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quarta-feira, 29 de julho de 2020

PEDAGOGIA DO OPRIMIDO: UMA HISTÓRIA SEM FIM


  Prof. Dr. Martinho Condini

[Este artigo é uma adaptação do texto que foi publicado no capítulo 35 do livro ‘50 Olhares sobre os 50 anos da Pedagogia do Oprimido’ [livro eletrônico] Paulo Roberto Padilha...[Et Al.], organizadores, 1ª Ed. São Paulo, Instituto Paulo Freire.2019] 

         A mais importante obra de Paulo Freire foi escrita no século passado, 50 anos atrás: Pedagogia do Oprimido. Era 1968, período marcado por levantes, revoluções e guerras pelo mundo. No Brasil, a morte do estudante Edson Luiz de Lima Souto e a Passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro e a decretação do Ato Institucional nº5 (AI-5), foram alguns dos acontecimentos que fizeram a história daquele agitado e conturbado ano.

         É nesse contexto histórico que Paulo Freire escreveu Pedagogia do Oprimido, . E você pode indagar: onde estava Freire nesse ano de 1968? Muitos podem pensar em Recife – sua terra natal e pela qual nutria um intenso sentimento de apreço e carinho. Engana-se.

         Nesse período, Freire estava em Santiago do Chile. Isso porque o golpe militar de 1964 no Brasil  prendeu e posteriormente expulsou Freire do Brasil, que ficou no exílio por dezesseis anos. Essa medida truculenta do governo militar se deu pelo fato de Freire estar realizando um processo de alfabetização de adultos inovador no país desde o final dos anos 50.

 Freire iniciou esse processo de alfabetização de adultos em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde a alfabetização se deu a partir da realidade de vida dos camponeses, afim de que os mesmos não só aprendessem a ler e escrever, mas também se conscientizassem sobre a sua realidade histórica, e assim, compreendessem seu lugar no mundo para poder transformá-lo. Esse processo possibilitou a criação do Projeto Nacional de Alfabetização (PNA) que tinha o objetivo de alfabetizar milhares de camponeses. Essa preocupação de Freire com a alfabetização dos excluídos da nossa sociedade incomodava e gerava um grande descontentamento por parte das classes dominantes e governo militar.

Essa experiência com a alfabetização de adultos possibilitou Freire, a escrever no exílio, a obra Pedagogia do Oprimido. Obra essa, que inseriu o oprimido na centralidade da questão social e educacional brasileira.  Freire mostrou nesse livro que o oprimido consegue pensar por si mesmo, que tem um lugar de fala e um entendimento sobre sua realidade histórica. E que é fundamental o oprimido ter a liberdade de construir sua palavra e expressar sua leitura de mundo para que ele possa transformar a sua realidade.

Hoje, 50 anos depois, Pedagogia do Oprimido continua a ser um dos livros mais lidos nas universidades e nos cursos das humanidades em todo o mundo.

Considero que a Pedagogia do Oprimido seja uma “história sem fim” porque, como dizia Freire, somos seres inacabados e, por essa mesma razão, continuamos em busca de uma sociedade mais humana e fraterna. Uma sociedade onde as práticas humanistas da solidariedade, da alteridade e da equidade estejam acima da lógica sem lógica dos interesses econômicos neoliberais. Interesses estes que nos afrontam cotidianamente com suas alegações “meritocratas”, a fim de justificar práticas exploradoras e injustas que permeiam o mundo globalizado do século XXI.

Estou convencido de que Pedagogia do Oprimido continuará sendo uma importante e significativa obra, não só para educadores e educandos, mas para todos os que acreditam nas práticas humanistas como principal instrumento de inclusão dos oprimidos na sociedade.  

   O texto: Prof. Martinho Condini. Mestre em Ciências da Religião e doutor em Educacao ambos pela PUCSP. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara. Publicou pela Paulus Editora ' Dom Helder Camara um modelo de Esperança, ' Helder Camara um Nordesino Cidadão do Mundo', ' Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o dvd ' Educar para a Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire'.


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