por Frei Aloísio Fragoso
Em nossa última REFLEXÃO, deixamos uma
pergunta no ar, com a intenção de provocar no leitor uma resposta verbal ou
vivencial. Tratava-se de uma pergunta retórica, de uma estimulação. Nada mais
gratificante para o autor deste tipo de sondagem do que receber uma resposta
nada retórica, mas prática e testemunhal. Nestes termos, fui gratificado. Por
isso gostaria de dar continuidade a este assunto, utilizando as reflexões que
as minhas inspiraram a uma jovem leitora, que não só complementou, mas
enriqueceu o texto original.
Segundo uma pesquisa realizada pela
Associação Brasileira dos Shopping-centers (ABRASCE), os jovens constituem a
faixa etária que mais frequenta seus espaços e lojas, consequentemente, são
eles os mais rentáveis e os mais assediados pelo marketing das empresas.
Vejamos, pois, o que escreve uma leitora de 24 anos:
"Muito obrigada, frei Aloísio, por
esta REFLEXÃO, como sempre.
Confesso que shopping não é um mal que me
atinge, de modo que não me faz qualquer falta. Na verdade, nunca gostei de ir
ao shopping, desde pequena. Mas (neste tempo de quarentena) me sinto sufocada e
ansiosa por um ar livre o quanto antes.
É triste ver a realidade que a crise de uma
pandemia nos traz e as faces que são reveladas. Neste momento é que podemos de
fato identificar as prioridades e a verdadeira identidade de alguns que estão
no poder - podendo se revelar como "heróis" ou "canalhas".
A economia priorizada em detrimento da vida, e por aí vai. As atrocidades são
inúmeras e a política consegue roubar maior atenção do que as vidas perdidas,
nesta crise da saúde tão catastrófica. Não temos sequer um Ministro da Saúde
(fora todas as barbáries ocorridas neste governo).
Sem entrar no mérito do que parece nos ter
anestesiado, partilho contigo a alegria de, no fim de semana, mais
precisamente, no sábado, ter podido ir
ao encontro dos irmãos de situação de rua, que ficam em volta da igreja da qual
faço parte. A primeira expressão que pronunciei, de forma extremamente
espontânea foi: "ai que saudade de gente!"
Depois que saí, me dei conta de quanto ir
ao encontro é o sentido de nossas vidas.
No sábado pude reavivar a chama de sair de
mim e ir ao encontro do outro (ou do Outro). Reencontrei Osvaldo e ele me
contou que voltar para casa depois de ter saído não é fácil e que "é
preciso ter peito" pra morar na rua. Ele partilhou vários episódios da sua
realidade, da sua história, de onde veio e no que acreditava.
No final, quando nos despedimos, ele não
sossegou enquanto eu não apertasse a sua mão
(mesmo
explicando do risco de pandemia para ele).
Naquele dia, mais do que o aperto de mão,
tive um aperto no coração, pensando em tantas vezes que Osvaldo não voltou para
casa porque "não é fácil voltar para casa". Tantos outros na rua!
Tantos encontros naquele dia e um único desejo de continuar indo ao Encontro.
Tantas famílias! Tantas crianças!
Enfim, frei, obrigada, por tentar plantar
no coração das pessoas que leem suas reflexões a semente do Evangelho e
resgatar a compaixão, o sofrer com, o comover-se até as entranhas, que sempre
foi o movimento do nosso Deus em nossa direção, Deus que se rebaixa para nos
dar de comer, que se comove, que se parte, como diz uma música de que gosto
muito: "comungar é tornar-se um perigo, viemos pra incomodar".
Talvez o shopping não seja o meu mal,
talvez existam tantos outros de que não me dou conta. Ainda tenho muitos bens,
como o jovem que saiu triste do encontro com Jesus.
Que minha vida possa ser uma
correspondência de que somente tenho a Ele e somente Ele é a minha herança
nesta vida.
Obrigada por me ajudar a recordar
isto"
Daniella
Régnier de Paula
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