Marcelo Barros
A primeira coisa de Cuba que qualquer visitante que
chega ao país pelo aeroporto José Martí de Havana pode ver é um imenso cartaz,
no qual está escrito: “Benvindos a Cuba,
primeiro território livre das Américas”.
De fato, antes da pandemia, milhões de visitantes e
turistas passavam por Cuba para aproveitar a beleza da natureza, o calor das
águas do Caribe e, principalmente, o encanto de um povo que, para nós, lembra
em muitos aspectos a simpatia do povo baiano.
Quem visita o país se delicia com o jeito de ser
cubano. Percebe o o nível de vida extremamente sóbrio e até pobre das pessoas.
No entanto, ninguém encontra uma só criança de rua. Verifica a eficiência do
atendimento de saúde gratuito e de alta qualidade, assim como o acesso à
educação gratuita em todos os níveis; o que faz dos cubanos um dos povos mais
cultos do mundo.
Isso não significa que o país seja um paraíso e não
tenha problemas ou que o governo não tenha deficiências. São frequentes
críticas à burocracia das instituições. Escritores e artistas sempre exigem
maior liberdade de criação. Em tempos mais recentes, ao menos em parte, essas
questões parecem mais superadas. Quem lê os romances do brilhante escritor
Leonardo Padura e segue as aventuras do detetive Mario Conde, vê uma descrição ácida
e crítica do funcionamento das instituições no país. E Padura não parece ter
nenhum contratempo por criticar as estruturas do seu país.
A liberdade coletiva e a qualidade de vida dos cubanos
têm preço pesado: o mais poderoso império do mundo não se conforma em, durante
mais de sessenta anos, ser vencido pelo heroísmo de um povo pequeno e pobre.
Desde 1960, sucessivos governos dos Estados Unidos
fizeram tudo para impedir o povo cubano manter o governo que melhor lhe convém.
No início dos anos 1960, a invasão militar fracassou. O bloqueio econômico
assassino, imposto por Washington e diversas vezes condenado pela ONU, dura
mais de 60 anos. No entanto, não fez o povo se render. Desde o começo da
pandemia, o bloqueio não permite que remédios básicos para a população desembarquem
em Cuba e na Venezuela. Apesar disso, Cuba desenvolveu vacinas e não só tem
cuidado do seu povo, como faz missões de solidariedade por todo o mundo.
Nesse momento, a chamada Guerra Híbrida torna tudo
mais fácil para os inimigos da humanidade. Pagam-se mercenários cubanos para
provocar agitações e se garante a imprensa para noticiar o levante popular.
No domingo, 11 de julho, houve um primeiro ensaio. E
propagou-se saldo de pessoas mortas, feridas e, quem sabe, desaparecidas. As
manifestações foram todas combinadas para explodirem na mesma hora em diversas
cidades. Não conseguiram nenhuma fotografia de pessoas sendo espancadas por
soldados. Ninguém apareceu com rosto sangrando. O presidente da República se
locomoveu pelo país em diálogos diretos com os grupos manifestantes. Reconheceu
a precariedade dos serviços elétricos que penaliza a todos. Falou das
dificuldades econômicas pelas quais passa o país, sem o turismo que tinha antes
da pandemia e sob o peso feroz do bloqueio internacional que tenta
permanentemente estrangular a economia.
Como em todos os anos, neste 26 de julho, o povo
cubano recorda o ataque do jovem Fidel Castro e seus companheiros ao quartel de
Moncada, em 1953; fato que deu início à revolução libertadora.
Hoje, para toda a América Latina, a resistência de
Cuba é mais heroica e cada dia mais importante. Atualmente o império é mais
mortífero e bárbaro do que todos os quarteis de Moncada que a cada dia se
recriam.
Para as
pessoas que unem sua fé à vida e ao projeto de um mundo mais justo, a
solidariedade ao povo cubano, ao povo venezuelano e a todos os povos do mundo
sob ataque do império é questão de espiritualidade e caminho de fé.
Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, autor de 57 livros dos quais o mais recente é "Teologias da Libertação para os nossos dias", Ed. Vozes, 2019. Email: irmarcelobarros@uol.com.br
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