da fragilidade humana, do inacabado e do caminho por fazer que somos.
Para quem está habituado
ao Deus todo-poderoso, soa desconcertante esta afirmação de Jesus: “Quem vê a
mim, vê o Pai” (Jo 14,9). Com estas palavras, Jesus apresenta-se como espelho
no qual podemos contemplar aquela imagem de Deus em geral encapada por nosso
desejo de poder: o Deus frágil, pobre, nu, indigente, mendigo.
A fragilidade de Jesus
interpela-nos a que nos libertemos dessa imagem mental em que Deus é a
divinização da negação de nossa fragilidade. Na manjedoura, não encontramos
outra imagem senão a do menino carente, nem outra voz a não ser seu choro, nem
outro assombro que não seja sua pequenez, sua dependência, sua absurda
fragilidade.
No corpo do menino,
tocamos nosso próprio corpo, esse corpo habitado por carências, medos, faltas.
E na sua voz, escutamos nossa própria voz, os sussurros mais secretos de nossa
alma, os soluços de nosso existir aportados no cais de lágrimas de nosso íntimo
mais invernal.
O caminho rumo à
manjedoura inaugura o encontro com a imagem do Deus frágil, interpelação a
libertarmo-nos de imagens de Deus repressoras do que nos constitui, possibilidade
de reconciliação com a fragilidade que somos. A manjedoura não pode acolher-nos
a não ser que acolhamos, antes de tudo, nossa própria fragilidade.
[1] Kinno Cerqueira é pastor batista, biblista e assessor do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) na área de estudos bíblicos.
Deus o abençoe por nos brindar com a sua sapiência, bondade, generosidade e delicadeza ímpar!!!
ResponderExcluirKinno, grata por nos mostrar essa fragilidade. Foi por ela que chegamos perto da compreensão do que Deus quer de nós. Que possamos continuar caminhando juntos para o encontro com o Pai. Feliz Natal
ResponderExcluirIndelevelmente potente e suave ao mesmo tempo. Gratidão Pr. Kinno por sua sensibilidade mística.
ResponderExcluirQue lindo pastor Kinno. Que esse encontro com o menino Jesus, possa derrubar a ideia que o homem tem, de que o importante é ser poderoso. O importante é ser simples. Feliz Natal querido.
ResponderExcluirAmem. Obrigada Kinno por nos levar a reconhecer nossa fragilidade e assim nis aproximarmos mais e mais do cominho de Deus!
ResponderExcluirPastor kinno, suas palavras confortam nossos corações em confirmar nossas fragilidades e nossa dependência do Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
ResponderExcluirAmo saber que Jesus na sua fragilidade, foi forte o suficiente para carregar a cruz da Salvação sem preconceitos, sem discriminação e nos ensinando o Perdão, a Gratidão e o Amor incondicional.
Obrigada, meu amado pastor.
Gratidão por suas reflexões virtuosas, por sua coragem em expressá-las com amor e verdade.
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