Por Marcelo Barros
Neste período
em que o mundo inteiro parou em quarentena obrigatória para evitar a
contaminação do coronavírus, as Igrejas cristãs têm sido chamadas a se unirem
na solidariedade a grupos mais vulneráveis. Além disso, o papa Francisco, o
patriarca Bartolomeu I, primaz das Igrejas Ortodoxas e pastores evangélicos do
Conselho Mundial de Igrejas buscam ajudar à humanidade a sair desta tragédia para
novas formas de convivência social. É preciso organizar a sociedade, a partir
do cuidado com a mãe Terra e toda a natureza.
Para este
trabalho, é indispensável que as Igrejas que se olhavam de longe e cada uma se
pensava como autossuficiente se conscientizem que precisam umas das outras. A
cada ano, desde os últimos anos do século XIX, algumas Igrejas cristãs
consagram os dias anteriores à festa de Pentecostes, portanto esta semana em
que agora estamos, à oração e a gestos proféticos pela unidade cristã. No
Brasil, a Semana de oração pela unidade é coordenada pelo Conselho de Igrejas
Cristãs (CONIC). Cada ano, é proposto um tema ligado à missão comum das Igrejas
no mundo. Neste 2020, o tema escolhido e com subsídios preparados por cristãos
da ilha de Malta é Gentileza gera
Gentileza. Este tema se baseia em um texto do livro dos Atos dos Apóstolos.
Ali é narrado que, quando Paulo foi levado como prisioneiro para Roma, afim de
ser julgado, o navio no qual ele viajava naufragou. Paulo e um grupo de
prisioneiros conseguiu escapar desembarcando em uma ilha desconhecida que
encontraram no caminho. Os habitantes da ilha os acolheram com toda
hospitalidade e gentileza (At 28, 2). A partir desta história que está na mesma
Bíblia, lida pelas mais diferentes Igrejas, esta atual Semana da Unidade propõe
exercitarmos em nossas vidas essa atenção aos irmãos e irmãs que precisam da
nossa hospitalidade e gentileza.
Atualmente,
existe o isolamento provocado pela pandemia do Coronavírus e existem
isolamentos forçados pelo modo como o mundo se organiza. A ONU acaba de
reconhecer que 1% da humanidade se acha com o direito de se apropriar e
usufruir de 90% de todas as riquezas do planeta, enquanto deixam os outros 10%
para a multidão dos 99% dos habitantes da terra. Para isso ser possível, os
países globalizam o comércio. Assim os ricos ganham mais. No entanto, criam
barreiras para conter a horda de pobres e famintos que tentam sobreviver no
mundo dos ricos. Em todos os continentes, se erguem muros que separam povos.
Atualmente, na América do Norte, um muro imenso separa os Estados Unidos do
México. Na Europa, uma muralha foi construída para isolar a Espanha do Marrocos
e outro muro separa a Grécia da Turquia. No Oriente Médio, a Cisjordânia ainda
palestina é separada por muro de Israel. Na Ásia, um muro eletrificado divide
em dois o mesmo país e separa a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Assim, se
contam pelo mundo 18 muros que não reconhecem o outro ser humano como irmão. De
acordo com a Declaração dos Direitos Humanos, assinada pela ONU em 1948, todo
ser humano teria direito de migrar de um país a outro. Hoje a solidariedade aos
migrantes, em países como a Itália, pode ser crime passível de prisão. Por
isso, o tema desta Campanha da Fraternidade sobre gentileza como proposta
cristã se torna um grito profético: Gentileza gera gentileza.
No Brasil, nestes dias, alguns governantes e empresários
preferem salvar o lucro do comércio, mesmo à custa de milhares de vidas
humanas. O presidente e os cristãos que o cercam condenam milhares de
brasileiros, principalmente os mais pobres e vulneráveis à morte, enquanto
gritam: Deus acima de todos! Esta Semana da Unidade vem nos recordar uma
palavra de Simone Weil, intelectual francesa da primeira metade do século XX.
Ela afirmava: “Eu reconheço quando alguém
é de Deus não por me falar de Deus e sim pelo modo como trata as outras
pessoas”.
Esta Semana de
oração pela Unidade dos Cristãos nos interpela a sairmos de nosso fechamento
eclesiástico. Pede de nós reconhecer os cristãos e cristãs de outras tradições
como irmãos e irmãs. Recomenda termos a gentileza como estilo de vida. E nos
chama à unidade, mesmo em meio a todas as diferenças. O projeto é que
obedeçamos ao mandamento de Jesus de sermos unidos. Que as Igrejas respeitem a
autonomia de cada uma, mas construam juntas uma comunhão. Assim, poderão
testemunhar ao mundo a gentileza de Deus conosco e trabalharmos pela justiça,
paz e defesa da Terra e da natureza criada e habitada pelo Amor Divino.
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