por Frei Aloísio Fragoso
No próximo domingo celebraremos a festa de
Pentecostes. Eu não vacilaria um instante em invocar o Espírito Santo para
término e coroamento destas "REFLEXÕES", que chegam hoje ao sugestivo
número de 33. Sem esta Luz Sobrenatural, fazendo a ponte entre mim e os
leitores, entre o dom da palavra e o dom do entendimento, tudo o que está
escrito não vai além da pequenez humana e será esquecido em pouco tempo.
VINDE, ESPÍRITO SANTO!
Se pedirem uma definição Dele, não haverá
resposta. Nós que mal conhecemos os
segredos do nosso espírito, como poderíamos definir o Espírito Divino? Contudo
se, desinteressados de saber quem Ele é, perguntarem o que Ele faz, com certeza
numerosas testemunhas se apresentarão prontas a declarar: "algumas coisas
já me aconteceram que não encontram explicação, a não ser crendo que um Ser
Superior entrou na minha vida."
Quando nos faltam palavras determinativas,
recorremos a metáforas, imagens, alegorias. Assim, no livro do Gênese, a ação
do Espírito Santo é simbolizada pelo substantivo "ruah", que
significa vento, hálito, sopro. Já no Evangelho de Mateus 3,16, esta presença é
representada na figura de uma pomba. Por fim, no dia de Pentecostes, Ele
aparece aos Apóstolos em forma de línguas de fogo. Mergulhemos na simbologia
destas imagens. SOPRO VITAL, uma vez
acionado, dá origem a toda nova vida. FOGO, queima, destrói, mas também
ilumina, purifica, transforma. E a SUAVE POMBINHA, simbolizando o anseio maior do espírito
humano, a Paz. O Espírito Santo está, pois, no início, no percurso e no fim da
História Universal.
Diante desta visão de um Espírito em
constante movimento, temos direito a levantar algumas questões da ordem do dia:
onde é que Ele se encontra neste momento? Como perceber seu sopro poderoso
neste nosso planeta mal-assombrado pela presença de um fantasma tenebroso?
Talvez Ele esteja abrindo nossos olhos
para algumas verdades que, de tão cegos, surdos e mudos, em tempos normais, nós só conseguimos
enxergar em situações de grandes crises. Antes de avaliar estas verdades,
consideremos o seguinte: não devemos esperar, da parte do Espírito Santo,
consolações lamuriosas, de quem muda nosso choro em risos, fazendo-nos esquecer
suas causas. Ele quer nossa cura definitiva e isso não é possível por meio de
paliativos e sim de mudanças radicais, mormente quando se trata de extirpar
pela raiz as causas morais de nossas enfermidades.
Não temos o controle dos acontecimentos da
História, sejam eles produzidos por mãos humanas, sejam desencadeados pelas
forças da natureza irracional. A parte que depende de nós, de nossa fé,
coragem, iniciativa, é um instantezinho de nada, um pequenino pingo d'água
perdido nos oceanos de milhões de anos. Embora devamos assumir nossa tarefa de
operários em construção, o fio condutor
da História está nas mãos de um Ser Supremo que garante seus resultados.
Em nosso brevíssimo tempo de ver as
coisas, só enxergamos o COVID 19 como ele de fato aparece aos nossos olhos, uma
enorme e escura catástrofe. No entanto, como ele será avaliado pelas futuras
gerações? Talvez elas venham a provar que o coronavirus não foi a causa
incipiente de tantas dores e mortes e sim consequência do nosso modo de viver e
organizar o mundo. Por outro lado, poderão ser generosas conosco, e
absolver-nos da culpa, pelo fato de que muitos de nós arriscaram ou até
sacrificaram suas vidas, e, com isso, apressaram a descoberta da vacina
salvadora, poupando os nossos descendentes de uma terrível pandemia que, se
hoje nos surpreendeu, poderia surpreendê-los, algum dia.
Se o modelo que escolhemos para o
desenvolvimento humano tivesse priorizado, em lugar do poder e do prazer, o bem
real das pessoas, sua saúde física e mental e as relações harmoniosas entre
elas, talvez já tivéssemos descoberto os meios eficazes de superar esta e outras pandemias possíveis. Na última hora,
olhamos para trás e temos de reconhecer: como somos pequenos, nós que nos
julgávamos reis onipotentes da Criação!
Segundo um dos relatos do livro do Gênese,
após criar diversas categorias de seres, Deus contemplou sua obra e "viu
que tudo era muito bom". Repete esta expressão até chegar a vez de criar o
homem e a mulher. Aí Ele se cala. Podemos entender esta simbologia como um
aviso de que nós, seres humanos, ainda não fomos criados, nosso processo de criação ainda não terminou,
ainda não "somos muito bons" porque fomos criados para a perfeição e
agora somos nós os responsáveis de levá-lo adiante, até o seu acabamento. Como
é normal na gestação e no parto de novas vidas, é inevitável que haja riscos,
medos e sofrimentos.
Há um profundo significado teológico em
algumas cenas da Paixão e Ressurreição de Jesus. Depois de flagelado,
escarnecido e coroado de espinhos, Ele é levado a Pilatos e este exclama:
"ECCE HOMO!" (Eis o homem!). Quando, após a Ressurreição, o apóstolo
Tomé o reconhece, crê e exclama
"MEU SENHOR E MEU DEUS!", (como se dissesse "Eis o
Deus!"), Jesus aponta os sinais de suas chagas e lhe diz "olhe aqui,
toque aqui, por que duvidaste?". Enquanto homem e enquanto Deus, Ele se
faz reconhecer nas marcas do sofrimento humano. Que significa isso? Ele está
divinizando o nosso sofrimento? Não! Na verdade, Ele está livrando-nos do desespero, com a possibilidade
sobre-humana de transformar sofrimento em provas de amor.
Há muita coisa ainda que precisamos
entender sob a Luz do Espírito Divino. Voltaremos a este assunto antes do dia
de Pentecostes. Até lá, vamos repetir, como um mantra, de face voltada para o
nosso mundo enfermo: VINDE, ESPÍRITO SANTO....
Amém.
Amém. FREI ALOÍSIO FRAGOSO é frade
franciscano, coordenador da Tenda da Fé e escritor.
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