Prof. Dr. Martinho
Condini
A pandemia do coronavírus nos oportuniza, olhar para o
sistema no qual estamos inseridos há mais de duzentos anos com mais
profundidade, atenção e criticidade. É chegado o momento de analisarmos e
refletirmos sobre a maneira que produzimos, consumismo e nos relacionamos com a
natureza. Não é possível vivermos mais nessa engrenagem nauseabunda do
“capetalismo selvagem”.
Já passou da hora de se questionar as práxis do “capetalismo
selvagem”, a acumulação acima de tudo, a competição a qualquer preço, o
individualismo exacerbado, a indiferença diante da injustiça, da fome, da miséria
e de tantas outras mazelas sociais que emolduram este quadro tão mal pintado por
seu protagonistas, os capetalistas e seus sórdidos interesses.
Todos esses aspectos somados à pandemia do coronaviírus, que
deixou todas e todos perplexos, espantados e com medo, porque sabemos que todos
nós estamos sendo prejudicados de alguma maneira, muitos com a perda da própria
vida. E a pergunta que paira em nossa cabeça, a quem se vai recorrer neste
momento caustico? Quem poderá fazer algo
para frear essa pandemia? Quem terá condições de impedir que menos pessoas percam
a vida? Quem proverá de recursos uma sociedade confinada que precisa se
alimentar? Trabalhar? Pagar o aluguel? Quem irá possibilitar que a economia se
restabeleça após meses de estagnação produtiva?
Não poderemos
recorrer àquele empresário, por exemplo, que afirmou : “o Brasil não pode parar por conta da morte
de 5 ou 7 mil pessoas”, já são mais de 60 mil ou com o mandatário do nosso país
que “propôs aos trabalhadores a interrupção no seu contrato de
trabalho por quatro meses” e “que as crianças podem voltar para a escola, afinal
de contas essa pandemia é uma simples
gripezinha”.
Quem poderá amenizar esse “mal estar civilizatório” não será
a iniciativa privada, que está mais preocupada com a drástica desvalorização
das bolsas de valores pelo mundo. Lembram-se da crise de 1929? Quem iniciou a
recuperação econômica e social nos países mais afetados foi o Estado. Isso mesmo, o Estado com suas
políticas públicas e sanitárias gerais. Esse Estado sempre tão desqualificado
pelo “mercado liberal”, mas que reúne as condições humanas para enfrentar a
pandemia e reaquecer a economia.
Após este surto diminuir sua intensidade e os cidadãos
retomarem suas vidas, muitas sequelas serão deixadas, e por isso, uma nova maneira de organização econômica e social,
defendidas não só por mim, mas milhares de cidadãos brasileiros que acreditam
veemente no bem social coletivo, precisará ser elaborada e praticada pelas
novas gerações.
Se quisermos ter uma
sociedade sã e com dignidade, uma profunda transformação no modo de vida das
pessoas terá que acontecer. Os humanos merecem viver com dignidade e respeito.
É chegado o momento dos defensores do
neoliberalimo econômico e do Estado mínimo perceberem que numa situação de
pandemia como essa o papel do Estado é fundamental. Alguns já perceberam, como
o presidente da França. Ele disse: “Caros compatriotas, precisamos amanhã tirar
lições do momento que atravessamos, questionar o modelo de desenvolvimento que
nosso mundo escolheu há décadas e que mostra suas falhas à luz do dia,
questionar as fraquezas de nossas democracias. O que revela esta pandemia é que
a saúde gratuita sem condições de renda, de história pessoal ou profissão, e
nosso Estado-de Bem-Estar Social não são custos ou encargos mas bens preciosos,
vantagens indispensáveis quando o destino bate à porta. O que esta pandemia
revela é que existem bens e serviços que devem ficar fora das leis do mercado”.
Esta fala do presidente da França é reveladora, pois ele
reconhece que a economia de mercado e sua política neoliberalizante são
maléficas a humanidade e ao futuro do
nosso planetinha.
A jornalista e ativista canadense Naomi Klein, salientou ”O
coronavírus é o perfeito desastre pra o capitalismo do desastre”. Um vírus
provocou o caos no mercado financeiro e no sistema especulativo. Como disse Leonardo Boff “esta pandemia não
pode ser combatida apenas por meios econômicos e sanitários sempre
indispensáveis. Ela demanda outra relação para com a natureza e a Terra. Se
após passar a crise, não fizermos as
mudanças necessárias, na próxima vez poderá ser a última, pois nos fazemos os
inimigos figadais da Terra. Ela pode não nos querer mais aqui”.
Enfim, o que nos resta nesse momento caustico de pânico e
incertezas é ficar atento as verdadeiras informações e ao que dizem os
especialistas da área da saúde. Que saibamos utilizar a nossa razão e
cordialidade para superarmos as indiferenças. Nenhum de nós está imune do vírus.
Todos terão que ser solidários uns para com os outros, cuidarmo-nos
pessoalmente, assim já estaremos cuidando do outro.
Ninguém deverá soltar a
mão de ninguém, mesmo não podendo segurá-las!
O texto: Prof. Martinho Condini. Mestre em
Ciências da Religião e doutor em Educacao ambos pela PUCSP. Pesquisador da vida
e obra de Dom Helder Camara. Publicou pela Paulus Editora ' Dom Helder Camara
um modelo de Esperança, ' Helder Camara um Nordesino Cidadão do Mundo', '
Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e
o dvd ' Educar para a Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire'.
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