Por Frei Aloísio Fragoso
Logo mais iremos cantar com especial
emoção "A Nós Descei Divina Luz".
Para nossa sensibilidade religiosa, foi
uma dor na alma não ter podido celebrar festivamente a PÁSCOA do Senhor, há
semanas atrás, assim como o é, neste próximo domingo, não poder celebrar
PENTECOSTES. Isso sob o olhar da tradição, porque, sob a luz da Fé, nunca
tivemos uma oportunidade tão viva de estar em comunhão com o Senhor morto e
ressuscitado, bem como aguardar, ardentemente, a vinda do Espírito Santo, com
seus 7 dons.
Desta vez, no entanto, em lugar de manter
o estilo de nossas seguidas "REFLEXÕES", gostaria de sentir-me diante
de uma grande assembléia litúrgica, e proferir a seguinte homilia:
Queridos irmãos e irmãs. Hoje não quero
lhes falar "sobre" o Espírito Santo. Dele não sei nada, nada que me
faça capaz de dizer quem Ele é, como Ele é, e outras curiosidades teológicas.
Quero, antes, convidar vocês para falar "ao" Espírito Santo,
suplicar-lhe que venha com urgência até o nosso cenáculo, pois estamos isolados
e amedrontados, como estavam os apóstolos, depois da Ascensão de Jesus. O
Espírito desceu sobre eles, em forma de línguas de fogo, e ficaram todos
transfigurados com a sua presença. É isso o que queremos: ser transfigurados.
Alguns teólogos contemporâneos vêem no
Espírito Santo a expressão feminina da Trindade. O Pai é o Amante. O Filho é o
Amado. O Espírito Santo é o Amor. E este Amor se manifesta com palavras do
gênero feminino, como ternura, misericórdia, gratuidade, mansidão, paciência, e
assim por diante. Usemos então a linguagem do coração.
Quando observou a tristeza dos apóstolos,
na Última Ceia, por causa da sua despedida, Jesus prometeu-lhes enviar o
Espírito Santo. Este viria esclarecer suas mentes sobre tudo que eles não
tinham compreendido até aquele momento. E sua tristeza se converteria em grande
alegria; em outras palavras, seriam novamente transfigurados.
O Espírito veio de fato, mas não agiu como
em um passe de mágica, não! Pelo que aconteceu logo a seguir, podemos imaginar
quais teriam sido as suas palavras: "o que vocês estão fazendo aí,
trancados como crianças medrosas?
Levantem-se e andem!". Para eles tinha passado o tempo do
isolamento, pois o vírus dos fariseus, dos doutores da lei, dos sacerdotes do
Templo, de Pilatos, de Herodes e dos Cesáres romanos já não fazia nenhum efeito
nocivo nos seus seguidores. Eles estavam vacinados pela Fé na Ressurreição.
Quanto a nós, não chegamos ainda a este ponto, temos que esperar mais algumas
semanas, para termos direito também à nossa transfiguração. Contudo, esta
começa a partir de nós mesmos, da nossa abertura, da nossa fidelidade, da nossa
perseverança.
Esta semana fiquei impressionado com a
interpretação de uma jovem amiga ao otimismo que perpassa em nossas
"REFLEXÕES": "entendo este otimismo, frei, como o olhar do
Espírito Santo sobre as realidades humanas". Uma excelente idéia esta, que
nos leva a perguntar: como podia ser diferente o seu olhar sobre Algo que tem
origem Nele mesmo? Por outra parte, este olhar divino nos ilumina e estimula a
realizar as mudanças indispensáveis, a fim de que seus dons não sejam
inutilizados pela nossa passividade.
Ao rezar com a Igreja "Enviai o vosso
Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da terra", estamos
afirmando nossa fé de que Ele penetra em todos os seres, em todas as almas.
Isso Ele faz, segundo outras passagens bíblicas, à maneira de um fogo ardente,
de uma água corrente, de uma brisa suave. Não há nenhum espaço que não possa
ser ocupado pela sua presença, exceto ali onde ela seja rejeitada.
Contudo, não basta proclamar a ação global
do Espírito Santo. Ele quer operar em cada um de nós, particularmente.
"Vós não sabeis que sois templos do Espírito Santo e que o Espírito de
Deus habita em vossos corpos?" 1Cor.3,16.
Este nosso frágil corpo, capaz, no
entanto, de imaginar as mais belas fantasias, de criar idéias poderosas, de
realizar grandes façanhas, por vezes desfalece, fraqueja, desanima, deprime-se,
entrega os pontos. Há momentos em que ele é contagiado por um vírus chamado
"tédio de viver neste mundo" e tem vontade de isolar-se ou
desaparecer. É aí que temos de lembrar onde se encontra o nosso poder de conversão: o Espírito de Deus
habita em nós, seus templos. Nele tudo se renova. Nele tudo se refaz!
Que Ele venha visitar-nos com força total.
Que venha agora, quando somos humilhados e enfraquecidos por um sentimento de
impotência, uma sensação de que estamos perdendo os rumos e as rédeas do nosso
destino. Que, entre outras coisas, livre-nos dessa crosta de
insensibilidade e hipocrisia, que trava
nossa confiança no futuro do país. Amém? Não! Ainda não! Resta fazer uma
advertência: nada de desânimo! Nada de pânico! Além da quarentena, precisamos
manter a calma e o foco. A calma está em nós, o foco é Ele, o Espírito Santo de
Deus. Como tem acontecido numerosas vezes no passado, Ele só espera o momento
de nos surpreender outra vez com seu Fogo Incandescente. Apressemos este tempo
de espera, pelo poder da Fé, suplicando com Santo Agostinho:
"Oh como és grande nas coisas grandes
e profundo nas coisas pequenas! Jamais te afastaste de nós, nós é que penamos
para retornar a Ti. Age em nós, Espírito Divino! Agora! Agita-nos! Convoca-nos!
Dá-nos tua Luz! Faze-nos sentir teu poder e tua doçura! Então poderemos nos
amar e correr alegres pelas verdes pastagens!"
Amém!
FREI
ALOÍSIO FRAGOSO é frade franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.
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