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sábado, 30 de maio de 2020

TEUS ALTARES: CONFISSÃO A UMA AMIGA



 

por Kinno Cerqueira

 

 

Maria,

Nossa amizade não é tão antiga. Durante a minha infância, não nutri tanta simpatia por ti nem te olhei com ternura. Ocorria-me como repugnante que tu, sendo mãe dos pobres, habitasses os altares portentosos que se erguiam em teu louvor. E que, elevada à altura das frontes humanas, recebesses louvores e glórias, cantos e palmas, petições e promessas, mimos propícios para a satisfação de teu ego feudal.

 

Com o passar do tempo, comecei a perceber que os

mimos com os quais te acercavam eram, na verdade, expressão dos desejos egóicos dos que se queriam deuses. Dor inaudita rasgou-me o coração quando da descoberta de que aqueles altares não eram tua morada, mas teu tenebroso cativeiro.

 

Agora, Maria, descortinava-se diante de mim tu mesma, nua, suja,  indigente, camponesa. Descobria teus verdadeiros altares: os corpos mutilados pelas injustiças e as vozes que se erguem destemidas em prol de um mundo novo.

 

Maria,

Sem mimos nem panos nem altares, a nossa amizade nasceu qual clandestina açucena a romper a terra seca para embelezar o mundo.

 

Com ternura,

Teu amigo

 

 

Kinno Cerqueira é pastor batista, biblista e assessor do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) na área de estudos bíblicos


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