Marcelo Barros
A maioria das previsões
e perspectivas feitas para 2021 aponta para um ano difícil e desafiador para a
humanidade. No entanto, seja como for, nesses dias, as pessoas sempre transmitem
umas às outras os votos de feliz ano novo. Há quem faça isso por mero costume.
Deseja feliz ano novo como costuma dar
“bom dia” a quem encontra. Outros acreditam que, pelo fato de se falar, quase
automaticamente, o desejo se torna realidade.
Em todo final de
dezembro, deseja-se que o próximo ano seja melhor. No entanto, neste ano, quem
quiser concretizar seus votos para o ano novo, não pode se satisfazer apenas em
expressar desejos de paz, saúde e realização dos melhores sonhos para pessoas
individuais. Sabe que ninguém poderá ter paz, saúde e bem-estar se a realidade
social do Brasil e do mundo continua afundando na penumbra das incertezas. Como
alguém pode se sentir em paz, seguro e tranquilo, enquanto a humanidade não
superar essa pandemia e souber evitar outras? Ninguém terá realmente paz se não
se efetivar uma sociedade mais justa. E não haverá justiça no mundo enquanto
uma ínfima minoria de privilegiados concentrar em suas mãos riqueza equivalente
a mais da metade de toda a humanidade. Ninguém terá saúde e paz se a terra, as
águas e a natureza continuarem sendo destruídas na proporção que vimos
acontecer neste fatídico 2020.
Na América Latina, o
sonho de uma pátria grande solidária exige cada vez mais esforços. A guerra dos
meios de comunicação contra qualquer transformação do mundo a favor dos
empobrecidos continua implacável. A Venezuela, a Bolívia e outros países que o
digam.
No mundo inteiro,
movimentos sociais organizam as bases para uma
aliança de toda a humanidade pela Paz, Justiça e Comunhão com o Universo.
Grupos da sociedade civil trabalham pelo Conselho
de Segurança dos Bens Comuns, principalmente, a água, as sementes e o
conhecimento. No Brasil, grupos de base tentam retomar o esforço de educação
popular que permita as pessoas interpretar criticamente o que está acontecendo
e tomar posições mais justas e solidárias.
No mundo inteiro, os
ritos de ano novo expressam esses desejos de renovação. Alguns povos
tradicionais ainda guardam costumes como, na noite do ano novo, queimar toda a
roupa usada e iniciar o 1º de janeiro com
vestimentas novas, símbolo de vida renovada. Na madrugada do primeiro dia do
ano, fieis dos cultos afrodescendentes vão às praias e rios com flores e
oferendas aos espíritos do céu e da terra. Em nome de todos os seres humanos, cantam
sua disposição de amor e de comunhão universal.
Para 2021, movimentos
sociais de todo o Brasil realizam um “Chamado para uma transição ecossocialista
no Brasil”. Um coletivo denominado “Todos pelo bem comum” propõem nova dinâmica
para os trabalhos de base, principalmente, retomando o processo de educação
popular. Já para janeiro, movimentos sociais e a sociedade civil internacional
preparam virtualmente um novo Fórum Social Mundial. Na Amazônia, se inicia o
processo para um novo Fórum Panamazônico.
Cada vez mais fica claro
o que os movimentos sociais já expressavam no fórum social ocorrido em Túnis,
na África, em 2015: "A humanidade
precisa de uma verdadeira revolução. Só a nossa ousadia pode torná-la
possível". Essa ousadia comunitária parte da convicção de que o amanhã
pode ser diferente. As organizações sociais brasileiras sustentam que, para
isso, não podemos aceitar "nenhum
direito a menos". No plano
mundial, entram na campanha internacional para 1 – reconhecer as vacinas contra vírus como bens comuns da humanidade e,
assim como a água, não possam ser privatizadas e vendidas. 2 - organizar a sociedade de modo que a economia e as finanças sirvam para a vida
da humanidade e não para o lucro de 60 famílias mais ricas do mundo. 3 - desarmar
o mundo e impedir a guerra como negação da vida e da convivência humanas.
Sabemos que estas
propostas vão na contramão de todos os poderes do mundo. Se insistimos em lutar
por estes objetivos é porque cremos na vida e muitos de nós ligamos esta fé à
fé em Deus. Se você está neste caminho conosco, pode se sentir feliz em
testemunhar que trabalha para que, apesar de tudo, 2021 seja um ano novo mais
feliz para toda a humanidade.
Para os cristãos, nos
alegra mais ainda a fé de que, nesse caminho, estamos sempre acompanhado por Jesus
ressuscitado que disse a seus discípulos/as: "Eu estarei com vocês todos os dias, até que esse tempo se complete"
(Mt 28, 20).
Marcelo Barros, monge beneditino e
escritor, autor de 57 livros dos quais o mais recente é "Teologias da
Libertação para os nossos dias", Ed. Vozes, 2019.
Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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