por Frei Aloísio Fragoso
Quem lê seus poemas começa a desvendar
este mistério.
Segundo um de seus amigos mais próximos,
Zeferino Rocha, "a obra poética de Daniel Lima aborda temas existenciais
cuja atualidade é perene. Entre estes temas tem lugar de destaque: a dialética
da vida e da morte, a fugacidade do tempo, o valor único dos instantes, o homem
como ser em viagem, esperança e desespero, presença e ausência, a dialética da
luz e das sombras, o problema da liberdade e da escolha, o misterioso mundo do
silêncio".
A simples menção dos assuntos, que ele
aborda dialeticamente, nos indica a sua atualidade para o momento pandêmico que
estamos enfrentando.
Por isso gostaria de alternar com ele
algumas das nossas próximas REFLEXÕES. Comecemos por um poema que expressa o
conflito maior que ele viveu, a decisão de viver enclausurado por mais de 40
anos enquanto versificava a utopia de correr mundo em busca do sentido
da vida.
SÚPLICA AOS SANTOS
ANDEJOS
Abraão, que andaste
terras,
Sem cansaço, sem
queixumes,
Patrono dos vagabundos,
Da fé tão pura, tão
limpa,
Que nunca se questiona
Nem se faz filosofia.
(.....)
Pela fé sempre levado
Pra diante para cima,
Céu bem claro ou noite
escura,
Abraão, meu santo andejo,
Que, se por fora eu não
ande,
Por dentro eu não pare
nunca.
(....)
E tu, José Carpinteiro,
Que eu chamo de S. José,
Tantas viagens fizeste
Com o Deus-Menino e
Maria,
Eles, tu, mais um
jumento,
E a fé que te sustentava.
(....)
José, carpinteiro santo,
Que nessa comprida fuga
Por anjo em sonho
assoprada,
Salvando a Virgem e o
Menino
Salvastes a salvação,
Te beijo o sapato e os
pés.
E tu, Francisco de Assis,
Árvore, peixe,
passarinho,
Luz do fogo, água do mar,
Tu, Chico dos meus
amores,
Que mendigo te fizeste,
Santo e malandro de Deus;
(....)
Roga por mim, viajeiro,
Que não sei largar
bagagem:
Tenho doze guarda-chuvas,
Vinte pares de chinelos,
Cinco mil e oitenta
livros,
Medo e preguiça demais!
Vós, ó santos peregrinos,
Andejos que em vida fostes,
Por livre escolha ou
destino,
Mas fiéis à vocação
(Que andar é coisa divina
Parar é que é perdição);
Andejas fazei-me as pernas,
O coração e os sapatos!
Tirai-me esta sonolência!
Sacudi-me esta preguiça!
Calçai-me vossas
sandálias
De peregrinos fiéis!
Pés dos santos
vagabundos,
Vagabundai os meus pés!
Pé. Daniel Lima
FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.
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