por Marcelo Barros
o contexto desta semana que a ONU consagra ao cuidado do ambiente, no aniversário de cinco anos da sua carta sobre o cuidado com a Terra, o papa Francisco lança a proposta de um ano dedicado a aprofundar a responsabilidade de todos nós com a natureza.
Neste ano, o 05 de
junho, que a ONU consagra como “dia
internacional do ambiente” encontra o Brasil em plena quarentena. É verdade
que o governo federal além de estimular as mineradoras que têm poluído as
águas, destruído rios e provocado os maiores desastres ambientais, ainda
promove na Amazônia o maior desmatamento da floresta amazônica nas últimas
décadas. Apesar disso, as notícias do
Brasil e do mundo é que a natureza tem aproveitado este tempo de quarentena
humana para se renovar. Desde décadas, o ar em nossas grandes cidades nunca foi
tão limpo. A ONU afirma que, apenas dois ou três meses de menos poluição da
atmosfera foi suficiente para fechar o
buraco de ozônio que ameaçava o seres vivos com diversas doenças. Por todo o
mundo, pássaros, peixes e aves parecem se sentir mais seguros de aparecerem no
circuito urbano. Este fenômeno pode ser visto positivamente como sinal de que a
natureza se renova e pode também ser interpretado como o sinal claro de que os
animais e a própria terra não têm mais como se defender. E sabem que assim que
a pandemia começar a ceder, tudo tende a voltar à normalidade.
Há alguns anos, a Global
Food Print Network e outras entidades científicas que seguem a situação de
saúde do Planeta vêm nos alertando para o Earth
Overshoot Day. Esse seria o dia em que os limites de sustentabilidade da
Terra seriam ultrapassados e o equilíbrio da vida no planeta, totalmente
ameaçado. Em alguns pontos, já atingimos este ponto do não retorno. No momento
atual, para atender às necessidades da humanidade, precisaríamos de mais de uma
Terra. Garantir ainda o que resta dessa sustentabilidade da Terra é a premissa indispensável
para resolver os outros aspectos da crise: social, alimentar, energética,
econômica, cultural.
Infelizmente, governos e instituições internacionais
continuam insistindo no modelo capitalista depredador. A cada ano, os governos
destinam somas imensas para armamentos e guerras. O Banco Mundial faz qualquer
coisa para salvar bancos e multinacionais irresponsáveis que perderam dinheiro
no cassino financeiro da imprevisibilidade. Há mais de dez anos, a imprensa denunciava:
"Esse dinheiro do povo, dado aos
ricos, “é um valor 40 vezes maior do que os recursos destinados a combater as
mudanças climáticas no mundo e a pobreza” (Le Monde Diplomatique Brasil, maio de 2009, p. 3).
Para quem vive a busca espiritual, o cuidado amoroso com a
Mãe Terra, com a água e com todo ser vivo fazem parte do testemunho que Deus é
amor, está presente e atuante no universo. Apesar de todas as agressões e
crimes cometidos contra o Planeta, ainda podemos salvá-lo. Em 2003, a UNESCO
assumiu a “Carta da Terra”, como instrumento educativo e referência ética para
o desenvolvimento sustentável. Participaram ativamente de sua concepção
humanistas e pensadores do mundo inteiro. É preciso que a ONU assuma e ponha em
prática esse documento que qualquer pessoa pode ler e comentar na internet
(basta consultar: “carta da terra”).
É o esboço de uma “declaração dos
direitos da Terra e da vida” e todos nós precisamos defendê-los.
Há exatamente cinco anos, o papa Francisco dirigiu a toda
humanidade uma carta-encíclica sobre o
cuidado com a Terra, nossa casa comum: a Laudato si, palavras inspiradas no
cântico com o qual São Francisco louva a Deus por todas as criaturas. Agora, o
papa propõe um ano especial no qual se releia a sua carta e se renove de modo
mais profundo a aliança de toda a humanidade para cuidar mais e melhor da Terra.
Afirma que as religiões e tradições espirituais devem se unir para fortalecer
essa aliança de todos pela vida. Em cada tradição espiritual, precisamos explicitar
e desenvolver o mais profundamente possível uma verdadeira veneração pela Terra,
pela Água e por todos os seres vivos, como sacrários ou ainda ícones vivos do
Espírito Divino. É preciso que a vida pós-pandemia seja norteada pela Ecologia
Integral que une o cuidado do ambiente, a justiça social e a espiritualidade da
paz e da amorosidade universal. Como diz uma oração que os cristãos das Igrejas
mais antigas cantam em cada celebração
eucarística: "Os céus e a terra
estão cheios da tua glória, ou seja, da tua presença amorosa".
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