por Kinno Cerqueira
Maria,
Nossa amizade não é tão antiga. Durante a minha
infância, não nutri tanta simpatia por ti nem te olhei com ternura. Ocorria-me
como repugnante que tu, sendo mãe dos pobres, habitasses os altares portentosos
que se erguiam em teu louvor. E que, elevada à altura das frontes humanas,
recebesses louvores e glórias, cantos e palmas, petições e promessas, mimos
propícios para a satisfação de teu ego feudal.
Com o passar do tempo, comecei a perceber que os
mimos com os quais te acercavam eram, na verdade,
expressão dos desejos egóicos dos que se queriam deuses. Dor inaudita rasgou-me
o coração quando da descoberta de que aqueles altares não eram tua morada, mas
teu tenebroso cativeiro.
Agora, Maria, descortinava-se diante de mim tu
mesma, nua, suja, indigente, camponesa. Descobria teus verdadeiros
altares: os corpos mutilados pelas injustiças e as vozes que se erguem
destemidas em prol de um mundo novo.
Maria,
Sem mimos nem panos nem altares, a nossa amizade
nasceu qual clandestina açucena a romper a terra seca para embelezar o mundo.
Com ternura,
Teu amigo
Kinno Cerqueira é pastor batista, biblista e assessor do CEBI (Centro de
Estudos Bíblicos) na área de estudos bíblicos
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