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sexta-feira, 31 de julho de 2020

COVID 19 - QUINQUAGÉSIMA TERCEIRA REFLEXÃO - FREI ALOÍSIO FRAGOSO *HUMOR* EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS


por Frei Aloísio Fragoso

Neste mês próximo de agosto nossa "pátria amada Brasil" atingirá a cifra de 100.000 mortos, vítimas do coranavirus. Com este número terá ultrapassado todas as etapas demarcadas pelo Chefe da nação, desde a "gripezinha", passando por outras etapas, a da "infiltração do comunismo chinês", a de "o Brasil não pode parar", a do "e daí?", a da "cloroquina", etc.

Considerando a falta de vontade política para enfrentar racionalmente uma questão de tamanha gravidade. Considerando que a nossa paciência humana não é igual à paciência divina, que espera o tempo da colheita para separar o joio do trigo, resolvemos esconjurar aqueles(as) que, ocupando altos cargos políticos, não quiseram ou não ousaram tomar medidas efetivas de combate à pandemia. Para tanto, usamos uma arma de efeito moral, *o humor*. E contamos com a genialidade de um dos maiores humoristas brasileiros, em todos os tempos, Millôr Fernandes.

Imagino-o pulando fora da sepultura e assistindo aos acontecimentos atuais da nossa "pátria amada Brasil". O que diria ele com seu humor elegante e mordaz?

(Evidentemente não queremos bombardear toda a classe política, mas somente uma grande parte dela que pegou carona no carro do poder com a intenção de se locupletar. Com isso homenageamos, por exclusão, os que se conservam honestos e coerentes). Aqui vão algumas pérolas humorísticos do genial Millôr:

Sobre políticos corruptos: "o Brasil é o único país onde os ratos conseguem botar a culpa no queijo." "Os caras se locupletam, roubam, matam, esfolam, brilham na luz de todas as ribaltas, gozam o diurno e o noturno, falsificam a opinião e a nota fiscal, e é na minha porta que a polícia vem bater!". "É fácil identificá-los: estão sempre propondo grandes soluções morais". "Criam um Deus à sua imagem e semelhança e falam dele com tal convicção que muita gente se convence de que Deus não existe". O Congresso, numa resolução realista, decidiu tirar da bandeira o lema positivista "Ordem e Progresso" e substituí-lo pelo mote pragmático "Negócio é Negócio." "E assim, por conhecer profundamente a causa pública e a natureza humana, estão sempre prontos a usufruir diariamente o gozo de pequenas provações e sofrer na própria pele insuportáveis privilégios." "Devemos confiar neles até certo ponto, que é o ponto de interrogação".

Sobre grandes empresários que financiam maus políticos: "Ali eles estão reunidos, naquela mesa farta, todos bem vestidos, falando uma linguagem delicada e civilizada. E cada um sabe que o outro quer arrancar-lhe o fígado, e sorri; e enquanto sorri, o primeiro quer apunhalar pelas costas o segundo, que sorri; e enquanto sorri, derrama tranquilamente veneno no vinho do terceiro, que sorri; e enquanto sorri, morde e come um pedaço da orelha do quarto , que gargalha e enquanto gargalha, derrama ácido nos olhos do quinto, que está ao seu lado: são apenas homens de negócios".

Sobre a grande mídia, conchavada com o poder dominante: "Canal 2, canal 9, canal 13, canal 4, o escambau. Shakespeare estava pensando nisso quando disse: "não há o que escolher num saco de batatas podres"

Pensamento aplicável ao Chefe da nação: "grande erro da natureza é a incompetência não doer".

Terminadas estas reflexões (intermináveis), sinto o desejo de parafrasear Millôr e revelar algumas das minhas sensações: sinto que só estarei no caminho certo se seguir na contramão. Acho que é preciso achar que estou maluco, para ter certeza de que ainda estou lúcido. E, cheio de nostalgia ao lembrar um certo tempo passado, gostaria de chamar um táxi e ordenar: "me leve à Rua Primeiro de Janeiro de 2003".

Finalmente, lembrado de que o humor é dom de Deus, em favor da alegria da vida, a despeito da pandemia, transcrevo uma antiga oração de S. Tomas Moro (1478-1525): "Dai-me, Senhor, uma boa digestão e também qualquer coisa para digerir. Dai-me a saúde do corpo com o bom humor necessário para conservá-la. Dai-me, Senhor, uma alma santa que saiba aproveitar o que é bom e puro, e não se assuste à vista do pecado, mas encontre o caminho de colocar as coisas de novo em ordem. Dai-me uma alma que não conheça o tédio, as murmurações, os suspiros e lamentos. Dai-me, enfim, o sentido do humor, a graça de entender os gracejos, para que conheça na vida um pouco de alegria e possa comunicá-la aos outros. Assim seja."

Frei Aloísio Fragoso é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.


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