por Frei Aloísio Fragoso
Neste
mês próximo de agosto nossa "pátria amada Brasil" atingirá a cifra de
100.000 mortos, vítimas do coranavirus. Com este número terá ultrapassado todas
as etapas demarcadas pelo Chefe da nação, desde a "gripezinha",
passando por outras etapas, a da "infiltração do comunismo chinês", a
de "o Brasil não pode parar", a do "e daí?", a da
"cloroquina", etc.
Considerando
a falta de vontade política para enfrentar racionalmente uma questão de tamanha
gravidade. Considerando que a nossa paciência humana não é igual à paciência
divina, que espera o tempo da colheita para separar o joio do trigo, resolvemos
esconjurar aqueles(as) que, ocupando altos cargos políticos, não quiseram ou
não ousaram tomar medidas efetivas de combate à pandemia. Para tanto, usamos
uma arma de efeito moral, *o humor*. E contamos com a genialidade de um dos
maiores humoristas brasileiros, em todos os tempos, Millôr Fernandes.
Imagino-o
pulando fora da sepultura e assistindo aos acontecimentos atuais da nossa
"pátria amada Brasil". O que diria ele com seu humor elegante e
mordaz?
(Evidentemente
não queremos bombardear toda a classe política, mas somente uma grande parte
dela que pegou carona no carro do poder com a intenção de se locupletar. Com
isso homenageamos, por exclusão, os que se conservam honestos e coerentes).
Aqui vão algumas pérolas humorísticos do genial Millôr:
Sobre
políticos corruptos: "o Brasil é o único país onde os ratos conseguem
botar a culpa no queijo." "Os caras se locupletam, roubam, matam,
esfolam, brilham na luz de todas as ribaltas, gozam o diurno e o noturno,
falsificam a opinião e a nota fiscal, e é na minha porta que a polícia vem
bater!". "É fácil identificá-los: estão sempre propondo grandes
soluções morais". "Criam um Deus à sua imagem e semelhança e falam
dele com tal convicção que muita gente se convence de que Deus não
existe". O Congresso, numa resolução realista, decidiu tirar da bandeira o
lema positivista "Ordem e Progresso" e substituí-lo pelo mote
pragmático "Negócio é Negócio." "E assim, por conhecer profundamente
a causa pública e a natureza humana, estão sempre prontos a usufruir
diariamente o gozo de pequenas provações e sofrer na própria pele insuportáveis
privilégios." "Devemos confiar neles até certo ponto, que é o ponto
de interrogação".
Sobre
grandes empresários que financiam maus políticos: "Ali eles estão
reunidos, naquela mesa farta, todos bem vestidos, falando uma linguagem
delicada e civilizada. E cada um sabe que o outro quer arrancar-lhe o fígado, e
sorri; e enquanto sorri, o primeiro quer apunhalar pelas costas o segundo, que
sorri; e enquanto sorri, derrama tranquilamente veneno no vinho do terceiro,
que sorri; e enquanto sorri, morde e come um pedaço da orelha do quarto , que
gargalha e enquanto gargalha, derrama ácido nos olhos do quinto, que está ao
seu lado: são apenas homens de negócios".
Sobre
a grande mídia, conchavada com o poder dominante: "Canal 2, canal 9, canal
13, canal 4, o escambau. Shakespeare estava pensando nisso quando disse:
"não há o que escolher num saco de batatas podres"
Pensamento
aplicável ao Chefe da nação: "grande erro da natureza é a incompetência
não doer".
Terminadas
estas reflexões (intermináveis), sinto o desejo de parafrasear Millôr e revelar
algumas das minhas sensações: sinto que só estarei no caminho certo se seguir
na contramão. Acho que é preciso achar que estou maluco, para ter certeza de
que ainda estou lúcido. E, cheio de nostalgia ao lembrar um certo tempo
passado, gostaria de chamar um táxi e ordenar: "me leve à Rua Primeiro de
Janeiro de 2003".
Finalmente,
lembrado de que o humor é dom de Deus, em favor da alegria da vida, a despeito
da pandemia, transcrevo uma antiga oração de S. Tomas Moro (1478-1525):
"Dai-me, Senhor, uma boa digestão e também qualquer coisa para digerir.
Dai-me a saúde do corpo com o bom humor necessário para conservá-la. Dai-me,
Senhor, uma alma santa que saiba aproveitar o que é bom e puro, e não se
assuste à vista do pecado, mas encontre o caminho de colocar as coisas de novo
em ordem. Dai-me uma alma que não conheça o tédio, as murmurações, os suspiros
e lamentos. Dai-me, enfim, o sentido do humor, a graça de entender os gracejos,
para que conheça na vida um pouco de alegria e possa comunicá-la aos outros.
Assim seja."
Frei Aloísio Fragoso é frade franciscano,
coordenador da Tenda da Fé e escritor.
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