[Este
artigo é uma adaptação do texto que foi publicado no capítulo 35 do livro ‘50 Olhares sobre os 50 anos da Pedagogia do
Oprimido’ [livro eletrônico] Paulo Roberto Padilha...[Et Al.],
organizadores, 1ª Ed. São Paulo, Instituto Paulo Freire.2019]
A
mais importante obra de Paulo Freire foi escrita no século passado, 50 anos
atrás: Pedagogia do Oprimido. Era
1968, período marcado por levantes, revoluções e guerras pelo mundo. No Brasil,
a morte do estudante Edson Luiz de Lima Souto e a Passeata dos 100 mil no Rio
de Janeiro e a decretação do Ato Institucional nº5 (AI-5), foram alguns dos
acontecimentos que fizeram a história daquele agitado e conturbado ano.
É nesse contexto histórico que Paulo
Freire escreveu Pedagogia do Oprimido,
. E você pode indagar: onde estava Freire nesse ano de 1968? Muitos podem
pensar em Recife – sua terra natal e pela qual nutria um intenso sentimento de
apreço e carinho. Engana-se.
Nesse período, Freire estava em
Santiago do Chile. Isso porque o golpe militar de 1964 no Brasil prendeu e posteriormente expulsou Freire do
Brasil, que ficou no exílio por dezesseis anos. Essa medida truculenta do
governo militar se deu pelo fato de Freire estar realizando um processo de
alfabetização de adultos inovador no país desde o final dos anos 50.
Freire iniciou
esse processo de alfabetização de adultos em Angicos, no Rio Grande do Norte,
onde a alfabetização se deu a partir da realidade de vida dos camponeses, afim
de que os mesmos não só aprendessem a ler e escrever, mas também se conscientizassem
sobre a sua realidade histórica, e assim, compreendessem seu lugar no mundo
para poder transformá-lo. Esse processo possibilitou a criação do Projeto
Nacional de Alfabetização (PNA) que tinha o objetivo de alfabetizar milhares de
camponeses. Essa preocupação de Freire com a alfabetização dos excluídos da
nossa sociedade incomodava e gerava um grande descontentamento por parte das
classes dominantes e governo militar.
Essa experiência com a alfabetização de adultos
possibilitou Freire, a escrever no exílio, a obra Pedagogia do Oprimido. Obra
essa, que inseriu o oprimido na centralidade da questão social e educacional
brasileira. Freire mostrou nesse livro
que o oprimido consegue pensar por si mesmo, que tem um lugar de fala e um
entendimento sobre sua realidade histórica. E que é fundamental o oprimido ter
a liberdade de construir sua palavra e expressar sua leitura de mundo para que
ele possa transformar a sua realidade.
Hoje, 50 anos depois, Pedagogia do Oprimido continua a ser um dos livros mais lidos nas
universidades e nos cursos das humanidades em todo o mundo.
Considero que a Pedagogia do Oprimido seja uma “história sem fim” porque, como
dizia Freire, somos seres inacabados e, por essa mesma razão, continuamos em
busca de uma sociedade mais humana e fraterna. Uma sociedade onde as práticas
humanistas da solidariedade, da alteridade e da equidade estejam acima da
lógica sem lógica dos interesses econômicos neoliberais. Interesses estes que
nos afrontam cotidianamente com suas alegações “meritocratas”, a fim de justificar
práticas exploradoras e injustas que permeiam o mundo globalizado do século
XXI.
Estou
convencido de que Pedagogia do Oprimido
continuará sendo uma importante e significativa obra, não só para educadores e
educandos, mas para todos os que acreditam nas práticas humanistas como
principal instrumento de inclusão dos oprimidos na sociedade.
Gosto de textos como este: claro ,objetivo e reflexivo. Muito bom !
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ResponderExcluirÓtimo texto!
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