Prof. Martinho Condini
João Pedro Mattos Pinto,
14 anos, João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, Marcelo Guimarães, 38 anos,
Lucas Matheus, 10 anos, Alexandre da Silva, 11 anos, Fernando Henrique 12 anos
e muitos outros. O que eles têm em comum? São seres humanos, adultos, jovens ou
crianças, todos negros que foram espancados, assassinados ou desapareceram e
foram encontrados mortos, em diferentes lugares do Brasil. Quantos seres
humanos negros, neste momento estão sendo humilhados, espancados ou assassinados?
Os números são assustadores, aproximadamente 75% dos assassinatos de adultos no
Brasil são de seres humanos negros.
É indiscutível a luta dos negros ao longo da
história desse país para terem seus direitos e sua dignidade reconhecida e
respeitada de verdade. Não adianta fazer “leis antiracistas” se não houver um
processo de conscientização coletiva em relação a essa questão asquerosa da
nossa história. É inconcebível que tenhamos em 2021 programas de TV
transmitidos em rede nacional em horário nobre, com manifestações racistas e
preconceituosas como maneira de obter audiência de público e para que as
pessoas fiquem nas redes sociais comentando o “show real”. Isto é no mínimo insana,
uma excrescência humana, de uma sociedade forjada nos valores racistas e
preconceituosos advindos da nossa formação histórica ibérica, cristã-judaíca,
burguesa capitalista de supremacia branca.
Até quando teremos que refletir sobre a frase do abolicionista Joaquim
Nabuco escrita no seu livro “Minha formação” no final do século XIX: ‘A escravidão permanecerá por muito tempo como a
característica nacional do Brasil’. Não devemos
nos esquecer que o Brasil, em 1888, foi o último país ocidental a oficializar o
fim da escravidão. Infelizmente, os mais de 350 anos de escravidão em nosso
país, deixou uma cicatriz permanente e incurável e fez dela parte fundante da
formação cultural brasileira. Acredito que nem Nabuco tinha noção da
profundidade da sua frase e jamais imaginaria que em pleno século XXI, ou seja,
133 anos após a abolição ainda teríamos o racismo como o problema mais grave da
nossa sociedade. Como podemos falar de um Estado laico democrático de direito
onde ainda vigoram costumes que privilegiam a vontade da supremacia branca, num
país onde a maioria da população é afro descente, onde apesar da existência de
leis antirracista, nos tribunais o predomínio daqueles que lá estão de toga
fazem parte da elite branca.
Acredito que será por meio da educação a maneira
mais eficiente de eliminarmos esse “câncer social”, que nos atormenta
diuturnamente. Enquanto você está lendo este artigo algum homem, mulher ou
jovem negro sofre algum tipo de preconceito ou violência em algum lugar desse
país. É preciso dar um basta. Só seremos uma nação democrática, livre e digna
quando todos os cidadãos e cidadãs deste país forem tratados e respeitados
independente de sua condição econômica, social, étnica e religiosa e a educação
tem um papel fundamental nesse processo.
* O
Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor
em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire.
Publicou pela Paulus Editora os livros 'Dom Helder Camara um modelo de esperança',
'Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo', 'Fundamentos para uma Educação
Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire' e o DVD ' Educar como Prática da
Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o
livro 'Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza'. Contato
profcondini@gmail.com
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