Prof. Martinho Condini
“Aula não ensina, prova
não avalia”, está frase é do Professor José Pacheco, fundador da Escola da
Ponte em São Tomé, Portugal, há mais de quarenta anos.
Muitos professores(as) e diretores(as) estudaram, beberam e
respiraram o pensamento e a prática de pensadores da educação como, por
exemplo, Vigotsky, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Rubem Alves e
outros.
O mais incrível é que muitos deles continuam a desempenhar
os seus trabalhos educacionais na escola do século XIX. Mas a maioria desses
profissionais é do século XX e grande parte dos seus alunos (as) é do século
XXI.
Assim sendo, para a maioria desses profissionais em meio a
tantas aulas remotas ou on line em plena pandemia, não estiveram tão
preocupados com a formação dos seus alunos, mas, como as avaliações e como
fazer para evitar as “colas”.
Prevalece ainda em nossa cultura educacional a avaliação como
o êxtase do processo ensino-aprendizagem, às vezes, tenho a impressão que a
aplicação de algumas formas de avaliação me parece mais uma atitude sádica do
que compassiva por parte dos educadores.
Então, quando analisamos os dados estatísticos em relação ao
aproveitamento naquelas avaliações impostas pelo Estado, verificamos que o
aproveitamento dos nossos alunos estão abaixo dos índices satisfatórios para os
padrões estabelecidos.
Uma hipótese para explicar esse dado é que aula não ensina e
prova não avalia mesmo, porque o nosso ano letivo é de duzentos dias e muitas
avaliações são realizadas durante esse período.
Outra hipótese seria a qualidade da formação dos nossos
professores (isso não significa que o professor(a) seja o culpado pela “aula
não ensinar e a prova não avaliar”).
Mas, o sistema educacional neoliberal que mercantilizou o
ensino superior tem responsabilidade
direta com as hipóteses expostas. Desde que os interesses econômicos se
sobrepuseram aos interesses educacionais, a qualidade dos cursos de
licenciaturas passam a ser menos importante do que o valor das ações dessas
instituições na bolsa de valores. E na pandemia isso se agravou mais ainda com
dispensa de professores, acentuando a precarização dos cursos de licenciatura e
as condições de trabalho do professores formadores dos profissionais da
educação.
Se ao contrário do que afirmou o Professor José Pacheco, “a
aula ensina e a prova avalia”, e estamos fazendo isso desde quando os jesuítas
aqui chegaram, se em algum momento isso deu certo, hoje não esta dando mais, se
estiver dando certo é para uma minoria, e se é
para uma minoria, alguma coisa está
fora de lugar.
Nós continuamos a ter um sistema educacional que invés de
formar oprime. O papel da educação escolar é formar, possibilitar o
conhecimento e ser inclusiva. A meritocracia é para o mercado, o
capitalismo impôs suas engrenagens para educação, mas a educação é processo de
formação, quem estabelece metas são os banqueiros, os educadores realizam
processos de aprendizagem, etapas de desenvolvimento, os educandos são seres humanos, e por isso,
diferenciam-se um dos outros no tempo e jeito de aprender.
Os jovens no Brasil ficam três anos no ensino médio, mas
quem estabelece o conhecimento adquirido
não é o que ele produziu nestes três anos, mas essa vergonha de processo
meritocrático denominado vestibular, que tanto lucro já deu e continua dando aos
empresários da educação nesse país.
E o disparate desse vestibular, é que aqueles que o preparam
e aplicam, se o fizerem, provavelmente só passarão, se passar, em sua área de
conhecimento. E os estudantes têm que provar que sabem tudo sobre todas as
áreas para chegar a universidade, apesar terem demonstrado isso quando
concluíram o ensino médio.
O bom de tudo isso é que após esse massacre os
estudantes vão esquecer boa parte do que aprenderam, porque nós guardamos
apenas o conhecimento que nos interessa.
Sem contar que uma grande parte de jovens no Brasil são
excluídos desse processo elitizante e injusto, pelo fato de ser uma disputa desigual
entre jovens em condições sociais e econômicas com diferenças brutais.
Infelizmente, em nosso país a educação é muito mais um
negócio para os capitalistas ganharem dinheiro do que uma política de Estado,
que apenas utiliza a educação como ferramenta de controle para atingir seus
interesses eleitoreiros.
A educação escolar deveria ser autogestionária onde educadores
e educandos determinassem o que seria
estudado e de que maneira, com normas e regras estabelecidas pelos envolvidos (sem
o envolvimento tiranico do currículo
imposto pelo Estado).
Dessa maneira teríamos a inclusão, o conhecimento e a
autonomia de educadores e educandos de verdade sem interferências de interesses
escusos.
Uma educação e uma instituição de ensino (em todos os
níveis) se não for libertária ela apenas reproduzirá os interesses dos tiranos
que estão por de trás dela: o Capitalismo, o Estado e a Religião.
Tive o prazer de conhecer este grande mestre o professor Martinho, os seus estudos continuam ir ao encontro das minhas idéias, já me utilizei desta frase " a aula não ensina e a prova não avalia" do mestre José Pacheco e desconhecia a sua autoria, parabéns.
ResponderExcluirGrande mestre mesmo! Tbem tive a honra de ser sua aluna. Realmente prova, não prova nada!
ResponderExcluirGrande mestre mesmo! Tbem tive a honra de ser sua aluna. Realmente prova, não prova nada!
ResponderExcluirGrande Condini! Entendo que professores e professoras, presos à estrutura desumana imposta pelo Sistema opressor, despolitizados em grande parte e acusados como responsáveis por todas as mazelas do sistema educativo, em certa medida, ainda continuam entendendo a Avaliação da Aprendizagem como "acerto de contas" com o aluno, tratando-o como eterno irresponsável e displicente. Obrigado, Condini! Abraço!
ResponderExcluirMuito bonito o artigo! Escrito com a percepção e a defesa corretas da diferença entre ensinar de modo a permitir a reflexão e a alternativa falsa imposta pelos que nos condenam à miséria.
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