por Frei Aloísio Fragoso
Não se conclua daí que conventos e
mosteiros são lugares de fuga e ociosidade. Absolutamente. Eles possuem uma
História milenar como centros de espiritualidade, onde se tenta vivenciar a
procura do Absoluto, a sede de Deus. Mas, como acontece em toda parte em que
seres humanos se reúnem, uns vivem de
verdades e outros de aparências, uns se tornam santos, outros permanecem
farsantes. Então, que os santos sejam o critério de avaliar sua autenticidade,
e os farsantes, critério para evitar mistificação. Sem mistificação, podemos chegar a uma conclusão simples e
justa: todas essas estruturas protetoras são apenas um espaço, entre muitos
outros possíveis (a família, de modo particular) que se oferecem a quem busca
aperfeiçoamento e santificação.
Ampliemos nosso entendimento para aplicar
estas idéias ao COVID - 19.
Conforme o pensamento dos grandes
místicos, ainda que nosso corpo permaneça onde está, podemos conduzir nossas
almas para todos os lugares, podemos projetar mundo afora pensamentos,
sentimentos, desejos, emoções. Por isso nossos pensamentos afetam outras
pessoas, assim como somos afetados pelo que elas pensam. Imaginemos bilhões de
mentes humanas convergindo, na mesma hora,
para um mesmo e único e intensíssimo desejo: a cura do coronavírus. Um
fenômeno como este possui um inaudito poder de superação.
É assim que as almas se interpretaram. Um
espaço físico cheio de gente está também cheio da extensão de suas mentes e de
suas almas. Quando um ora, toda a humanidade está em oração. Quando um eleva os
braços para Deus, milhões de braços estão elevando-se. Na Epístola aos
Coríntios, S. Paulo compara a Igreja a um corpo humano e escreve "se um
membro sofre, todo o corpo sofre; se um membro se alegra, o corpo inteiro se
anima" 1Cor.12,26.
A tragédia do Coronavírus nos traz a
oportunidade de viver esta mística de modo real e convincente. Sob a pressão de
uma necessidade comum, vencemos nossas repulsas naturais, quebramos o gelo que
nos isola e alcançamos razões de sobra para acreditar no incomensurável poder
da oração, irradiando-se no planeta, como uma luz difusa, como uma energia
contagiante, para além de fronteiras e diferenças.
Deixemos de incomodar nossos olhos com a
visão de tantas futilidades e passemos a olhar o mundo com os olhos de Deus, pois, a exemplo Dele,
se quisermos transformá-lo, temos primeiramente de amá-lo: "Deus amou o
mundo de tal maneira que lhe deu seu Filho Único, mas Este não veio julgar e
condenar e sim salvar o mundo" Jo. 3,16ss.
Amém.
FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da
Tenda da Fé e escritor.
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