Pe Fabio Potiguar dos Santos
Era noite. Tudo escuro.
Homens pastores eram guardados por suas ovelhas. Um fogo de gravetos em chamas
cintilantes refulgindo em rostos olhos de pessoas e animais. Não muito longe
dali, numa lapinha, uma mulher dava à luz ao seu menino acompanhada daquele que
lhe é enfermo de amor: José. Tudo muito
singelo e discreto. Não fosse o anjo e a estrela alumiada no céu a proclamar o
nascimento, nada mais anunciava a noite revestida de luz. É preciso levantar a
cabeça e contemplar os luzeiros acessos nos céus de noite... faz-se necessário
e urgente sentir mais além e perceber a insustentável leveza de um anjo.
Era noite e escuro. Um
anjo de Deus se apresentou aos pastores envolvendo-os de luz. “Tenho para vocês
uma notícia boa e nova, uma grande alegria: nasceu hoje para vocês um menino, o
Salvador!”
Sinto asas em meus
braços, minha boca é cheia de riso e meus lábios de uma canção natalina. Sou o
anjo do alegre anúncio. Digo com o coração bailando e iluminado: “Nasceu hoje
para você, um menino, o Salvador do mundo!”
Veja, você está agora
todo cercado e envolvido de luz. Sinta a mágica de luz e de cores. Da tela
desse artigo sai algo mais do que sei lá. Seu rosto está todo iluminado, seu
corpo é tomado de uma sinergia envolvente...
Você está vendo?
Ontem, há dois mil anos,
um anjo apareceu aos pastores. Hoje um anjo aparece a você. Seja menino ou
menina, porque só eles podem experimentar, iguais aos pastores, essa visão.
Sim, com mente e coração abertos, você de novo criança, abra os olhos e veja
anjos dançando nas nuvens cantando glória para Deus e cantado paz, alegria,
força e amor à você. Você soltou sua imaginação. Você ver agora. Enquanto a
multidão do coro celestial entoa hinos,
o meu anjo amigo e o seu anjo
amigo, diz a mim e a você a alegria: “Nasceu hoje o um menino”. Ele continua
nascendo em cada criança que nasce, sem exceção, mas teima em nascer naquelas
que nascem na miséria, na pobreza e na opressão como Ele nasceu. Sejam pastores
para todas elas, repito, sem exceção, mas principalmente por aquelas que nascem
nas periferias dos impérios de hoje como ele nasceu na periferia do império
romano em Belém, Casa do Pão, sendo Ele mesmo o Pão, nos ensinando já no
mistério da encarnação o que fez no mistério pascal, tomar o pão, partir o pão,
partilhar o pão.
Nascemos a imagem de
Deus. Hoje Deus nasce à imagem do Homem. Deus é carne de nossa carne de agonia
e prazer. E por falar na carne de Deus, qual a cor de Deus, hein?
Estava morando na França,
eu e Eduardo começamos uma relação epistolar. Escrevíamos sobre tudo. Lá pelo
meio das tantas, sendo eu um padre vivendo num mosteiro trapista e ele um poeta
e um intelectual professor universitário
em Fortaleza, começamos a falar de Deus. Eduardo então me saiu com essa: “Qual
a cor de Deus?” Respondi-lhe que perguntasse ao meu sobrinho João, com dois
anos na época, ele como criança saberia como ninguém a cor de Deus. Chegou o
dia. Com Joãozinho no colo, preferiu perguntar a Pedro, menino de uma
sensibilidade fabulosa. Enquanto Pedro colocava a mão no queixo e levantava a
cabeça e olhos pensativo, Joãozinho não perdeu tempo e mandou ver: “A cor de
Deus?”. E tocando a pele de Eduardo disse. “A cor de Deus é essa aqui!”. Chorei
quando recebi a carta com a resposta. A cor de Deus, como canta meu irmão gêmeo
Fabiano, o pai dos meninos, a cor de Deus é
índio, é negro, é branco é multicolor.
Natal... “e o Verbo se fez carne
e habitou entre nós!” .
Natal. Deus se faz humano
para o humano se fazer partícipe do divino pelo mistério da encarnação que é um
único mistério da morte e ressurreição. Quando na Missa, por, com e em Cristo,
no Espírito Santo se oferece ao Pai o Sacrifíco Pascal que nos recria, salva e
nos redime, na preparação das oferendas, no momento que se coloca uma gota de
água no cálice, se ora em silêncio: “Pelo mistério dessa água e desse vinho
possamos participar da divindade do vosso Filho que se dignou assumir nossa
humanidade”.
Padre Fabio Potiguar Santos Capelão das Fronteiras, membro da Comissão de Justiça e Paz e coordenador da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter- religioso da Arquidiocese de Olinda e Recife
é arco-íris, a cor que inclui todos nós
ResponderExcluirNunca tinha pensado qual seria a cor de Deus, aí vem uma criança, e nos mostra com sua pureza, está bela resposta. Muito linda está mensagem.
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