Retomamos o
assunto que ficou pendente em nossa última REFLEXÃO. Para não quebrar a unidade
do tema, violamos a sequência alternada de seus autores, o Pe. Daniel me cede
sua vez, com a condição de retornar na próxima.
Neste mês de
junho, celebramos a memória de três grandes santos canonizados pela Igreja,
extremamente populares. Vou começar pedindo que cada um deles se apresente
pessoalmente.
Primeiro, Sto.
Antônio, batizado com o nome de Fernando: "Não, Fernando, tu não procuras
a tranquilidade e o esquecimento, tu és uma alma selvagem, vieste forjar armas
para o combate" (de seus "Escritos"). A seguir S. João Batista:
"eu sou apenas uma voz que clama no deserto: preparai os caminhos do
Senhor" Cf. MC.1,3. Por fim, o Apóstolo Pedro: "Afaste-se de mim,
Senhor, eu não passo de um mísero pecador" Lc.5,8.
Por trás destas
humildes confissões, brilha a virtude da humildade e ofusca-se o pecado do
orgulho. No entanto, é preciso não confundir humildade com fraqueza. Quando
afirmamos que a primeira virtude dos santos é a humildade, há um pressuposto
que precede esta afirmação: sua humildade, na verdade, é ponto de partida para
correr atrás da verdadeira grandeza.
Quem não almeja ser grande e prefere refugiar-se em sua covardia, como se
humilde fosse, jamais conhecerá os segredos da santidade. A intenção dos santos
e santas, ao esvaziar-se de suas pretensas forças, era abrir espaço interior
para encher-se do poder de Deus. Daí resultava uma coragem indomável, frente a quaisquer situações e poderes deste
mundo.
Como Sto.
Antônio, diante do clero de Pádua, que andava relaxando seus deveres na defesa
dos pequenos: "vós que sois os pastores, estais dormindo, e é por isso que
os lobos atacam o rebanho". E, a seguir, em confronto com os usurários da cidade,
que oprimiam os mais pobres: "vossas vestes tem a cor púrpura porque estão
tingidas com o sangue dos pobres. Vós tendes um cofre forte em lugar do
coração. Vosso castigo será terrível, pois quem bebe o sangue dos pobres é
vassalo do demônio". E quando lhe vieram reclamar, que suas pregações
estavam causando escândalo, ele respondeu: "a Verdade produz muitas vezes
o ódio. Por isso muitos, para não serem odiados, tapam a boca com o manto do
silêncio. (....) Contudo, nunca se deve faltar com a Verdade, mesmo à custa de
escândalos".
Assim também como
S. João, perante os fariseus e doutores da lei: "raça de cobras venenosas,
quem vos ensinou a fugir da ira que há de vir? Convertei-vos e produzi frutos
da Verdade" MT.3,7.
De modo
semelhante, S. Pedro enfrenta os Sumos Sacerdotes, que o mandaram prender por
pregar em nome de Jesus: "Este Jesus, que condenastes à morte, é a pedra
que vós, os construtores, rejeitastes, e tornou-se a pedra fundamental"
Atos, 4,11.
Imaginemos a
visita desses três profetas ao nosso país de agora, a este Brasil pandêmico,
polêmico, assustado com os gritos que chegam do mais alto comando:
"salve-se quem puder!". A quem S. João chamaria de "raça de
cobras venenosas"? A quem Sto. Antônio acusaria de "ter um cofre
forte em lugar do coração"? A quem S. Pedro imputaria o crime de
"destruir a pedra fundamental, para erguer um Templo de forças
diabólicas?".
Embora estas
perguntas importem, há outra mais importante e urgente: onde podemos encontrar
novos santos e santas, capazes de nos devolver a confiança no futuro? Seria
perda de tempo procurar figuras messiânicas individualmente. A santidade não é
privilégio de alguns poucos, é vocação universal. Em vez de novos Messias,
precisamos da imensa energia espiritual que reside na unidade de milhões de
pessoas bem intencionadas. É aí que vamos descobrir os novos sinais luminosos
de santidade: quando ouvimos a notícia de que,
dos profissionais de saúde mortos, enquanto cuidavam de enfermos do
COVID 19, no mundo inteiro, 30% são do Brasil, ficamos indignados, por uma
parte, e, por outra, podemos nos orgulhar de tantos santos e santas. Assim
também, quando escutamos as vozes de muitos companheiros que bradam, de
público, contra os atentados aos nossos direitos inalienáveis, sem temer as
consequências. Eles falam por nós, cumprem uma missão profética, à maneira dos
antigos profetas bíblicos. E mais ainda, quando assistimos ao sacrifício incessante e cotidiano de
milhares e milhares de pessoas anônimas, entregues à tarefa de fortalecer outro
tanto de pessoas entristecidas e desesperançadas.... Estamos tendo a garantia
de que, através delas, Deus se encontra em nosso meio. E por isso estamos
salvos.
Por fim, para
encerrar esta nossa reflexão, pedimos emprestadas palavras de Sto. Antônio, o
mais popular dos santos canonizados pela Igreja: "CESSEM AS PALAVRAS E
FALEM AS OBRAS". Amém.
FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano,
coordenador da Tenda da Fé e escritor.
Querido Frei Aloísio, sempre sábias e proféticas suas palavras.
ResponderExcluirQuerido Frei Aloísio suas palavras são sempre sábias e proféticas.
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