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domingo, 28 de junho de 2020

COVID -19 - QUADRAGÉSIMA-QUINTA REFLEXÃO - ATO PENITENCIAL EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS


 

Por Frei Aloísio Fragoso

 

     Um dia Jesus falou assim: "Quando vocês veem uma nuvem vindo do Ocidente, dizem: vai chover. E chove, de fato. E quando sentem o vento sul soprando, logo afirmam: vai fazer calor. E faz mesmo calor. Hipócritas! Vocês que sabem interpretar os sinais do céu e da terra, como é que não são capazes de entender o tempo presente! Lc.12, 54-56.

     Este desabafo ecoou por mais de vinte séculos, e hoje é tão atual como naquela época em que Jesus mesmo era o Sinal que seus contemporâneos não queriam entender.

     A tragédia do Coronavírus pede uma interpretação.

     Os primeiros a opinar são os profetas do apocalipse: "O Coronavírus é castigo de Deus irado contra os pecados de vocês. E, se não se arrependerem, virão pragas ainda maiores!". Com esta visão, provocam duas outras tragédias: a do ateísmo de pessoas lúcidas que não admitem submeter-se a um Deus vingativo e aterrador. E a do sectarismo dos que se arrogam o direito de dividir o mundo entre bons e maus, e "obrigam" a Deus de ficar do lado deles, os únicos predestinados à salvação.

     Deixemo-los entregues aos seus histerismos.

     Antes que o COVID 19 o contaminasse, o mundo já estava doente

 Distraídos com suas seduções, achamos que seria apenas um  curto circuito, um breve apagão. O Sr. Ministro da Economia, em conchavo com o Sr. Presidente da República,  em nome da estabilidade econômica, declarou, no início de março: "se esta quarentena chegar até 7 de abril, o país vai falir".  A quarentena está chegando a julho, o Brasil não faliu e os brasileiros viram desmascarada a farsa de que não havia dinheiro no cofre nacional.

     Na verdade, esta tentativa de ludibriar a população representa a total insensibilidade aos "sinais do tempo", a inútil arrogância de julgarem-se "senhores do tempo'.

    Deixemo-los entregues à sua autofagia.

     Da nossa parte, procuremos fazer nossa leitura, a partir de alguns novos fatos. A pandemia obrigou-nos a fechar nossas igrejas às celebrações públicas. Um doloroso sacrifício para numerosos fiéis praticantes. No entanto, há outras questões girando em torno desta. Acaso o esvaziamento dos templos foi capaz de produzir uma ruptura em nossas relações com Deus? Acaso Deus não é soberano para compadecer-se de nós, independente dos lugares santos que construimos em seu louvor? Mais importante do que ficar a lamentar-se é focar nossa atenção nestas palavras de Jesus: "onde dois ou mais estiverem reunidos  em meu nome, eu estarei no meio deles". "Onde" significa "qualquer lugar".

     Há outras pandemias acontecendo, com sequelas semelhantes a esta. Em países da Europa, faz anos que os fiéis cristãos assistem ao fechamento de grandes igrejas, grandes mosteiros, grandes seminários. Em algumas cidades a Igreja local não sabe que destino dar a estas construções esvaziadas de gente e de finalidade.

      Onde está o vírus causador dessa outra tragédia? Há quem desconfie de um outro vazio nestes sinais do tempo:  a Igreja precisa apresentar ao mundo uma face mais evangélica do Cristianismo. Quisemos converter o mundo e agora o mundo está exigindo a nossa conversão. Como afirma um conhecido teólogo tcheco, Tomaz Halik, está na hora de se operar a passagem de um ser cristão estático para um vir a ser cristão dinâmico. Em outras palavras, cada batizado em nome de Cristo deve deixar de parecer e começar a tornar-se cristão de verdade.

     Houve uma época, já faz séculos, em que não era preciso uma pandemia para se fecharem as igrejas. A Instituição usava o Interdito como forma de punição. Regiões inteiras eram proibidas de celebrar a Eucaristia e os demais sacramentos. Este fato contribuiu para o nascimento de muitos movimentos de espiritualidade, à margem da Instituição, que acabaram influindo na reforma da própria Igreja.

      Erro maior seria recorrer às "redes sociais" como o grande sinal promissor para o futuro da evangelização. Nenhuma tecnologia poderá substituir o encontro fraterno do olho no olho, do abraço comprometedor. Como imaginar uma piedade virtual, uma Ceia Eucarística à distância e nossos joelhos dobrados diante de um aparelho de TV?

     Segundo o relato dos Evangelhos, Maria Madalena foi visitar o sepulcro e encontrou o túmulo vazio. Mas escutou uma voz que dizia: "Vá anunciar aos meus discípulos que irei à frente deles para a Galiléia".

     Nosso Ato Penitencial seja descobrir onde fica a Galiléia de hoje,  e partir ao encontro de Jesus. Os sinais do tempo poderão indicar-nos que esta Galiléia se encontra não ali onde a Igreja está e sim onde ela não está.

      Nesta jornada, sejamos guiados pelos apóstolos Pedro e Paulo,  cuja festa celebramos neste domingo. Amém.

FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.

 

 


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